Ao transitar pelas ruas de Vitória da Conquista, é possível observar a diversidade de aves existentes na terceira maior cidade do estado da Bahia. Com olhar atento e ouvidos sensíveis, duas egressas do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) fizeram um levantamento das espécies de aves que são predominantes em áreas específicas do município.
Elaborado com o objetivo de reunir informações locais que sirvam como material de estudo e até proposta de conservação, o Guia de Identificação de aves do Estádio Municipal Lomanto Júnior, Vitória da Conquista, “descreve as espécies de aves do ‘Lomantão’, a fim de fornecer subsídios para estudos ecológicos, conservacionistas, de educação ambiental e, até mesmo, para ações recreativas”, esclarece a estudante Thayase Natânia Teixeira.
Com registros realizados duas vezes na semana, no período de julho a outubro de 2022, em horários de maior agitação e vocalizações das aves, a egressa estabeleceu pontos de observação e registros, totalizando seis trilhas. Para tanto, foi utilizada a metodologia de transecto de linha, que é um método de pesquisa da Biologia utilizado para levantamento de diversos animais. “Essa metodologia é, basicamente, a realização de uma caminhada (trilha) ao longo da área de estudo. Cada trilha tinha 100 metros de comprimento e era percorrida por, aproximadamente, 20 minutos. Em cada percurso, registrávamos as espécies por avistamento, com auxílio de um binóculo ou uma câmera fotográfica adequada”, explica.
Ainda segundo Thayase, o material possui o registro de 33 espécies de aves, distribuídas em 11 ordens e 18 famílias, identificadas e acompanhadas de fotos realizadas no local. “O Guia contém informações gerais sobre características morfológicas que ajudam na identificação das espécies, reprodução, alimentação, habitat e estado de conservação, conforme a lista do Ministério do Meio Ambiente (MMA)”, relata.
Já Brenda Cabral elaborou uma lista taxonômica com as espécies identificadas, classificando-as quanto a categoria alimentar e o estrato de forrageio preferencial. A área de estudo escolhida está localizada no loteamento Morada Bem Querer, bairro Candeias e gerou o trabalho “Avifauna em área verde urbana no município de Vitória da Conquista -Ba”. “A escolha da área se deu por ser uma região bem arborizada, caracterizada como uma área verde urbana”, conta. Em relação às fases do trabalho, a estudante diz que “a pesquisa foi realizada no período de março a abril de 2023, com 10 dias de amostragem, totalizando 25 horas de campo. Foram registradas 27 espécies de aves, distribuídas em 11 famílias e em quatro ordens”, completa.
Apesar da similaridade da temática, as egressas optaram por metodologias diferentes, porém, com sequência de estudos semelhantes. Brenda Cabral, por exemplo, utilizou o método de “Listas Simples”. “Esse método se baseia em realizar levantamentos aleatórios, em que o pesquisador caminha por trilhas e/ou estradas existentes na área de estudo, anotando todas as espécies observadas, ou as espécies também podem ser registradas para posterior identificação”, esclarece.
Contribuição social
As pesquisas contaram com a orientação da professora Maria Lúcia Del-Grande, do Departamento de Ciências Naturais (DCN) da Uesb. Para a docente, trabalhos identificando as aves que ocorrem em espaços urbanos contribuem para despertar nas pessoas o interesse pelos pássaros, além de proporcionar benefícios à saúde e ajudar a entender como as áreas colaboram para composição da avifauna e para manutenção da fauna regional. “Podem auxiliar, inclusive, o poder público na tomada de decisões quanto à conservação, manutenção e criação de áreas verdes urbanas”, aponta.
O ponto comum nas pesquisas das egressas é mostrar, para a comunidade acadêmica e sociedade em geral, a extensa variedade de pássaros que, muitas vezes, passam despercebidos. Segundo Brenda, a pesquisa contribui, ainda, no combate à perda da variedade biológica, além de poder definir novas metas locais de proteção da natureza. “Inventariar as espécies de aves que ocorrem em uma determinada região é de extrema importância para a conservação da biodiversidade local, pois as espécies serão documentadas, podendo servir como parâmetro para futuros levantamentos. Além disso, é uma ferramenta indispensável para o manejo e monitoramento ambiental, contribuindo com a adoção de possíveis medidas de recuperação/manutenção da qualidade ambiental”, finaliza.
Para Thayase, o mais relevante é a criação de políticas públicas para a valorização dos espaços da cidade e, principalmente, da biodiversidade. “É importante que a Rede Básica de Educação realize atividades que instiguem os alunos a visitarem o Estádio, que desenvolva aulas de campo no espaço, entre outras atividades. Essas ações contribuirão para a aprendizagem e ajudarão a criar nos estudantes um vínculo com a natureza, o qual os motivará a defendê-la no futuro”, defende.