PMs receberam certificado de elogio individual por participação em ações que resultaram em mortes de ciganos na região de Vitória da Conquista

Policiais que participaram das operações que resultaram na morte de ciganos acusados pelas mortes de dois policiais, ocorridas no dia 13 de julho, na zona rural Vitória da Conquista, foram homenageados pela Polícia Militar com diplomas de elogio individual.

O fato causou revolta nos membros entidades de etnia cigana, como a Associação Internacional Maylê Sara Kalí (AMSK Brasil), organização que tem como missão propagar a história do povo Romani e de atuar na defesa dos direitos humanos, nos espaços políticos democráticos de elaboração e discussão das políticas públicas setoriais e de direitos.

A AMSK revelou a foto de um diploma entregue a um soldado lotado no 3º Pelotão de Anagé. Ele foi agraciado com a honraria pela “diligência exitosa que culminou na apreensão de três armas de fogo e auto de resistência de três ciganos que participaram do duplo homicídio que ceifou a vida dos policiais”, diz a homenagem.

De acordo com a Associação, além das mortes e da perseguição à comunidade cigana, a homenagem incentiva a violência contra o grupo étnico. “São pessoas com documento, registro e família. São brasileiros que pertencem a uma etnia: a etnia ‘Cigana’.  ‘Ciganos é muita gente’; temos que nos atentar contra a fala de ódio – agora para todo e qualquer crime: Ciganos”, diz trecho da nota da AMSK Brasil.

Entidades ciganas de todo o país e de outros países da América Latina têm se manifestado constantemente sobre o caso de Vitória da Conquista. Eles linhas gerais, elas condenam atos criminosos cometidas por ciganos, mas pedem que a polícia haja dentro da lei para prender e colocar à disposição da justiça quem infringir a lei.

O Instituto Cigano do Brasil (ICB) acompanha o caso desde e o início e pediu que a Justiça Federal passe a investigar o caso. O pedido para federalizar as investigações das mortes dos ciganos foi protocolado e encaminhado ao gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras. “Estamos pedindo que seja apurado essas mortes de ciganos, uma vez que a polícia usa muito a palavra ‘confronto'”, conta o presidente da entidade, Rogério Ribeiro.

Ao mesmo tempo, várias denúncias de abuso policial contra familiares dos ciganos apontados como autores do duplo homicídio foram registradas. Outros ciganos sem parentesco com os envolvidos também relataram ter sofrido retaliações.

Procurado pela Agência Sertão, o Comando de Policiamento Regional do Sudoeste (CPRSO) informou que a a corporação age dentro dos limites da Lei. Sobre os diplomas de elogia pessoal dado a policiais que participaram das ações, a PM preferiu não se manifestar.

Desde a morte do Ten. Luciano Libarino e do soldado Robson Brito, oito irmãos pertencentes à família de ciganos foram mortos. De acordo com a Polícia Militar, sete deles morreram em confronto. Um adolescente de 13 anos foi morto dentro de uma farmácia no Centro de Vitória da Conquista. O crime segue sem conclusão até o momento. O patriarca da família foi ferido no dia do crime e preso logo após dar entrada no hospital.

No caso da operação que resultou nos diplomas aos policiais, três suspeitos morreram no dia 28 de junho e o quarto no dia 30, ambos na zona rural do município de Anagé. De acordo com a polícia, as mortes ocorreram após os ciganos entrarem em confronto com os policiais que tentavam prendê-los. Como a família dos ciganos teve que deixar Vitória da Conquista, somente no dia 6 de agosto ocorreu o sepultamento dos corpos.

A mãe dos ciganos mortos, filhas mulheres, noras e netos tiveram que sair da cidade. A Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA) acompanha o caso. O órgão encaminhou a família para um abrigo e solicitou a inclusão em um programa de proteção de testemunhas. Ela acompanhou o enterro dos filhos por meio de uma chamada de vídeo.

O caso

O tenente Luciano Libarino Neves, de 34 anos, e o soldado Robson Brito de Matos, de 30 anos foram mortos a tiros no dia 13 de julho, no distrito de José Gonçalves. As armas e os telefones celulares foram roubados pelos suspeitos e recuperados pela PM nos dias seguintes.

Na mesma semana do crime, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) expediu mandado de prisão contra todos os suspeitos. Na ocasião, três adultos e um adolescente já havia sido mortos. Os adultos morreram em confronto com a polícia e o adolescente foi baleado em uma farmácia no Centro de Vitória da Conquista e morreu no hospital.

Depois do crime, a família alega que passou a ser perseguida por policiais. Oito irmãos, todos ciganos, foram mortos, sendo dois deles adolescentes de 13 e 17 anos. O pai dos oito irmãos está preso, após também ter sido baleado por miliares. Ele também é suspeito de matar os dois policiais.

Da esquerda para a direita, na primeira fileira: Dalvan, Solon, Morais e Bruno; na fileira de baixo, no mesmo sentido: Lindomar, Ramon, Arlan e Marlon. Os oito são irmãos e foram mortos | Fotos: Reprodução / Redes sociais

No início de agosto, o presidente do ICB, Rogério Ribeiro, procurou o G1 e divulgou o áudio da mãe dos oito mortos. Na gravação, a mulher – que não foi identificada por medo de represálias – pede ao filho que continua foragido para se entregar à polícia.

 

 

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