O cultivo da palma forrageira tem ganhado cada vez mais importância no Centro-Sul baiano e no Norte de Minas. A planta, resiliente às condições climáticas adversas destas regiões, assumiu um importante papel na condução da agricultura familiar e tem apresentado viabilidade para produção em áreas maiores.
Um encontro realizado nesta quinta-feira (24), no Setor de Agricultura do Instituto Federal Baiano – Campus Guanambi, comemorou os 10 anos do início das pesquisas e das atividades de extensão que contribuíram para a difusão de conhecimento sobre esta cultura.
A discussão contou com a participação de representantes de entidades como – Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Banco do Nordeste (BNB), Centro Universitário, UniFG, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Rio São Francisco e Parnaíba (Codevasf), Cooperativa Agrícola de Ceraima (Cooperc), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Secretaria Municipal de Agricultura de Guanambi e Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Versátil, a palma pode ser inserida na alimentação de animais não ruminantes e ruminantes. As tecnologias disponíveis permitem o manejo manual e mecanizado.
O agricultor e técnico agrícola Sebastião Matos, vizinho do Campus do IF Baiano, foi um dos primeiros a se beneficiar das tecnologias desenvolvidas na instituição. Ele conta que utiliza a planta para criação de seu gado e ainda consegue um bom faturamento vendendo a produção para outros criadores da região.
“Já tem em torno de cinco anos que começamos a cultivar a palma. Isso aconteceu após a falta de água, foi a alternativa que tínhamos para a criação de gado. Seguimos as tecnologias disponibilizadas pelo IF Baiano, utilizando os espaçamentos adequados. Este ano, tive o faturamento de R$ 4 mil em uma área de apenas 0,3 hectares. Agora, implementamos a irrigação para aumentar a produtividade”, disse.
As primeiras pesquisas foram realizadas em 2009, durante os doutorados dos professores João Abel Cotrim e Paulo Emílio Donato, ambos realizados em Itapetinga, no Campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).
Neste período de pesquisas, outros professores, discentes e parceiros de outras instituições testaram exaustivamente as melhores formas de espaçamentos, variedades mais viáveis, adubação (mineral ou orgânica), irrigação com água salobra, tempo e tipo de corte, densidade de plantio, entre outras variáveis.
Também foram realizados testes sobre os melhores resultados no ponto de vista da qualidade e da eficiência nutricional da palma para a alimentação animal.
Todos estes testes renderam três teses de doutorado sobre o assunto, outras quatro estão sendo desenvolvidas. Também foram desenvolvidas 10 dissertações de Mestrado e 34 artigos científicos publicados em importantes periódicos agronômicos. Em 2017, a Epamig lançou um informe agropecuário com as pesquisas do IF Baiano e de outras instituição.
A oferta do Mestrado Profissional em Produção Vegetal no Semiárido no IF Baiano também contribuiu para intensificar a produção de conhecimento científico na produção da palma forrageira. Luzinaldo Correia, concluinte do ano de 2018, escolheu a palma para a sua pesquisa.
“Aqui na região, a palma é uma cultura que ajuda muito o produtor rural. É uma cultura resistente, que com manejo correto, resulta em um ótimo alimento, mesmo na época da seca, podendo ser utilizado a qualquer época. O futuro da palma é promissor, o IF Baiano tem desenvolvido muitas pesquisas no sentido de ajudar ao produtor, de mostrar a capacidade que ele tem de produzir a palma e melhorar a alimentação de seu rebanho. É uma reserva natural para quando não há pastos para o gado”, comentou.
No Norte de Minas, a palma forrageira começou a ser difundida por meio da Epamig, localizada no município de Nova Porteirinha. Leidy Rufino, pesquisadora do órgão, explica que a falta de chuvas fez muitos produtores buscarem na palma a solução para a perda das pastagens.
“O norte de Minas passa há anos por sucessivas crises hídricas. Então, culturas que os produtores estavam acostumados a plantar começaram a não se desenvolver mais como o esperado, ai surgiu o interesse pela Palma Forrageira. A Epamig começou um trabalho com palma em 2009, mas como ainda era um ano que chovia bem, não ganhou tanto destaque. Em 2015, após anos com crise hídrica, a procura foi grande, ganhou destaque e vários produtores procuram por esta cultura”, disse.
A difusão da palma na região contou com a colaboração efetiva do IF Baiano. Os pesquisadores da Epamig recorreram aos professores da instituição para darem início às pesquisas no norte mineiro.
“A relação com o IF Baiano é fantástica, a experiência da instituição é inegável. Quando decidimos começar os estudos com a palma, viemos até aqui, fizemos uma treinamento. Como é uma região muito parecida com a nossa, iniciamos nossas pesquisas a partir das pequisas que eles já tinham. Então nós ganhamos muito tempo e é uma parceria que a gente conta sempre, devido à experiência que é bem maior do que a nossa”, explicou.
Para o professor Sérgio Donato, os dez anos de pesquisas trouxeram bons reflexos ao desenvolvimento socioeconômico da região, aumentando de forma significativa a produtividade da cultura quando adotadas as tecnologias adequadas.
“O trabalho nosso tem tido reflexo no desenvolvimento regional, na mudança de postura do agricultor, no sistema de cultivo dele. É difícil quantificar qual é a contribuição real disso, mas, normalmente, este sistema de produção leva a um aumento de produtividade, partindo de uma média regional que era de 40 toneladas por hectare para 200 toneladas. É lógico que a adoção do sistema de produção não é de uma vez, por todos os agricultores, de toda a região. Mas da para pensar nesta mudança da ordem de cinco a seis vezes da produtividade média regional, a partir destas difusões que geramos aqui dentro”, comenta.
O professor professor disse ainda que no início das pesquisas, os desafios eram assegurar o ganho da produtividade. Para os próximos dez anos, o professor acredita que o desafio está em testar novas cultivares e em fortalecer a difusão das técnicas mais adequadas para a produção.
Também é uma preocupação para os próximos anos, os cuidados com os possíveis problemas fitossanitários, como a Cochonilha do Carmin, responsável por prejuízos na cultura. A Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), também enviou técnicos para o encontro para falar sobre as ações relativas ao assunto.
Um aplicativo de celular está sendo desenvolvido em um trabalho conjunto que envolve o IF Baiano, a Unimontes e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O trabalho é desenvolvido pelo professor Bruno Guimarães (IF Amazonas – Campus São Gabriel da Cachoeira), ele é doutorando em Produção Vegetal no Semiárido na Unimontes, com coorientação do professor Sérgio.
Guimarães trabalhou com equações, modelos de regressão e redes neurais para prever colheitas e determinar tamanho de parcelas. Já como proposta para um pós-doutorado, o professor pretende inserir as informações sobre os sistemas de produção desenvolvidos no IF Baiano, com as informações como adubação e espaçamento, em um aplicativo, tornando a informação mais acessível e mais fácil de ser interpreta pelo produto.
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