No último fim de semana foi realizada 14ª edição do Encontro das Águas e dos Amigos, evento promovido pela Prefeitura de Carinhanha na Praça do Cais.
Além da programação de shows, com atrações como Matheus Fernandes, Chambinho do Acordeon, Maria Cecília e Rodolfo, Silvano Sales, entre outros, a festa teve uma programação cultural com o tema ‘Se encante e vire Carranca’, sinalizando para que a população reflita sobre a degradação ambiental e defenda atitudes mais sustentáveis.
Assim como as carrancas, esculturas em madeira usadas pelos ribeirinhos nas proas dos barcos para afastar os perigos e maus espíritos, o Vapor Benjamim Guimarães, embarcação histórica usada no transporte de passageiros e de cargas pelas águias do Velho Chico, também foi referenciado. Foi construída uma réplica com 8,5 metros de cumprimento, 4 metros de altura e 2,5 de largura, o que corresponde a uma escala de 5 para 1, considerando que a embarcação possui cerca de 43 metros de cumprimento.
A peça artística não foi feita para flutuar nas águas, mas é dotada rodas, o que permitiu que desfilasse em uma das alas da Caminhada Cultural pelas ruas da cidade, realizada na última sexta-feira (20). Construída com madeirite, canos de PVC, colas, restos de pneus, metalon, tábuas de madeira e ferro, a réplica tem a assinatura do artista plástico Naisson Assunção de Castro.
De acordo com a assessoria da prefeitura, o projeto nasceu junto com o tema da Caminhada Cultural e tem como objetivo denunciar a degradação ambiental e as consequências desse sistema de exploração aos recursos naturais, praticados aos longos dos anos.
“O vapor retrata explicitamente como nossas águas têm reagido e são impactadas por este sistema danoso. Objetiva nessa composição, rememorar como as águas do São Francisco eram povoadas com imponentes embarcações. E aos que não viveram essa época, ter a oportunidade de conhecer um pouco sobre as histórias das águas e dos povos ribeirinhos˜, disse a assessoria da prefeitura em nota enviada à Agência Sertão.
Ainda não foi definido um local fixo para que a réplica seja colocada em exposição. Por enquanto, ela permanecerá na Praça do Cais, no entanto, deverá ser necessária a sua remoção para outro local, sob abrigo do sol e da chuva, afim de preservar sua durabilidade.
De acordo com o fotógrafo carinhanhense Artur Viana, a última passagem do Benjamim Guimarães por Carinhanha ocorreu no ano de 1986. Na ocasião, ele correu para o cais ao saber da passagem da embarcação e conseguiu fazer um registro histórico. Entretanto, o vapor seguiu viagem sem atracar. Depois soube que se tratava de uma viagem turística após o fim de um processo de restauração.
Benjamin Guimarães
A embarcação foi construída em 1913, pelo estaleiro norte-americano James Rees e Sons e navegou alguns anos no Rio Amazonas sendo transferido para o Rio São Francisco a partir de 1920. Depois do fim das viagens longas na década de 80, o vapor transportou turistas pelo rio, sendo o único em funcionamento.
Atualmente o Benjamim está atracado fora do rio em Pirapora, onde passa por uma restauração sob responsablidade da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG). A reportagem solicitou um posicionamento do órgão sobre o andamento dos serviços e aguarda o posicionamento oficial.
Com capacidade para transportar até 140 pessoas, entre tripulantes e passageiros, ao vapor é permitido navegar em rio, lago e correnteza que não tenham ondas ou ventos fortes. O tombamento estadual foi aprovado em 1985 com inscrição no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
Como características construtivas, o bem cultural é uma embarcação fluvial de popa quadrada, com máquina à vapor de 60 cavalos de potência alimentada por lenha, e com uma capacidade máxima de estocagem de 28 toneladas de combustível. O sistema de propulsão é o de roda de pás localizado na popa, capaz de atingir até 6,5 nós de velocidade máxima. O peso descarregado é de 243,42 toneladas, podendo ainda ser acrescido de mais de 66 toneladas, possui 43,85 metros de comprimento total e 7,96 metros de largura.
O vapor Benjamim Guimarães é um dos últimos no mundo e tem sua história relacionada diretamente ao processo de implantação da navegação comercial no Rio São Francisco entre a segunda metade do século 19 e meados do século 20, participando como referência fundamental na paisagem do rio e na memória cultural coletiva local, regional e nacional. Por recomendação da Capitania dos Portos teve suas atividades interrompidas em 2015 e, desde então, aguarda recuperação da estrutura para retomar as atividades.