A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em parceria com o Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Três Marias, Minas Gerais, desenvolveram um método que utiliza a piaba-do-rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus), espécie nativa da bacia do rio São Francisco para controle biológico das larvas do mosquito Aedes aegypti, causador de doenças como dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Os peixes são produzidos no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Codevasf no município.
De acordo com informações da Codevasf, o trabalho existe, desde 2018, na comunidade de Andrequicé, zona rural distante 32 quilômetros de Três Marias. “Por meio do programa, os moradores locais recebem de um a dois exemplares para serem inseridos nos reservatórios de água utilizados para garantir o suprimento da família relacionados a consumo humano, higiene, limpeza, cultivo agrícola e dessedentação animal. Durante a visita de entrega, há orientações sobre a manutenção dos peixes”, explica o chefe da Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Três Marias, Julimar Sousa.
A ideia é que esse projeto tenha continuidade em Andrequicé e até seja estendido a outras localidades na região. A espécie de piaba utilizada é bastante eficaz no controle biológico das larvas e, de acordo com os resultados técnicos obtidos, eliminou as larvas de mosquitos presentes em 96,4% dos recipientes em que foi introduzida. Além disso, não houve reincidência das larvas enquanto os peixes estavam presentes.
“O projeto foi muito importante para o combate à dengue na comunidade, com boa aceitação por parte dos moradores e redução no número de focos do mosquito e de casos notificados da doença. A população observou que, com uma ação simples, podemos evitar que o Aedes aegypti prejudique a saúde local”, afirma Sheila Cristina Alves, coordenadora de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Três Marias.
Sobre a espécie
A espécie Astyanax bimaculatus, popularmente conhecida como piaba-do-rabo-amarelo, é uma espécie nativa da América do Sul, muito comum em córregos, riachos, rios, lagoas e reservatórios de todo o Brasil. Apresenta pequeno porte e pode chegar a 13 cm de comprimento. Essas piabas são onívoras e se alimentam de frutos, vegetais, invertebrados aquáticos, ovos, larvas de outros peixes e até matéria orgânica e outros detritos.
Os exemplares são provenientes dos tanques e viveiros do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Três Marias. Após período de aclimatação em tanques circulares de metal, as piabas são preparadas para transporte e distribuição e acondicionadas em sacos plásticos contendo água e injeção de oxigênio.
Entre as recomendações dadas aos beneficiários, estão: não oferecer ração ou outros alimentos para as piabas; não utilizar produtos químicos (água sanitária, cloro ou detergentes) nos recipientes que contenham as piabas; retirar as piabas e transferi-las momentaneamente durante a limpeza dos recipientes; no caso de morte dos peixes, fazer a comunicação para que seja providenciada a reposição dos indivíduos.
“Essa é uma medida profilática que tem apresentado resultados muito positivos no combate à dengue, já que garante a eliminação do vetor ainda em sua fase larval. A ação promove, portanto, a melhoria da vida e da saúde das pessoas, por meio da utilização da espécie de peixe larvófago, que é resistente às condições ambientais e não causa nenhum impedimento para o uso da água dos recipientes”, conclui o superintendente regional da Codevasf em Montes Claros (MG), Marco Câmara.