O boletim nº 4 sobre o El Niño no Brasil em 2023 foi divulgado nesta sexta-feira (22) pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastre (Cenad).
Também nesta sexta, foi divulgado o balanço da primavera 2023. No início da semana, os órgãos divulgaram o prognóstico para o verão 2023/2024.
O documento tem o objetivo de apresentar o monitoramento, previsões e os possíveis impactos do fenômeno no país. O trabalho é resultado da parceria dos órgãos nacionais e oficiais sobre monitoramento, regulação do uso das águas, gestão de riscos e previsão do clima e tempo. Mensalmente, o conteúdo será atualizado para disponibilizar informações acerca do fenômeno e, assim, apoiar os órgãos federais e estaduais além de contribuir para a tomada de decisões governamentais referentes ao País.
De acordo com o boletim, desde junho de 2023 as condições observadas de temperatura da superfície do mar mostram um padrão típico do fenômeno El Niño. Este padrão se apresenta na forma de uma faixa de águas quentes em grande parte do Oceano Pacífico Equatorial que, próximo à costa da América do Sul, são superiores a 3°C. Desde agosto, essa região apresentou sinais de atividade convectiva anômala em associação ao desenvolvimento de nuvens profundas. Neste ano, um efeito do El Niño que, atualmente, está classificado como de intensidade forte, tem sido observado nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina com o maior volume de precipitação (chuva) acumulada.
Durante o mês de novembro as anomalias de precipitação (chuva) foram superiores a 300 milímetros (mm) entre os setores norte do Rio Grande do Sul e praticamente todo o estado de Santa Catarina. Por outro lado, na Região Norte foram observados déficits, principalmente, nos setores sul e oeste da Região, o que foi influenciado pelo aquecimento anormal do Atlântico Tropical norte.
Já nos primeiros dezenove dias do mês de dezembro, as maiores anomalias de chuva foram registradas no oeste do Amazonas e Pará e sudoeste do Rio Grande do Sul, com valores superiores a 100 mm em alguns pontos. Por outro lado, em praticamente todas as demais regiões do País as anomalias de precipitação apresentaram valores negativos.
Considerando-se a previsão de anomalia de precipitação para o período de 1 mês (de 20 de dezembro a 18 de janeiro de 2024), há indicação de condições mais úmidas do que o normal em grande parte das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte da região sudeste (MG, RJ e ES). Para as demais regiões do país a previsão indica o predomínio de condições mais secas do que o normal.
Armazenamento de água no solo e vazões dos rios
Em relação à previsão do armazenamento de água no solo para o mês de janeiro de 2024, quando, as chuvas previstas estão acima da média sobre oeste e sul da Região Norte, bem como em áreas da região central do País, serão responsáveis pela manutenção da umidade no solo, com valores maiores que 80% em algumas áreas. Em especial nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste, a previsão indica a recuperação dos níveis de umidade no solo devido ao retorno das chuvas. Os volumes de chuva previstos na Região Sul manterão os níveis de água no solo elevados, mas com menor probabilidade de gerar excedente hídrico em algumas localidades.
Há expectativas de recuperação dos níveis de água no solo em áreas do oeste da Região Nordeste e sul da Região Norte, devido a previsão do retorno gradual das chuvas. Entretanto, no norte da Região Norte e centro-leste da Região Nordeste, além de áreas do Mato Grosso do Sul, norte de Minas Gerais e Espírito Santo, a previsão indica armazenamento hídrico em níveis mais baixos.
De outubro para novembro, o Monitor de Secas indicou o avanço e o agravamento da condição de seca no Norte e no Nordeste, com destaque para o aumento da área de seca extrema no Estado do Amazonas, e surgimento de áreas de seca grave na Bahia, Alagoas e Sergipe. Pela primeira vez, o mapa mostra a situação em Roraima, com todo o seu território em situação de seca e uma área significativa com seca grave.
Na Região Sul, os níveis d’água caíram abaixo das cotas de alerta e inundação ao longo do mês de dezembro, registrando-se inundação em apenas uma estação no rio Uruguai e remanescendo a situação de alerta na estação de Alegrete no rio Ibirapuitã. Em Santa Catarina os rios Chapecó e Itajaí-Açu registraram situações de alerta e atenção, respectivamente.
Na Região Norte, as vazões apresentaram elevação nos rios tributários do rio Amazonas, atenuando ou eliminando impactos sobre navegação nos rios Purus, Juruá, Madeira, Solimões e Negro. As vazões naturais no rio Madeira em Porto Velho em dezembro, ainda que abaixo da média, apresentaram significativo aumento e estão em patamares consideravelmente acima dos observados em novembro.
Em 30 de novembro, perdeu a vigência a declaração da ANA de situação crítica de escassez hídrica do rio Madeira, e em dezembro a usina hidrelétrica de Santo Antônio voltou a operar dentro dos limites da outorga. As restrições de navegação no rio Madeira também foram revogadas pela Marinha do Brasil em dezembro, tendo em vista a elevação de níveis d’água. As vazões naturais nas usinas hidrelétricas Serra da Mesa e Tucuruí estão 78% e 73% abaixo da média para o mês, respectivamente. O armazenamento nos reservatórios do SIN reduziu de 60,9% para 56,9% e os principais reservatórios da Região Nordeste também perderam armazenamento, atingindo volume equivalente de 41,9%