POR PAULO ETCHICHURY, DA SOMAR METEOROLOGIA
O ano de 2016 começa sob os efeitos do fenômeno El Niño, que atua desde o início de 2015. O fenômeno foi classificado entre os três mais fortes das últimas três décadas. O El Niño deve perder força no decorrer do segundo trimestre (abril, maio e junho).
Durante o inverno, teremos um período de transição climática, indicando que neste ano o frio deve chegar mais cedo. Para o segundo semestre de 2016, os modelos climáticos apontam para o início de uma nova fase de águas frias sobre o Oceano Pacífico equatorial, com indicativo da provável configuração de um episódio de La Niña.
O último La Niña aconteceu entre 2010 e 2011. Para os que consideram difícil haver uma mudança tão rápida de um fenômeno para outro, lembramos que os El Niños de 1997/1998 e de 1982/1983, considerados tão fortes como o atual, foram substituídos por um La Niña no segundo semestre.
O clima sinaliza muitas variações em 2016. Para uns, as condições melhoram, enquanto para outros, pioram. O fato é que todos acabam sendo afetados por essas variações do clima de forma direta ou indireta.
O produtor rural, em especial, deve ficar ainda mais atento ao clima, pois as condições de desenvolvimento das lavouras do próximo ano devem ser diferentes das observadas nos últimos anos. Em 2016, cada estação do ano estará sob a influência de um fenômeno climático diferente.
Situação segue complicada no Matopiba. Os principais efeitos do El Niño neste verão estão associados com períodos mais chuvosos no Sul e períodos secos no Nordeste, principalmente no Sertão e no Agreste. Enquanto isso, para o Sudeste e o Centro-Oeste, o verão com El Niño apresenta chuvas irregulares e temperaturas mais elevadas.
No caso específico das culturas de verão, o El Niño favorece as lavouras na Região Sul e também em Mato Grosso do Sul, pois mantém um padrão de chuvas mais regulares, mas, sobretudo, porque reduz o risco de estiagens e secas severas, que é sempre a principal ameaça para essa região.
Para o Centro-Oeste e Sudeste, a expectativa é que o verão mantenha um padrão de chuvas irregulares e, em geral, abaixo da média. O El Niño diminui o risco de períodos de chuvas fortes e duradouras, conhecidos como “invernadas”, o que atrapalharia a colheita.
Já as lavouras da região do Matopiba (que engloba áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) sem dúvida são as mais penalizadas pela atuação do El Niño, pois, além de atrasar, choveu pouco em novembro e dezembro.
No restante do verão, não muda muito, com chuvas irregulares e abaixo da média. O único ponto favorável está associado ao fato de que mesmo as pancadas de chuva devem ser mais concentradas, reduzindo o risco de longas janelas de tempo seco na fase de desenvolvimento das lavouras, que, por sinal, foi o principal problema nas duas últimas safras.
Período de enfraquecimento. A principal consequência em relação ao enfraquecimento do El Niño está associada com a queda da temperatura. O outono de 2016 deve ter temperaturas mais baixas que no outono passado. O outono de 2015 foi anomalamente quente por causa do El Niño.
Para os Estados do Sul do país, já se pode esperar algumas ondas de frio a partir de maio, o que aumenta o risco de geadas em junho. Essa condição representa um aumento do risco para as lavouras de milho de segunda safra (safrinha) do Paraná e de Mato Grosso do Sul.
Condição típica beneficia lavouras. Passa a prevalecer um padrão mais típico da estação, que representa uma condição de mais frio para o sul do Brasil e um período seco mais caracterizado para o Sudeste e o Centro-Oeste.
As culturas de inverno serão beneficiadas com essa mudança do clima. Em vez de excesso de chuva e calor atípico como em 2015, no próximo inverno deve haver uma redução das chuvas, temperaturas mais baixas e ondas de frio, como é típico dessa estação. Por enquanto, não há previsão de frio extremo e inverno rigoroso.
Indicativo dos efeitos do La Niña. Muito provável que a partir da primavera de 2016 vamos começar a sentir os primeiros efeitos do fenômeno La Niña, caracterizado pelo prolongamento do frio e pela redução das chuvas no sul do Brasil.
Já o Sudeste e o Centro-Oeste devem enfrentar um prolongamento do período seco e retardamento do retorno das chuvas de verão. Ou seja, diferentemente dos últimos anos, o período seco de 2016 na região do Brasil central deve ser mais intenso e mais duradouro.
Clima deve favorecer o trigo. Além da posse do novo presidente Mauricio Macri, o clima também promete grandes alterações em 2016 na Argentina.
Por enquanto, a presença do El Niño favorece as lavouras de verão, com chuvas mais regulares e redução de estiagens. A partir de abril-maio, o enfraquecimento do El Niño leva para um cenário de redução dos excessos de chuva e redução da temperatura, com indicativo de um inverno mais frio que o observado em 2015, que foi atipicamente chuvoso e quente, devido à presença do El Niño.
A grande e mais sensível mudança deve ocorrer com a provável instalação do fenômeno La Niña no decorrer do segundo semestre de 2016.
O La Niña prolonga as condições do inverno e traz uma sensível redução das chuvas. Em um primeiro momento, isso beneficia as culturas de inverno, especialmente a lavoura de trigo, mas, na sequência, o clima mais seco pode comprometer a instalação das lavouras de verão (milho e soja). Lembrando que, historicamente, a Argentina sofre com problemas de seca em anos de La Niña.