Diante de dois descarrilamentos de trens d VLI na Ferrovia Centro Atlântica (FCA) em um intervalo de menos de duas semanas, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) encaminhou ofício à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), solicitando providências em relação às ocorrência.
De acordo com a CBPM, o ofício foi enviado ao órgão responsável pela fiscalização da concessão na tarde desta terça-feira (9).
O primeiro acidente recente ocorreu no perímetro urbano de Brumado, no dia 23 de outubro. Doze vagões carregados de cimento de uma composição descarrilharam na altura da passagem em nível que dá acesso ao bairro Dr. Juracy. À época, a empresa informou que não houve derramamento de carga, nem danos a terceiros.
O último acidente foi na sexta-feira (5), quando um trem de transporte de minério de ferro descarrilhou no trecho entre o distrito de Ourives e a cidade de Tanhaçu. A VLI informou que o trem com 22 vagões estava vazio no momento do descarrilamento.
No ofício enviado à ANTT, a CBPM ressalta que os acidentes ocorreram por conta do estado de degradação avançado dos trilhos da ferrovia, que seria fruto do descaso da concessionária ao longo dos anos.
“Por um acaso, os vagões de transporte de minério de ferro estavam vazios. Certamente que, com os vagões cheios, a potencialidade de ocorrência de acidentes e danos é exponencialmente maior, trazendo consequências mais desastrosas ao meio ambiente e à vida das pessoas, que correm perigo em razão da situação atual da ferrovia”, diz a CBPM no documento.
A CBPM solicita à ANTT que apure as causas dos acidentes e produza relatório em que sejam incluídas as providências a serem tomadas para que não voltem a ocorrer, inclusive com as penalidades aplicadas e responsabilização dos envolvidos em razão das falhas ocorridas.
Descaso com a FCA
Já faz algum tempo que o órgão responsável pela pesquisa mineral no Estado faz críticas à gestão da Ferrovia Centro-Atlântica, de responsabilidade da VLI. Nas reclamações, a CBPM alega que os trechos da ferrovia na Bahia estão abandonados.
“A ausência de investimentos ao longo dos anos pela concessionária, aliada à fiscalização ineficiente do Poder Concedente, levou ao completo abandono da maioria dos trechos que cruzam a Bahia, especialmente os que a VLI não tem interesse econômico”, diz trecho do ofício.
Atualmente o que se vê é a completa desmobilização da infraestrutura ferroviária, com reflexos econômicos, ambientais e sociais no Estado da Bahia. O resultado do descaso é sentido não só em razão do declínio do uso do modal ferroviário, ocasionando o aumento expressivo do movimento de cargas pesadas pelas estradas baianas, elevando o nível de emissões de particulados na atmosfera e acidentes rodoviários, mas também em acidentes na própria ferrovia, como os visto nas últimas semanas.