O deputado Charles Fernandes (PSD-BA) já pagou R$ 50 mil neste ano pelos serviços de uma empresa para divulgação de atividade parlamentar. No endereço da nota fiscal, porém, não há nenhuma gráfica, mas uma lanchonete que vende cachorro-quente.
O dono da Prática Brindes, empresa que aparece na nota, Daniel de Jesus Mandela, afirmou ao jornal Estadão que possuía um comércio no local, mas que precisou fechar no fim de abril. A maior parte dos repasses feitos pelo deputado, com recursos públicos da Câmara, foi posterior a esse mês. Fernandes fez dois pagamentos à empresa de Mandela no valor de R$ 15 mil – um em março e outro em junho – e um terceiro, no valor de R$ 20 mil, em setembro.
Ao ser questionado pela reportagem sobre onde a gráfica funciona, Mandela primeiro disse que “estava no meio do mato”. Logo em seguida, a ligação telefônica foi interrompida. Procurado novamente na semana seguinte, afirmou ter sido contratado para fazer a impressão de material gráfico para o deputado baiano, mas que “terceirizou” o serviço.
“Eu imprimi fora. Lá no Núcleo Bandeirantes (cidade nos arredores de Brasília). Foi um informativo, se eu não me engano, de quatro páginas. Jornalzinho. Foi impresso certinho, tudo bonitinho. Eu não conheço o deputado, nunca o vi. Eu estive lá com o pessoal do gabinete dele. Eu nunca vi o deputado na minha frente”, disse. Segundo Mandela, na sua papelaria ele só imprimia “pequenos materiais”.
No intervalo de sete meses entre os pagamentos feitos pela Câmara, a empresa de Mandela emitiu apenas quatro notas fiscais, das quais três foram em nome do deputado baiano.
Mesmo tendo fechado em abril, como alega, nos meses seguintes, inclusive em setembro, Daniel Mandela continuou a utilizar as notas com endereço onde já estava instalada a lanchonete de cachorro-quente. Ele afirma que, apesar de ter deixado o ponto comercial, não deixou o ramo gráfico e continuou atendendo o deputado mesmo sem ter uma loja física. “Efetivamente imprimindo nunca parei. Venho correndo atrás de sobreviver no mercado gráfico. Portanto, eu nunca fiquei sem trabalhar”, disse.
Procurado, o chefe de gabinete do deputado Charles Fernandes, Alexandre Camargo, disse que conheceu Mandela na Câmara, quando o empresário apareceu oferecendo serviços gráficos. “Na época, ela (a gráfica) existia no Sudoeste (bairro de Brasília). Depois disso ela sempre prestou o serviço”, afirmou. Questionado sobre onde foi distribuído o material impresso por Mandela, o chefe de gabinete disse que o deputado levou de carro para a Bahia. “De dois em dois meses a gente distribui o material. O deputado vai e volta de carro, por isso leva de carro.” A distância entre Brasília e Guanambi é de 813 km.
A Agência Sertão entrou em contato com a assessoria de comunicação do deputado Charles Fernandes a qual afirmou que o parlamentar não tem culpa que a empresa não forneceu os dados atualizados. “O Deputador Charles Fernandes está tranquilo, pois não tem nenhuma irregularidade. O serviço foi prestado, o material já foi distribuído e a empresa é legalmente construída”, ressaltou a assessoria.
Com informações do Estadão.