A Fundação Cultural Palmares reconheceu a comunidade Vó Dola, localizada no bairro Pedrinhas, como Remanescente de Quilombo, tornando-o o primeiro quilombo urbano de Vitória da Conquista. A Portaria Nº 18O do órgão responsável pelo reconhecimento foi publicada no Diário Oficial da União do dia 18 de janeiro.
De acordo com informações da Prefeitura de Vitória da Conquista o processo de autorreconhecimento da comunidade foi iniciado em 2021 e contou com a assessoria técnica da Prefeitura por meio da Coordenação de Promoção de Igualdade Racial (Copir).
Durante este período, a Copir, por meio do seu técnico Afonso Silvestre, acompanhou todas as etapas de levantamento documental, realizou oficinas de identidade e rodas de conversa, para melhor compreensão da importância da ancestralidade, da memória e do autorreconhecimento, que foram documentados em textos e contou com a colaboração de profissionais da área de psicologia e história.
A comunidade do Beco de Vó Dola é a 33ª comunidade quilombola de Vitória da Conquista que recebeu a certificação da Fundação. Segundo o coordenador da Copir, Ricardo Pereira, tudo o que diz respeito ao povo negro deve ser recebido com muita alegria e foi assim que a coordenação recebeu a notícia do reconhecimento do quilombo urbano Vó Dola. “É o reconhecimento da história, da memória dessas mulheres que lutaram tanto em Vitória da Conquista. Então, é um bem inalienável e agora uma reparação histórica. Com isso, eles também passam a ter direitos a todas as medidas de reparação racial, os descendentes do Beco de Dola passam a ter os mesmos direitos sociais dos outros quilombolas” declarou Ricardo.
Hoje, o quilombo de Vó Dola é composto por 320 integrantes. Todos tendo laços de parentesco e vínculos comunitários, a partir das lideranças de mulheres como Vó Dola, Dona Zita e Mãe Fátima, falecida em novembro de 2018, tendo conduzido o Terreiro de Xangô por mais de 30 anos. Para a neta de Dola, Laís Gonçalves Souza, a certificação da comunidade é o reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, do legado ancestral, da força de organização de uma comunidade que resiste por décadas a diversas formas de racismo.
“O nosso plano agora será a criação da nossa associação para que a gente tenha acesso às políticas públicas de verdade. Um dos nossos maiores sonhos é o centro educacional e cultural quilombo de Vó Dola e uma horta comunitária”, explicou Laís, que relatou que no quilombo eles contam com o Terreiro de Xangô e desenvolvem projetos socioeducativos, fruto da idealização das mulheres, como a Biblioteca Comunitária Kilombeco, o Grupo Samba de Roda Negras do Beco, o grupo de percussão Marujada Mirim e o grupo coral Vozes do Beco.