O porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio Rêgo Barros, disse hoje (22) que o presidente Jair Bolsonaro não tem o objetivo de impedir a divulgação de dados sobre desmatamento florestal pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo ele, a ideia é identificar previamente as ações para lidar com eventuais problemas apontados pelo órgão.
“O Planalto sempre trabalha pelo princípio da transparência. A intenção do senhor presidente é identificar, desde pronto, o relatório, quais são as demandas e quais são as ações prospectivas para corrigir, se for o caso, ou para potencializar eventuais dados que ali ocorram no relatório”, disse a jornalistas, em coletiva de imprensa.
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro disse que a divulgação de informações ambientais diretamente pelo Inpe prejudica o país em negociações comerciais conduzidas pelo governo brasileiro com outros países. Ele chegou a mencionar o acordo fechado recentemente entre o Mercosul e a União Europeia, em que salvaguardas ambientais podem ser acionadas para bloquear eventuais redução de tarifas comerciais.
“A questão ambiental, o mundo todo leva em conta. Outros países que estamos negociando a questão do Mercosul, ou até acordos bilaterais, nos dificulta com a divulgação desses dados. Temos que ter responsabilidade”, disse o presidente a jornalistas, depois de participar de um almoço com oficiais da Aeronáutica, nesta segunda-feira, em Brasília.
O presidente vem desde o fim de semana criticando a divulgação de dados de desmatamento. Ele chegou a questionar a validade dos números na última sexta-feira (19), em café da manhã com correspondentes internacionais. “Com toda a devastação que vocês nos acusam de estar fazendo e de ter feito no passado, a Amazônia já teria se extinguido”, disse Bolsonaro.
Segundo dados divulgados pelo Inpe no início deste mês, o desmatamento na Amazônia Legal brasileira atingiu 920,4 quilômetros quadrados em junho, um aumento de 88% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em nota, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse nesta segunda-feira que tem “grande apreço” pelo Inpe, mas compartilha da “estranheza expressa pelo nosso presidente Bolsonaro quanto à variação percentual dos últimos resultados na série histórica”. Segundo Pontes, a pasta “está solicitando ao Inpe um relatório técnico completo contendo os resultados da série histórica dos últimos 24 meses, assim como informações detalhadas sobre os dados brutos, a metodologia aplicada e quaisquer alterações significativas desses fatores no período”.
O diretor do Inpe, Ricardo Galvão, também foi convidado pelo ministério para “esclarecimentos e orientações”. Após a fala de Bolsonaro a correspondentes internacionais, Galvão criticou o presidente, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ao dizer que ele fez “acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira”. Ele ainda reafirmou a validade científica dos dados do instituto, que monitora áreas florestais desde a década de 1970.
Edição: Fábio Massalli