Chuva coloca fim a 14 dias de incêndios no Grande Sertão Veredas e em Cocos e Coribe

Incêndio destruiu vegetação das nascentes do riacho Santo Antônio entre Cocos e Coribe - Reprodução

O sábado (10) foi de alegria no município de Cocos, depois de duas semanas de muitos incêndios florestais em várias partes do município. O fogo destruiu grandes áreas de vegetação, matas ciliares e áreas de nascentes, inclusive uma grande parte do Parque Nacional Grande Sertão Veredas.

Segundo levantamento da Agência Sertão, baseado nas imagens de satélites e das detecções de focos de calor, cerca de 200 mil hectares de Gerais foram atingidos pelo fogo nos últimos 15 dias, o que equivale a quase 20% do território do município. Incêndios iniciados em Cocos ainda queimaram áreas nos municípios de Coribe, na Bahia, Formoso e Chapada Gaúcha, ambos em Minas Gerais.

Cocos é o sétimo maior município da Bahia e o 129º do país, possuindo território de 10.084 km². A título de comparação, da mais de 8 vezes a área ocupada pelo município de Guanambi, que é de 1.297 km².

O fogo atingiu desde a margem esquerda do rio Carinhanha, até a margem direita do rio Formoso. O rio Itaguari, afluente do Carinhanha localizado entre as duas bacias, foi o mais atingido, tento perdido a vegetação de matas ciliares e nascentes, por mais de 40 quilômetros de seu leito e de seus afluentes.

Tamanho território e as grandes áreas de vegetação colocou o município em primeiro lugar na Bahia em número de focos de incêndio. Ao longo do ano, foram 552 detectados pelo satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mais de 10 mil por pela rede de satélites. Comparado a 2019, houve aumento de 115% nos focos.

26 de setembro
9 de outubro

Segundo Agenor Neto, secretário municipal de Meio Ambiente de Cocos, o município solicitou ajuda ao Governo do Estado para controlar a situação. O apoio chegaria neste sábado, uma equipe de cinco combatentes do Corpo de Bombeiros Militar seria enviada ao município, com a chuva, a operação foi cancelada.

Ainda neste sábado, o governador Rui Costa (PT) editou um decreto estabelecendo situação de emergência em 77 municípios do Estado por conta dos incêndios florestais. A maioria das localizadas cobertas pelo decreto está nas regiões Oeste e Sudoeste do Estado.

A chuva

Logo na manhã deste sábado, uma chuva significativa atingiu a região onde ocorria um dos maiores incêndios. O fogo destruiu cerca de 15 mil hectares das cabeceiras do riacho Santo Antônio, na divisa dos municípios de Cocos e Coribe. As imagens do fogo publicadas nas redes sociais impressionaram por conta da densa coluna de fumaça e da altura das chamas.

Durante o fim da tarde e o início da noite, voltou a chover em várias regiões do município, inclusive na região sudoeste, onde está localizado o Parque Nacional.

Não há pluviômetros oficiais nas regiões atingidas pelos incêndios, segundo moradores de comunidades do município, houve chuvas de até 20 mm em algumas localidades. Imagens de satélite mostram a circulação de nuvens densas pela região do município.

Parque Nacional Grande Sertão Veredas

O fogo colocou fim a uma rotina exaustiva de trabalho dos brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio, única área onde havia tentativa qualificada de controle do fogo. Desde o surgimento dos primeiros focos, as equipes trabalhavam na área do parques tentando impedir o avanço das chamas, trabalho dificultado pelo tempo quente e seco que predominou na região nos últimos dias.

Na última sexta-feira (11), Ernane Faria, chefe do Parque, disse que o fogo já havia atingido cerca de 50 mil hectares do território baiano da unidade de conservação federal. Estimativas obtidas pelas imagens de satélite neste sábado apontam que o fogo pode ter consumido cerca de 70 mil dos 130 mil hectares no município de Cocos, e pelo menos mais uns 10 mil hectares na área do município de Formosa, Noroeste de Minas.

Imagem de satélite deste sexta-feira (9) mostra a grade área destruída pelas chamas. A linha amarela representa os limites de Bahia, Goiás e Minas Gerais e a linha verde os limites do Parques Nacional Grande Sertão Veredas. Já os pontos azuis simbolizam os últimos focos detectados pelos satélites por volta das 16h deste sábado (10) – Fonte: INPE

Os brigadistas contaram com o apoio de brigadas de fazendas vizinhas, que cederam tratores e até um avião agrícola para ajudar no combate às chamas. Uma equipe do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) também foi integrada na operação durante a última semana.

Mesmo perdendo áreas extensas de vegetação, o trabalho de combate conseguiu evitar que as chamas chegassem às principais nascentes do rio Itaguari. Os brigadistas fizeram aceiros em volta das matas, impedindo o avanço do fogo sobre a vegetação.

Brigadistas do ICMBio fazendo aceiros para proteger as nascentes do rio Itaguari

O Parque Nacional Grande Sertão Veredas ocupa uma área de quase 232 mil hectares, nos municípios de Chapada Gaúcha, Formoso e Arinos, no estado de Minas Gerais e Cocos, na Bahia, onde fica cerca de 56% de todo o seu território.

A unidade de conservação é considerada de excepcional importância ecológica (biodiversidade e recursos hídricos) e cultural, consolidando-se como uma das mais importantes áreas preservadas da região conhecida como Gerais, do bioma Cerrado.

O Parque Nacional Grande Sertão Veredas foi criado em 1989, com uma área de 83.364 hectares. Em 2004, o parque foi ampliado passando a ter uma área total de 230.671 hectares.

O nome, é uma homenagem a uma das mais importantes obras literárias brasileiras, o romance Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa, que retrata com extrema sensibilidade a realidade regional onde a unidade está inserida, repleta de passagens que descrevem os locais, a relação do homem com a natureza e as características culturais, ainda hoje encontradas.

Além de proporcionar a proteção de diversas espécies da flora e da fauna, algumas ameaçadas de extinção, e de ecossistemas típicos do Cerrado, o Parque objetiva, também, a pesquisa científica, a educação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o estímulo ao desenvolvimento regional em bases sustentáveis.

Sob responsabilidade do ICMbio, o Parna tem sede localizada no município de Chapada Gaúcha/MG, com acesso partindo de Arinos, São Francisco, Januária ou Montalvânia, sendo que destas, a única estrada pavimentada é por Arinos.

(veja mais informações sobre o Parque)

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