A bebida que disputa a popularidade entre os brasileiros tem origem africana e, como estimulante, bate ponto em escritórios, oficinas, clínicas e nos mais diversos ambientes espalhados pelo país. Já para os envolvidos na plantação e colheita do café, o cenário é de um mercado cada vez mais competitivo, em que a qualidade dos grãos faz toda a diferença.
A produção de cafés de qualidade está relacionada a uma série de fatores característicos de cada região produtora. Por esta razão, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), órgão do Governo Federal que faz o registro de marcas e patentes, também é o responsável por atribuir uma espécie de selo denominado “Indicação Geográfica” (IG), para produtos ou serviços que são referenciados por sua origem ou procedência.
A certificação garante reconhecimento, e, consequentemente, maior valor e alcance no mercado, impactando diretamente na base da produção. É com esse objetivo que a Uesb, por meio de pesquisadores e professores das áreas de Agronomia, Ciências Biológicas e Geografia, tem atuado junto a produtores de café da região.
A proposição da Indicação Geográfica para os cafés do Planalto da Conquista e da Chapada Diamantina conta com as análises e mobilização desses estudiosos e pode mudar a realidade da produção e comercialização nessas localidades.
Indicação Geográfica dos Cafés do Planalto de Vitória da Conquista
Em 2012, a Universidade esteve à frente do 1º Seminário de Indicação Geográfica para os cafés do Planalto de Vitória da Conquista, com o apoio de associações e cooperativas ligadas ao café e aos pequenos produtores. O evento foi uma primeira oportunidade de esclarecer esses trabalhadores sobre a Indicação Geográfica.
A maior produção na região é do “café arábica”, mantida, principalmente, por pequenos e médios produtores, que, somados, chegam a ocupar 90% da área cultivada. Os dados são de uma das pesquisas do então professor da Uesb, Claudionor Dutra. Hoje, aposentado pela Instituição, o pesquisador segue seus estudos e relata que “o café produzido nessa região é um produto de alta qualidade, com características especiais, influenciadas, diretamente, pelo meio geográfico e pelo saber fazer, além das várias floradas ocorridas durante o ano”.
De acordo com o pesquisador, a influência do clima permite uma colheita seletiva de cafés maduros, cujo fruto, nessa fase, expressa uma variedade de sabores. São estudos que definem o café do Planalto de Vitória da Conquista como “um produto de excelência, na doçura, acidez e aromas”.
Indicação Geográfica dos Cafés da Chapada Diamantina – Alguns anos depois, em 2019, uma nova iniciativa de pesquisadores da Uesb iniciou mais uma trajetória rumo ao reconhecimento dos cafés da Chapada Diamantina. “É um processo multidisciplinar e multi-institucional, que avançou, em 2020, quando começamos uma pesquisa participativa para relacionar a qualidade do café com o meio geográfico”, conta a professora Sylvana Matsumoto, do Departamento de Fitotecnia e Zootecnia.
Em meio ao desafio da pandemia de Covid-19, cada grupo de trabalho dos municípios envolvidos coletaram as amostras georreferenciadas, que foram submetidas a um painel sensorial. O esforço comum também desenvolveu outras etapas paralelas ao estudo, como a organização da Associação Aliança dos Cafeicultores da Chapada Diamantina (AACD), já que a IG leva em conta aspectos ambientais, culturais, biodiversidade e o conhecimento local, para o desenvolvimento sustentável do território.
De maneira geral, explica a professora, o estudo analisa como a altitude e o manejo pós-colheita determinam as características dos cafés da Chapada Diamantina. Atualmente, essa relação está sendo analisada dentro do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Uesb e a próxima etapa será o processo de concepção de uma Indicação Geográfica junto ao Inpi.
Os dez anos que se passaram desde os primeiros passos mostram que o caminho até a certificação é longo. Mesmo após a aposentadoria, o professor Claudionor Dutra segue acompanhando as etapas da IG com o grupo de pesquisadores da Uesb, que conta, ainda, com a parceria de instituições, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e de associações e cooperativas da região. “Tudo vem sendo construído, de modo participativo”, reforça a professora Sylvana Matsumoto.
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