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Vitória da Conquista

Terapeutas do Hospital Geral de Vitória da Conquista utilizam materiais de baixo custo para levar bem-estar aos pacientes

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O Hospital Geral de Vitória da Conquista (HGVC), também conhecido como Hospital de Base, que realiza atendimentos de média e alta complexidade, conta com uma equipe de cinco mulheres atentas ao que os pacientes precisam para se sentirem mais confortáveis e terem uma boa e rápida recuperação.

É de responsabilidade delas atender pacientes de todos os setores, entre os quais clínicas médica, cirúrgica, pediátrica e emergência, além de cinco unidades de Terapia Intensiva. É uma equipe pequena para um hospital de referência na terceira maior cidade baiana e que atende à população de mais de 73 municípios da região.

Diante dessa realidade, o núcleo de Terapia Ocupacional precisou criar maneiras para superar essa limitação. A equipe de TO, como a especialidade é chamada, que já tem em sua essência o trabalho com órteses — dispositivos médicos de uso temporário que auxiliam pessoas que sofreram acidentes ou que têm doenças do sistema locomotor —, sentiu a necessidade criar protocolos-padrão para os atendimentos.

A ideia da equipe, formada por Patrícia Barreto, Andrea Regina, Carla Ramos, Milena Carvalho e Amanda Dourado, era tornar o uso de órteses rotina nos atendimentos do hospital — nos casos, é claro, em que fossem importantes para a recuperação do pacientes. Mais do que isso: a equipe assumiu a responsabilidade de produzir esses equipamentos e instruir a maneira correta de utilizá-los.

“Um dos objetivos do projeto é evitar ao máximo o tempo de internação. O paciente que tem alta mais rápido abre espaço para que outro possa ser atendido. Também trabalhamos para que ele responda melhor ao tratamento, para diminuir o agravamento da doença e que saia sem sequelas e com o máximo de independência possível”, afirma Patrícia, que trabalha no hospital desde 2012.

Paralelamente a isso, as terapeutas ocupacionais, após cursos de capacitação bancados do próprio bolso, buscaram alternativas mais baratas (já que o Sistema Único de Saúde não cobre toda a demanda por órteses) para que pudessem confeccionar esses aparelhos utilizando materiais de baixo custo, como espuma, isopor, papelão, velcro, fita crepe e cola quente. Eles substituem, por exemplo, o termoplástico, material sintético que pode ser modificado quando exposto a uma fonte de calor.

“Aos poucos, com cada paciente, conseguimos demonstrar que essas órteses eram eficazes e que alcançavam os objetivos que pretendíamos. O projeto se expandiu, virou rotina no nosso setor e as clínicas médicas passaram a solicitar o nosso atendimento. A direção do hospital reconheceu o resultado e passou a apoiar o projeto”, conta Patrícia.

Exemplo de uso das órteses produzidas pela equipe

Um apoio para membro superior, por exemplo, para um paciente que está com o punho dobrado e sem conseguir esticá-lo sozinho, custa, segundo a profissional, cerca de R$ 500 no mercado. Uma órtese desse tipo produzida pela equipe de terapia ocupacional sai por menos de R$ 50 e é feita de espuma de colchão tipo casca de ovo, velcro e cola quente. O colchão custa cerca de R$ 70 e, com ele, é possível atender até seis pacientes. Patrícia estima que o custo mensal do projeto seja de cerca de R$ 300. No ano de 2021 a equipe produziu 3.134 órteses.

Outra órtese, que Patrícia classifica como “a queridinha”, é aquela utilizada para evitar as úlceras por pressão, que são as escaras ou feridas nas costas ou região do glúteo que aparecem em pacientes que precisam passar a maior parte do tempo no leito na mesma posição. Elas são uma porta aberta para infecções hospitalares, além do desconforto que causam.

Trata-se de um rolo de posicionamento feito de acordo com a medida e o peso do paciente, utilizando espuma de colchão, malha ortopédica e filme plástico. Ele permite que o paciente fique de lado e pode ser utilizado entre os joelhos por aqueles que não conseguem esticar as pernas para evitar o atrito. “É um rolo mágico”, diz Patrícia.

As órteses são customizadas, ou seja, feitas para cada paciente. É preciso avaliar questões como o peso do enfermo e o grau de contratura ou de deformidade que ele apresenta. Isso auxilia na eficácia. Após o uso, elas são descartadas e não podem ser reutilizadas em outros doentes. Também não é permitido que eles levem a órtese para casa quando ganham alta — há risco de contaminação.

Na alta hospitalar, os pacientes são orientados e encaminhados, caso necessitem, para serviços de reabilitação física.

Alívio para os doentes de covid

Desde que a pandemia de coronavírus começou, a maneira de tratar os pacientes da doença, sobretudo os casos mais graves que precisam de cuidados intensivos, também virou um desafio para a equipe de terapia ocupacional do Hospital Geral de Vitória.

Patrícia e suas colegas criaram um kit de prona para auxiliar aqueles pacientes que, entubados ou inconscientes, precisam ser “pronados”, ou seja, colocados de barriga para baixo para que haja uma melhora da função pulmonar.

Esse kit, com diferentes tipos de órteses, permite que os pacientes fiquem na posição de maneira segura e confortável. São equipamentos para apoio do tronco, pelve, cabeça, mãos e pés.

Aprovação dos colegas

O projeto criado por Patrícia foi abraçado pela equipe do hospital. Importante ressaltar que ele é sempre feito em conjunto, em um trabalho multidisciplinar que inclui equipe médica, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas e fonoaudiólogos.

“É feita uma avaliação física, para saber como o paciente está, e outra funcional, para saber o que ele pode alcançar. Dessa forma, a gente consegue ver a pessoa de maneira mais completa”, explica Patrícia.

Além de ser aceito pela direção do Hospital Geral de Vitória da Conquista, o projeto de confecção de órteses de baixo custo também foi premiado. Em 2019, ficou em terceiro lugar no Prêmio de Boas Práticas de Trabalho no Serviço Público promovido pelo Governo do Estado da Bahia. Em 2020, obteve também o terceiro lugar no 24º Concurso de Inovação no Setor Público, realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Patrícia faz um balanço desses quatro anos de projeto. “Começamos bem pequenininho, na nossa sala, atendendo um paciente ou outro. Hoje, quando vemos as equipes médicas do hospital nos solicitando, o paciente evoluindo, tendo alta sem a contratura, o acompanhante com mais facilidade para lidar com ele, é muito gratificante. Não temos o material perfeito, mas usamos nossa criatividade”, diz, emocionada.

Reportagem compartilhada da a Republica.org

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