Frigorífico da Bahia inicia o abate de jumentos para exportação

Um frigorífico instalado há pouco mais de dois anos no município de Miguel Calmon, município localizado no Piemonte da Chapada Diamantina, a 355 quilômetros de Salvador, começou nesta segunda-feira (11), o abate de jumentos, que terão o couro exportado para a China. No primeiro dia de trabalho nesse tipo de atividade, mais de 300 animais foram abatidos.

A atividade é licenciada pelo Governo do Estado e nesta segunda-feira, quatro veterinários da Secretaria da Agricultura acompanharam o abate dos primeiros jumentos, com o objetivo de conferir se todas as recomendações técnicas estavam sendo cumpridas. Logo após a fiscalização, os funcionários do frigorífico continuaram a atividade que vai durar toda a segunda-feira.
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Além do couro, outras partes do jumento vão ser aproveitadas no mercado da Bahia, segundo o gerente geral do frigorífico, Israel Augusto. “A carne do jegue abatido aqui está sendo doada para o zoológico de Salvador, que vai alimentar grandes animais. O resíduo restante vai ser transformado em ração animal, em uma indústria especializada”.

Mas os chineses não vão usar o couro do jumento para ser curtido e transformado em produtos como sapatos, bolsas ou similares. Em laboratórios especializados, é feita a raspagem da parte posterior do couro, para a produção de medicamentos e de alguns cosméticos, seguindo uma tradição da cultura milenar chinesa, em extrair esses produtos dos jumentos. “Na China,  a quantidade de jumentos é muito pequena para o que eles necessitam”, explica o Israel Augusto.

A portaria do governo é clara e impede que a carne de jegue seja usada para o consumo humano, mesmo, segundo Israel, isto ser possível do ponto de vista nutricional. “A portaria recomenda que não haja consumo humano da carne de jumento por questões culturais e isso não vai ser feito aqui”, garante o gerente.

jegue-rosto-252x420A reportagem acompanhou, com exclusividade, o primeiro dia de abate de jumentos. O Frigocezar está instalado a 12 quilômetros do centro de Miguel Calmon e tem grande tradição no abate de gado. A crise econômica diminuiu bastante a produção de gado de corte e afetando diretamente os empregos do abatedouro que tinha cerca de 130 funcionários e hoje tem 86.

Ainda sem ter fechado todos os cálculos sobre os lucros da nova atividade, o gerente estima que o faturamento do abatedouro deve aumentar em torno de 40% com a exportação do couro de jegue para a China.

O abate de jegue vai acontecer apenas às segundas-feiras e isso já fez aumentar a perspectiva de criação de cerca de 20 vagas de trabalho, de acordo com os diretores. A expectativa é um aumento desse número, caso o Brasil consiga atender à demanda de exportação para a China.

O local usado para o abate é o mesmo onde o gado é abatido. Para isso, há uma limpeza completa, segundo o gerente geral do frigorífico, por isso, estamos trabalhando apenas na segunda-feira com os jegues. O procedimento é praticamente igual para a condução dos jegues até o ponto onde são abatidos. Eles ficam confinados em currais durante 24 horas, apenas com ingestão de água. Depois são conduzidos através de corredores para as proximidades do abatedouro.

A partir de um determinado ponto, só segue um jumento por vez. “O animal não sofre para morrer, pois ele chega ao um ponto do corredor e logo é atingido por uma forte descarga na nuca, entrando em estado de coma”, explica o veterinário Moacir Araújo. “É muito pouca a diferença do abate de bovinos”, diz o veterinário.

A reportagem constatou que os jumentos são conduzidos em grupo até um determinado ponto do um grande corredor, onde aguardam a hora do abate.

Dali, um por um segue para uma área isolada, onde é feito um disparado na nuca para “insensibilizar o animal e evitar que ele sofra na hora da sangria”, explica Moacir. Antes do abate, são feitos exames de sangue e o animal passa por um completo processo de limpeza do couro, através de um banho. Só são abatidos os jumentos que pesem, no mínimo, 100 quilos.

Repercussão

A morte de jumentos em frigorífico é o assunto mais comentado nas emissoras de rádio de Miguel Calmon e região, mas a população ainda não sabia, até a presença da imprensa no local, o que iria ocorrer e qual a finalidade do abate.

Entre os moradores de Miguel Calmon, muitos demonstram grande sentimento pelo abate dos jegues, considerados “animais sagrados, usados pela família de Jesus Cristo e que não deveria ter um fim tão triste”, lamentou a dona de casa Rosa Maria. Outros são completamente a favor, como Jerônimo Batista, que comparou o abate com o que ocorre com o gado. “É a mesma coisa. Se tivesse que ter pena a gente ia comer o quê?”, indaga, ainda sem saber que o jegue abatido em Miguel Calmon não terá a carne consumida por humanos.

Os diretores do frigorífico dizem que o anúncio do abate de jumentos gerou controvérsia, mas “quando as pessoas passarem a tomar conhecimento do objetivo econômico, inclusive com a geração de empregos, a opinião vai mudar”.

Origem

jegues-corredor1Os jumentos abatidos no Frigocezar têm origem de vários criadores da região, que chegam a receber R$ 70,00 por cabeça, caso o animal seja levado ao frigorífico. “A gente paga um pouco menos se tiver que ir buscar o jumento em alguma propriedade”, explica o gerente Israel.

Até o fim de julho, primeiro mês em que a pele será exportada, o frigorífico espera ter abatido cerca de três mil jumentos. E com o aumento da oferta de animais já está sendo estudada também a atividade aos sábados, o que aumentará a necessidade de ampliação da mão de obra, de acordo com o Israel.

Fonte: Agora na Bahia

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