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Estados temem epidemias de dengue e outras doenças junto com coronavírus

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Em meio ao crescimento do número de casos do novo coronavírus, secretarias de saúde de diferentes pontos do país tentam lidar com uma epidemia de dengue em curso, enquanto se preparam para o avanço da gripe e tentam de quebra manter o controle do sarampo.

A situação, que aponta para o risco de epidemias simultâneas, varia conforme a região, mas tem gerado alerta.

“Teremos neste ano o coronavírus, a influenza e também o pico da dengue”, alertou no fim de março o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira.

Para ele, a coincidência das três epidemias em algumas regiões pode gerar o que chama de tempestade perfeita. “Aproveitem que estão em casa e limpem o quintal, eliminem focos de dengue e vacinem-se conforme o calendário”, sugeriu na ocasião.

Dados da pasta indicam o motivo dessa preocupação. Enquanto o coronavírus ainda cresce no país, com epidemia em fase inicial e sinais de “aceleração descontrolada” em algumas regiões, outras doenças continuam a exigir atenção do sistema de saúde.

Atualmente, sete estados já apresentam incidência de dengue em patamar de epidemia, com mais de 300 casos a cada 100 mil habitantes: Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Acre e Distrito Federal.

A pior situação é a do Paraná, que soma 158 mil dos 484 mil casos de dengue registrados no país —o volume nacional, aliás, já é cerca de 70% superior ao do ano passado.

O secretário estadual de saúde, Beto Preto, diz que há alto risco de colapso momentâneo do sistema de saúde de cidades do norte, noroeste e oeste do estado, como Londrina e Maringá, a depender da velocidade do avanço do novo coronavírus.

“Enquanto a pandemia do coronavírus está chegando, a da dengue é uma realidade”, afirma. “Isso estressa o sistema de saúde”, completa ele, que diz esperar que a chegada do frio dê trégua na doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti antes de um aumento dos casos de Covid-19.

Atualmente, o estado soma 539 casos da nova doença e 17 mortes. Os números, porém, crescem a cada dia no país.

A situação já faz cidades se prepararem para evitar confusões no diagnóstico. Em Londrina, que concentra o segundo maior número de casos do estado, a prefeitura separou um grupo de unidades de saúde apenas para atendimento da dengue —outras, só para o coronavírus e outros vírus respiratórios. O objetivo é evitar o contágio.

O direcionamento é feito por meio de um sistema de atendimento telefônico que tira dúvidas sobre os sintomas.

“Tivemos que reorganizar todo o sistema de saúde”, diz o prefeito Marcelo Belinatti (PP). “Para nós, a dengue já é uma epidemia. O coronavírus ainda não, mas é só questão de tempo”, diz.

“Não tenho dúvida nenhuma que essas curvas [de doenças] vão se encontrar. Uma vai estar na ascendência e outra na descendência. Mesmo na descida, ainda teremos muito casos. Já tivemos pacientes diagnosticados com coronavírus, e que o sintoma inicial era de dengue”, afirma.

Hoje, a cidade tem dois centros de atendimento para dengue, além de seis unidades básicas de saúde e uma UPA para coronavírus e vírus respiratórios. “Atendemos cerca de 700 pessoas por dia de pessoas com sintomas respiratórias. Isso mostra que os outros vírus já estão circulando.”
O cenário também traz alerta em outros pontos do país.

Em São Paulo, são 139,8 mil casos de dengue no estado, com 39 mortes, segundo o Ministério da Saúde —os dados por município não estão disponíveis. Já o coronavírus soma 6.708, com 428 óbitos.

“A dengue começou a aumentar em fevereiro, e estamos com um número de casos bastante importante. E ainda está expandindo”, diz o infectologista e assessor técnico da secretaria paulista, Marcos Boulos.

Para ele, a “sorte” do estado é que a maior parte dos casos de dengue tem sido na região oeste, onde há menos casos de coronavírus se comparado a Grande São Paulo —um encontro das doenças, assim, não ocorreu. “Os casos beiraram a capital, mas não entraram, e ainda há uma separação das necessidades de atenção médica”, disse.

Ele vê risco, no entanto, também com o avanço da gripe. “São epidemias diversas.”
Para o sanitarista e pesquisador da Fiocruz Claudio Maierovitch, a probabilidade de haver uma coincidência de epidemias é maior para a dengue e o coronavírus.

