O Facebook começou a realizar um teste envolvendo uma de suas principais ferramentas: a marcação da reação chamada like (gostar, no termo em inglês) em publicações. A experiência começou na Austrália e poderá ser estendida a outras nações. Não há, ainda, previsão de quando poderá ser implantada no Brasil.
O like é um dos principais recursos de engajamento com uma mensagem difundida na rede social, permitindo que os usuários demonstrem uma avaliação positiva sobre determinado conteúdo. Em 2016, a empresa passou a disponibilizar outras reações por meio de símbolos gráficos, como expressões de amor, tristeza, raiva e surpresa.
À Agência Brasil, a assessoria da companhia afirmou que a alteração não será ampla na plataforma e será avaliada de forma a verificar os impactos que trará nas experiências e engajamentos dos usuários.
“Estamos fazendo um teste limitado em que as contagens de curtidas e reações, além do número de visualizações de vídeos se tornam privados no Facebook e apenas visíveis para o autor do post. A partir disso, vamos reunir feedbacks para entender se essa mudança irá melhorar a experiência das pessoas”, declarou a empresa por meio de nota.
Potenciais prejuízos
Estudos indicaram possíveis impactos do uso de redes sociais no bem-estar de pessoas, especialmente jovens. Pesquisa da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, estabeleceu uma relação entre o uso do Facebook e comportamentos de vício. A lógica de oferta de “recompensas” por esses sites e aplicativos dificulta a tomada de decisões e estimula atitudes de retorno contínuo ao uso do sistema, assim como no caso de outras desordens ou de consumo de substâncias tóxicas.
Já outra investigação acadêmica realizada por pesquisadores das universidades de Stanford e de Nova York identificou efeitos positivos em pessoas que deixaram de navegar na rede social, como aumento de bem-estar e redução da polarização política. De outro lado, dirigentes da empresa, entre eles o CEO (diretor executivo) Mark Zuckerberg, em diversas ocasiões sugeriram o intento de buscar experiências mais positivas na rede social.
Outras intenções
O coordenador do grupo de pesquisa Estudos Críticos em Informação, Tecnologia e Organização Social do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Arthur Bezerra, ponderou que, embora o Facebook manifeste preocupação com a experiência e com a saúde dos seus usuários em medidas como esta, a mudança pode ter outras motivações mais voltadas ao modelo de negócios da companhia.
“Devemos lembrar que empresas como o Facebook obtêm seu lucro pela publicidade direcionada alimentada pelos dados do usuário ao agir na plataforma, precisando prender o usuário o máximo de tempo no seu interior. É possível aventar que, mais do que uma decisão voltada para os comportamentos, ocorre uma tentativa de não perder o seu principal ativo, o usuário, interagindo. Isso porque postagens com poucas curtidas e baixa interação podem ser desestimulantes para indivíduo continuar na plataforma”, afirmou.
Em julho, a empresa implementou teste semelhante no Brasil em outra rede social de sua propriedade, o Instagram. A mudança já havia sido testada em outros países e chegou aos usuários brasileiros.
O teste fez parte de diversas iniciativas anunciadas pela plataforma para combater práticas nocivas na internet, como discurso de ódio, ou bullying na web. Tais ações são uma resposta a críticas recebidas pela plataforma de que sua arquitetura e lógica de funcionamento favoreceriam um ambiente prejudicial ao bem-estar de seus integrantes.
Um estudo da Sociedade Real para a Saúde Pública, realizado em 2017, apontou o Instagram como a pior rede social para o bem-estar e a saúde mental de adolescentes.
Edição: Nádia Franco