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Em fórum, povos indígenas “ensinam” que água deve ser reverenciada

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Tratando a água como um membro da família e como algo sagrado a ser conservado para as próximas gerações, as comunidades indígenas de países sul-americanos defenderam a preservação dos rios e montanhas e criticaram as propostas de privatização e venda de mananciais e aquíferos durante o 8º Fórum Mundial da Água.

A brasileira Maria Alice Campos Freire, do Conselho Internacional das Treze Avós Indígenas, explicou que os povos indígenas da Amazônia sempre tiveram uma relação de respeito com a água, que é passada de geração para geração desde os ancestrais. Na educação tradicional, a água, conta, é reverenciada e, antes de se pensar no consumo, deve ser observada como algo “que devemos reverenciar”.

“Esse conhecimento a gente passa para as filhas. Quando eu eduquei as minhas, sempre tinha um dia da semana em que saíamos sempre muito cedo, de manhã, sem falar nada. Íamos em silêncio à beira da água cantar para ela, louvar à agua, como forma de agradecimento à pureza e nossas relações”, disse.

Na tarde de hoje, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a sessão especial Culturas de Água dos Povos Indígenas da América Latina foi coordenada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Vinda da Guatemala, a indígena Ana Francisca Pérez Conguache, da etnia Poqoman, de origem maia, é coordenadora da Rede de Mulheres Indígenas. Ela relata que enquanto a maioria só pensa na água para o consumo humano vinda em tubos, as comunidades indígenas sabem que esse bem vem das montanhas.

“Mas quem conserva os rios, os mananciais? Ela é sagrada. Estamos tratando a forma de dizer não à privatização da água, mas queremos a participação dos povos indígenas. Por isso, também pertenço à floresta [na Guatemala], onde há 75 nascentes de água que são conservadas pelas mulheres e homens”.

O subsecretário de Demarcação Hidrográfica do Equador, Luís Olmedo Iza Quinatoa, apresentou as conquistas dos povos indígenas no país ao longo dos anos. Segundo ele, foi devido à uma grande mobilização em 1992, na qual foi ocupado e demarcado um território onde havia nascentes de água, que os equatorianos conseguiram um “fato histórico: a aceitação pela sociedade da existência dos povos indígenas”.

Após seguidas lutas e avanços jurídicos, que permitiram inclusive a autonomia financeira e administrativa das comunidades para administrarem internamente os recursos hídricos, Luís Quinatoa afirmou que no ano passado foi nomeado o primeiro-ministro indígena da história do Equador.

“Somos seres conectados. Para nós, a água é um ser vivo, divino de uso e propriedade comunitária e portanto deve ser compartilhada. Não entendemos como se deve vender a água. Sempre protegemos e insistimos que nossos recursos naturais não fossem destruídos. Quando as propriedades privadas começam o processo de destruição desses ecossistemas ficamos sem possibilidade de coletar a água”, destacou.

Já Freya Antimilla, representando os povos Mapuche, do Chile, defendeu que as respostas para os recentes descompassos com a natureza, especialmente relacionados à água, estão nos povos originais. “A água é vida. É a nossa mãe, é a nossa vitalidade e o equilíbrio com os elementos da Terra, com os próprios elementos dessa natureza. É equilíbrio da nossa maneira de viver com esses elementos. A escassez da água e todos problemas que estamos vivendo e crescem cada vez mais nasce desse desequilíbrio: só tirando, tirando, tirando. Sem dar importância e deixando a biodiversidade de lado”, criticou.

Ao responder a perguntas da plateia, Maria Alice Campos Freire, do Conselho Internacional das Treze Avós Indígenas, citou que o Fórum Alternativo Mundial da Água, que também ocorre na capital federal, está construindo o um “dossiê” com as histórias de terras indígenas e “santuários da natureza” que estão sendo ameaçados por diversos setores. Ela citou como exemplo as Terras Indígenas Évare I e II, no Alto Solimões, onde os povos indígenas estão sendo “assassinados” e as mulheres, raptadas.

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