Parte do impacto, no entanto, dependerá da expansão da doença também para pequenas e médias cidades, afirma.

“Se [as medidas de restrição] retardarem o suficiente a propagação para o interior, pode ser que a dengue já esteja baixa. Mas nós não sabemos a velocidade de propagação do coronavírus.”

O ministério atribui o aumento de casos de dengue neste ano à maior circulação do sorotipo 2 do vírus que causa a doença, situação que não ocorria desde 2008.

A possível coincidência dos períodos das diferentes doenças se explica pela curva de casos.

Historicamente, o pico da dengue é esperado para abril. No ano passado, no entanto, houve casos também no inverno em algumas regiões.

Novo, o coronavírus ainda tem comportamento pouco previsível. Projeções iniciais usadas pelo ministério apontam possível pico até junho.

Nesta quarta, eram 15.987 casos de Covid-19, com 800 mortes. O número tem sido questionado devido à baixa oferta de testes.

Atualmente, seis unidades da federação apresentam sinais de aceleração do novo coronavírus: DF, AM, CE, SP, AP e RJ. Dessas, duas já estão em epidemia de dengue: DF e SP.

Para Maierovitch, a situação preocupa pela possibilidade de confusão de diagnóstico, pois as duas doenças apresentam sintomas parecidos.

“É possível confundir. Um paciente com febre alta, dor nos olhos, indica à primeira vista que se trata se dengue. Mas pode ser coronavírus, porque nem sempre esses pacientes vão chegar tossindo ou com falta de ar”, afirmou.

“E isso é perigoso, porque os tratamentos são diferentes. Mais importante: se for coronavírus e acharem que é dengue, esse paciente pode sair e transmitir”.

Além da dengue, especialistas apontam o risco de outras epidemias simultâneas, caso da gripe e do sarampo.
Os casos de gripe começaram a ser registrados mais cedo neste ano, afirma Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe, plataforma da Fiocruz em conjunto com o Ministério da Saúde e que mantém dados de internações por síndrome respiratória aguda grave.

Isso indica que o pico dessa epidemia sazonal, geralmente esperado para junho e julho, pode ocorrer antes —e coincidir com o coronavírus, aumentando a pressão sobre o sistema, afirma.

Até o momento, o sorotipo predominante é o H1N1, mas há também casos de outros tipos de influenza.

Segundo ele, casos registrados de gripe já apontam aumento em relação a 2019. Nas semanas mais recentes, no entanto, o maior volume de diagnósticos tem sido de coronavírus, o que demonstra que ele é mais agressivo.

Em entrevista coletiva na terça (7), o secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, disse que já é possível verificar uma circulação simultânea de vírus influenza com o coronavírus em algumas regiões, sobretudo no Norte. Ele não citou, porém, se já havia impactos ao sistema.

Uma das áreas de maior preocupação é o Amazonas, onde vírus da gripe e outros problemas respiratórios costumam ter aumento mais cedo.

“De novembro a junho, nós temos o chamado ‘inverno’, que é a temporada chuvosa, com muitos registros de doenças respiratórias. Por isso, temos preocupação muito grande com dengue e doenças respiratórias, que se somam ao coronavírus”, afirma Antonio Magela, infectologista e diretor de assistência médica da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, ligada ao governo estadual.

Até o início de março, antes portanto do surto de coronavírus no estado, houve o registro de 39 mortes por síndrome respiratória aguda agrave.

A esse quadro se soma um aumento recente do novo coronavírus. Em poucos dias, a incidência do vírus dobrou, passando de 7,4 para 19,1 a cada 100 mil habitantes. É a mais alta incidência no país.

A aposta de pesquisadores é que medidas de isolamento social ajudem a reduzir a transmissão não só do coronavírus mas também da gripe.

A alta adesão à campanha de vacinação contra influenza é outro ponto alto. Em anos anteriores, a meta demorava a ser atingida.

Para Boulos, é preciso ter alerta a todas essas doenças sem descuidar ainda do monitoramento de outras, como o sarampo.

“Estamos tendo casos de sarampo mesmo no verão, e pode aumentar”, diz. O avanço, porém, dependerá da existência de áreas com lacunas na cobertura vacinal, cujo reforço tem aumentado.

*Informações da Agência Brasil

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