Mesmo com a diminuição das chuvas, o escoamento natural das águas da bacia hidrográfica continua deixando o nível do rio São Francisco em patamares bastante elevados em Minas Gerais e na Bahia.
Além disso, desde sexta-feira (14), as comportas da Usina Hidroelétrica de Três Marias (UHE Três Marias) começaram a ser abertas. Em Pernambuco, o nível do rio também começou a subir com a abertura das compotas da hidroelétrica de Sobradinho, também iniciada na sexta-feira.
Na cidade de Pirapora, primeira banhada pelo Velho Chico à jusante da barragem de Três Marias, o rio já está próximo de atingir a régua de 4 metros novamente. Na tarde desta terça-feira (18), a estação fluviométrica da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) marcava o nível em 3,97 metros (m), apenas 15 centímetros (cm) a menos do que o registrado na última quarta-feira (12), quando as águas chegaram na marca de 4,12 m.
De acordo com a Cemig, empresa responsável pela gestão da UHE Três Marias, a vazão difluente chegaria a 3.480 m³/s a partir das 8h desta segunda-feira, no entanto, houve uma redução no vertimento em razão de um evento chuvoso localizado no rio Abaeté, que desagua entre a barragem e a cidade. A diminuição visou proteger o canteiro de obras de restauração do Vapor Benjamin Guimarães, já atingido com a cheia na semana passada.
“Foi necessário recolher a liberação de vazões, garantindo as ações de gestão do ponto às margens do rio São Francisco no município de Pirapora, onde o vapor Benjamin Guimarães segue atracado para reforma e revitalização”, disse a Cemig em nota.
Governo de Minas Gerais assumiu integralmente a restauração do vapor Benjamim Guimarães
De acordo com a estatal, o nível do reservatório segue em ascensão ao longo da semana, conforme planejado, dado que as afluências ainda seguem com o reflexo das chuvas do início de janeiro deste ano. Tais vazões, se liberadas na integralidade, causariam inundações mais generalizadas, já que o reservatório segue liberando 2.780 m³/s frente à média de 5.000 m³/s de recebimento.
Apesar do nível de armazenamento de 93,97% no início desta terça-feira, dia 18/01, o reservatório ainda segue com poder de amortecimento do evento de cheias que recebe. É esperado que o nível siga essa tendência de ascensão até o início da semana do dia 24/01, quando as vazões que chegam ao reservatório passam a ser menores que as liberadas.
A Cemig destaca-se que qualquer ampliação superior à prática atual traria transtornos ao majorar os efeitos de inundação já vivenciados no trecho do rio São Francisco, bem como impacto ao ponto de reforma do Vapor Benjamim Guimarães. A situação vem sendo avaliada diariamente, considerando o tempo de viagem das vazões até o município de Pirapora, bem como o comportamento dos rios que deságuam após a barragem, ou seja, que não podem ser controlados pelo reservatório.
Na região Norte de Minas onde as chuvas diminuíram, o nível do rio voltou a aumentar após ficar estável no fim de semana com as águas trazidas de afluentes como o rio das Velhas, Paracatu e Urucuia, que continuam escondo as chuvas do início do ano da região Central e do Noroeste de Minas.
Além disso, as águas do início do vertimento de Três Marias começam a chegar na região, como é o caso do distrito de Cachoeira da Manteiga, no município de Buritizeiro, primeira localidade monitorada abaixo da foz do rio das Velhas, onde o nível voltou a ultrapassar os dez metros depois de ter recuado cerca de 35 centímetros nos últimos dias.
Em São Romão, abaixo da foz do rio Paracatu, o nível voltou a subir e alcançou patamar superior ao da semana passada. O pico na cidade era de 9,49 m, atingido no sábado (15). Na tarde desta terça-feira, o Velho Chico atingiu a cota 9,54 m.
Mais abaixo, em São Francisco, o nível apresentava estabilidade desde o fim de semana e chegou a 10 m na última medição e continua subindo lentamente. O rio começa a transbordar pela calçada na região do cais da cidade.
A cheia também continua imensa nos municípios da sequencia do curso do rio, como Januária, Itacarambi, Matias Cardoso e Manga.
Bahia
Nas cidades de Malhada e Carinhanha o rio São Francisco continua subindo cerca de cinco centímetros a cada 24 horas nos dias. O nível atingiu a marca de 7,69 m na régua de medição do cais de Malhada. Nestes municípios, o rio já avançou, jogando água nas lagoas marginais e sobre estradas vicinais que ligam as cidades às comunidades ribeirinhas.
Em Bom Jesus da Lapa, o volume de água do rio também continua subindo, chegando à cota 8,72, uma das maiores dos últimos 20 anos. Com o nível voltando a aumentar no Norte de Minas, o São Francisco deve continuar avançando na cidade pelo menos por mais uma semana.
Sobradinho
De acordo com a Companhia de Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), o nível do reservatório de sobradinho chegou a 64,25% nesta segunda-feira. Desde sexta-feira, as comportas começaram a ser abertas e a defluência chegou a 2.312 m³/s, com previsão de chegar a 4.000 m³/s até o próximo dia 24.
A estatal realizou um mapeamento que identificou 16 pontos com risco de alagamentos ao longo das margens do rio na Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
https://agenciasertao.com.br/2022/01/20/em-juazeiro-e-petrolina-rio-sao-francisco-ja-subiu-quase-25-metros-apos-maior-abertura-de-comportas-em-15-anos/amp/
Em Juazeiro, na Bahia, e na vizinha Petrolina, em Pernambuco, o nível estava na cota 1,12 m há uma semana, antes do aumento da vazão na hidroelétrica. Assim vem ocorrendo também nas localizadas do Submédio e do Baixo São Francisco e vai ocorrer até a foz. Na tarde desta terça-feira, as águas atingiram a cota 3,09 m. No reservatório de Itaparica, o volume é de 51,5%, com previsão de subida rápida com a chegada dos vertimentos de Sobradinho.
A bacia hidrográfica do rio São Francisco corresponde a 8% do território nacional. Com uma extensão 2.863 km e uma área de drenagem de mais de 639.219 km2, estende-se desde Minas Gerais, onde o rio nasce, na Serra da Canastra, até o Oceano Atlântico, onde deságua, na divisa dos estados de Alagoas e de Sergipe. Essa vasta área integra as regiões Nordeste e Sudeste do país, percorrendo 505 municípios, em seis estados (Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe), além do Distrito Federal.
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