O meteorologista Paulo Etchichury esteve em Guanambi nesta segunda-feira (27), onde foi homenageado com o título de cidadão guanambiense e apresentou os prognósticos meteorológicos para o ciclo de chuvas que se inciará após o inverno.
No momento em que o aumento do desmatamento e dos focos de queimadas repercute pelo mundo, Etchichury falou à Agência Sertão sobre o tema de sua palestra e sobre a importância da Floresta Amazônica para o equilíbrio do regime de chuvas.
“Nós brasileiros devemos ter soberania sim, mas devemos ter responsabilidade. Uma mudança nas condições da Amazônia afeta o mundo inteiro, afeta a segurança da população, isso é técnico. O regime de chuvas aqui na Bahia depende de uma frente fria que vem do sul, que é uma região de baixa pressão que faz convergir os ventos e a umidade, e essa fonte de umidade é a Amazônia”, explica.
O meteorologista explicou ainda que o inverno é seco na região e em boa parte do país porque não há a fonte de calor sobre a Amazônia. “No verão, temos a fonte de calor, mas se não tiver a Amazônia que é a fonte de umidade, não vai ter como alimentar as frentes frias, e consequentemente não vai haver chuvas”.
“Nós temos que considerar a Amazônia como fonte de umidade muito importante para a definição do regime climático e do regime de chuvas. Estudos mostram simulações de que se tirando a Amazônia, a região semiárida do nordeste ficaria árida, como um deserto. A Amazônia viraria uma safava e teríamos graves consequência sobre o regime de chuvas da America do Sul, especialmente do Brasil, e sobretudo uma elevação da temperatura. Tardes teriam temperaturas normais entre 40 a 50ºC”, comentou.
Sobre as mudanças sofridas por outro bioma, a Caatinga, como desmatamento para agricultura, obtenção de carvão e construção de grandes obras, o meteorologista afirma que as alterações afetam mais as condições locais. “Quando você muda um bioma, um habitat, vai ter consequências. Estas mudanças na questão do microclima é muita mais sobre como você fixa a chuva que você recebe. São problemas na mudança na condição de solo, como a compactação. As vez a chuva vem, mas ela vai embora pelas condições promovidas pelas mudanças”.
Etchichury falou também sobre a situação da ciência no país. “Isso preocupa, estamos no século XXI, não esperávamos mais o retrocesso em discutir certas coisas. Se pensava estar construindo uma sociedade mais globalizada, com acesso a informações, tecnologia, ainda muito desigual, é fato. Pelo menos convergindo para uma sociedade um pouco mais fraterna. E o que a gente vê é um retrocesso.
Ele classificou de retrocesso e ameaça a negação da ciência por setores do atual Governo. “Quando você agride a ciência, você está negando o desenvolvimento. Por que a humanidade só evoluiu através do desenvolvimento técnico cientifico. Quando vemos um ciclo de governo negando esta condição, isso preocupa. A ciência vive do contraponto, da investigação, é natural ter visões diferentes. Isso é muito é bem vindo e é papel da discussão, o que não podemos é negar processos. Podemos discutir, mas negar processos e retroagir no sentido da aplicação é um retrocesso e representa uma ameaça para todos nós”.
Ele lembrou que a ciência vive um momento difícil no país, impulsionado pelos discursos rasos e que estão sendo negados dados de tecnologia para o desenvolvimento das pesquisas meteorológicas. O mais novo cidadão guanambiense disse que a homenagem significa a reafirmação do propósito, do compromisso, e da responsabilidade com o trabalho da meteorologia brasileira.