A equipe do Fórum foi pega de surpresa. Bolsonaro se reuniu com o presidente da Suíça, Ueli Mauer, e com o ex-premiê britânico, Tony Blair, após almoçar com investidores e apresentar os prospectos para o Brasil.
Em seguida, porém, ele tomou o caminho de volta a seu hotel em vez de se dirigir ao centro de imprensa, onde faria um pronunciamento seguido de entrevista coletiva com os ministros Paulo Guedes(Economia) e Sergio Moro (Justiça).
O assessor da Presidência Tiago Pereira Gonçalves disse a repórteres que aguardavam o presidente no hotel que o cancelamento da entrevista coletiva se deu devido à “abordagem antiprofissional da imprensa”. Cerca de uma hora depois, uma outra pessoa da comitiva do presidente afirmou a jornalistas que Bolsonaro tinha cancelado o compromisso para se poupar, pois sua agenda está muito carregada. Os demais encontros do presidente foram mantidos.
Na manhã desta quarta (23), Bolsonaro declarou em entrevista à agência Bloomberg que, se seu filho Flávio Bolsonaro for culpado no caso envolvendo movimentações atípicas em sua conta, ele pagaria por isso. Desde então, os jornalistas brasileiros têm insistido em perguntas sobre o caso ao presidente, que responde apenas com silêncio.
Os jornalistas ficaram no centro de imprensa aguardando uma possível entrevista dos ministros Paulo Guedes, Sergio Moro e Ernesto Araújo, mas eles também não apareceram. O local para a primeira conversa do presidente e dos ministros com a imprensa brasileira já estava preparado.
Jornalistas estrangeiros —portugueses, mexicanos, suíços, alemães e chineses— ficaram estupefatos com o cancelamento do evento, comunicado oficialmente pela organização do Fórum 17 minutos após o horário em que a entrevista começaria.
A organização não ofereceu motivos para o cancelamento e pediu aos jornalistas que perguntassem à delegação brasileira —a equipe do Fórum levou quase uma hora para entender o que havia acontecido.
A assessoria de comunicação do presidente tentou organizar uma declaração antes do encontro bilateral com o premiê italiano, Giuseppe Conte, mas o brasileiro se recusou, alegando falta de tempo.
É incomum que um chefe de Estado ou governo não dê nenhuma entrevista coletiva em Davos, evento visto como uma vitrine mundial para investidores.
Maria Cristina Frias , Luciana Coelho e Lucas Neves – Folha Press