Embora tenham passado boa parte da segunda-feira (23/09) no mesmo hotel, o Intercontinental, a duas quadras da sede da ONU, o presidente Jair Bolsonaro e seu par americano, Donald Trump, não se encontraram e uma reunião bilateral nesta terça não foi confirmada, já que o brasileiro passará pouco mais de 30 horas em Nova York. Já Trump é o anfitrião dos 193 líderes que compõem a Assembleia Geral da ONU está com a agenda cheia.
“Existe muito boa vontade das duas partes, entendemos que ele está em um momento de recuperação. Não está claro se a conversa será possível agora, mas se não for, ela ocorrerá em breve, certamente”, afirmou à BBC News Brasil um dos integrantes da Comitiva da Casa Branca.
Discurso semelhante foi adotado por representantes do governo Bolsonaro. Submetido a uma cirurgia de correção de uma hérnia abdominal há duas semanas, o presidente recebeu recomendações médicas de repouso e por isso teve de encurtar a viagem e cancelar uma série de encontros bilaterais que teria nos Estados Unidos.
“Ele achou que poderia ser ofensivo se encontrasse um líder e não tivesse possibilidade de encontrar outros”, afirmou o assessor presidencial de relações internacionais Filipe Martins, sobre a incerteza do encontro com Trump.
Na segunda-feira, o presidente americano se reuniu com os mandatários do Paquistão, da Polônia, da Nova Zelândia, de Cingapura, do Egito e da Coreia do Sul. O governo Bolsonaro adotou os Estados Unidos como parceiro prioritário nas relações internacionais.
Mal estar no voo e suspense sobre discurso
Depois de dias de suspense sobre a viagem e o discurso em Nova York, na Assembleia Geral da ONU, Bolsonaro chegou à cidade americana em silêncio. Além da primeira-dama Michele, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional General Heleno, o ministro da Secretaria de Governo Luiz Eduardo Ramos a indígena Ysani Kalapalo, o assessor Felipe Martins, o senador Nelson Trad e um de seus filhos, o deputado federal Eduardo, o acompanham na viagem.
Afeito a dar declarações enquanto entra ou sai de um evento, dessa vez, Bolsonaro evitou comentários à imprensa. Ele chegou ao hotel Intercontinental, onde está hospedado, uma hora mais tarde do que o previsto pela sua equipe. Mesmo escoltada por batedores, a comitiva presidencial acabou retida no caótico trânsito nova-iorquino.
Na chegada ao hotel, Bolsonaro enfrentou os gritos de um pequeno grupo de brasileiros: “Amazônia, sim, Bolsonaro, não”, gritavam.
Embora aparentasse estar bem disposto, Bolsonaro teria sentido dores durante a viagem de avião, causadas pela alteração de pressão do ar. De acordo com Martins, o presidente chegou a passar algum tempo deitado no quarto da aeronave, algo considerado muito incomum para seu estilo.
No hotel, Bolsonaro esteve reunido com Heleno, Martins e Eduardo para repassar os últimos detalhes do discurso de terça-feira. Embora tenha ouvido muitas sugestões, teria feito questão de que a última versão do texto fosse fiel ao seu estilo direto e autêntico.
Seus auxiliares afirmam que ele estava muito concentrado, consciente da importância da mensagem que passará aos 192 líderes mundiais que estarão logo mais no plenário das Nações Unidas. Diferentemente do que aconteceu em Davos, quando o discurso do brasileiro foi considerado muito curto, dessa vez ele deve usar boa parte do tempo a que tem direito. A praxe na ONU são 20 minutos.
O desejo de manter o suspense sobre o conteúdo da fala era tal que não havia previsão de que a imprensa recebesse o discurso do presidente com antecedência, sob embargo, prática comum dos antecessores do ex-capitão do Exército.
Apesar do clima de segredo, o próprio Bolsonaro afirmou em lives nas redes sociais que pretende mostrar ao mundo que o Brasil tem capacidade de preservar sua floresta Amazônica e que a soberania do país não pode ser questionada. Ele pretende ainda deixar claro que o Brasil mudou e deve apresentar como prioridades de sua agenda os valores de família tradicional e o respeito a preceitos religiosos.
Protagonismo de Eduardo
A necessidade de descanso do pai e a intenção de assumir a Embaixada brasileira em Washington levaram Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente brasileiro, a assumir compromissos aos quais Jair não conseguiria comparecer.
Coube a Eduardo se encontrar, ainda na segunda-feira, com o ex-estrategista de comunicação de Donald Trump, Steve Bannon, e ir a um jantar da comunidade brasileira em Nova York. Enquanto Jair segue sendo dúvida, Eduardo também confirmou presença no jantar de recepção oferecido pelo anfitrião Donald Trump na terça-feira, no hotel Lotte.