Continua repercutindo bastante a informação sobre a descoberta de uma sucuri-verde de oito metros na Amazônia. A notícia se espalhou em diversos veículos de comunicação do Brasil e do mundo após uma publicação do cientista e apresentador de televisão holandês Freek Vonk.
A publicação dá a entender que se trata de uma nova espécie de sucuri-verde no norte da Amazônia, denominada Eunectes akayima, e que a descoberta foi fruto de uma pesquisa envolvendo 15 cientistas. A postagem no Instagram foi ilustrada por um vídeo no qual o apresentador aparece mergulhando em um rio ao lado da sucuri.
Alguns veículos chegaram a dizer que a cobra mostrada na publicação poderia ser a maior do mundo e a notícia ganhou destaque em vários noticiários. Houve publicações em sites e reportagens em canais de rádio e TV. Uma reportagem do jornal Bora Brasil, da Band, teve a entrada de um repórter ao vivo de Manaus para “dar a notícia”.
O vídeo também circulou bastante nas redes sociais.
No entanto, na verdade, o registro não foi feito na Amazônia, e sim no rio Formoso, no município de Bonito, no Mato Grosso do Sul, localizado em uma região próxima ao Pantanal, bioma ao sul da América do Sul. Além disso, a cobra em questão não é da mesma espécie descrita, e sim uma Eunectes murinus, espécie comum do Brasil.
O próprio Vonk confirmou a informação ao ser questionado pela reportagem da Agência Sertão. Ele disse ainda que não mediu a serpente, apenas se baseou em sua própria estatura, de 1,96 metros, e concluiu que a cobra tem oito metros por ela aparentemente ter quatro vezes o seu tamanho.
“Para mim, ela parecia quatro vezes maior que o meu tamanho, e eu tenho 1,96 metro (m). A filmagem mostra que ela tem quatro vezes o meu tamanho. Mas é discutível, porque não a medimos”, disse o holandês à reportagem.
Sucuris da América do Sul
De fato, um artigo foi publicado na edição de fevereiro da revista científica Diversity sobre a reclassificação das espécies de sucuri da América do Sul. A publicação tem Freek como um dos coautores, entretanto, nela não há nenhuma menção sobre o registro de um exemplar de oito metros e 200 quilos.
Embora a publicação no Instagram indique como localização a Amazônia, Freek disse à reportagem que não afirmou que o animal foi filmado no bioma. “Nunca afirmei que o vídeo foi feito na Amazônia. A mídia está misturando as coisas. Descrevemos uma nova espécie de sucuri verde na Amazônia, sim. A publicação contou com quinze cientistas de nove países inclusive eu. Além deste artigo incrível, publicado na revista Diversity, postei um vídeo meu nadando com uma sucuri-verde (do sul) do Brasil.
Em síntese, o artigo, que tem como título, na tradução literal para português, “Desembaraçando as Anacondas: revelando uma nova espécie verde e repensando os amarelos“, reclassifica e descreve as sucuris-verdes do norte da Amazônia como uma nova espécie, baseado na diferença genética dos exemplares examinados em relação às sucuris-verdes (Eunectes murinus) das regiões ao sul da América do Sul.
“O artigo científico que publicamos é factual, baseado na investigação do DNA de 78 espécimes. Mas, honestamente, a coisa mais importante que meu encontro com esta cobra gigante, majestosa e lendáriam enfatiza o quanto devemos valorizar e proteger o mundo natural. A sobrevivência dessas icônicas cobras gigantes está inextricavelmente ligada à proteção de seu habitat natural”, concluiu Freek.
Biólogo influenciador desmentiu a informação
Em meio há várias publicações e reportagens em veículos de imprensa, o influenciador digital brasileiro Biólogo Henrique, especialista em serpentes, desmentiu a informação sobre a existência de uma sucuri de oito metros. Ele apresentou argumentos que mostram a baixa probabilidade da informação ser verdadeira. Um deles é de que um dos autores do artigo, o pesquisador Jesus Rivas, professor da New Mexico Highlands University, é responsável pela descrição da maior sucuri-verde medida com método científico, que tinha 5,21 m.
Henrique, que é ganhador do Prêmio Ibest 2023 na categoria Influenciador Digital em Meio Ambiente e Sustentabilidade, trabalha há 20 anos como biólogo e tem milhões de seguidores nas redes sociais. Sua tese de mestrado foi sobre sucuris e ele é autor de um livro científico sobre serpentes. À Agência Sertão, ele disse que achou constrangedor a forma como as infomarções sobre o estudo foram divulgadas de forma errada.
“A falsa notícia foi amplamente divulgada e até o momento nenhum veículo que cometeu o erro se retratou para os seus leitores e telespectadores. Além de não ter registro de cobra de oito metros, o artigo não fala em nova espécie, e sim da reclassificação taxonômica, separado as duas espécies de sucuri verde e fazendo a junção das sucuris amarela, da Bolívia e de Marajó. A tal sucuri de oito metros, se existe, ainda não foi documentada. A leitura do artigo deixa claro que nada do que foi noticiado de fato ocorreu, comentou.
Além disso, o ambientalista Vilmar Teixeira, do canal Terra da Sucuri, reconheceu o animal com um dos que vive no rio Formoso, no município sul-matogrossense. A serpente, apelidado de Vovozona, é conhecida dos moradores e turistas que visitam o local. À reportagem, ele disse que a cobra nunca foi medida com precisão, mas que assegura que o animal tem menos de seis metros.
O ambientalista disse ainda que o vídeo provavelmente foi gravado no mês de julho, quando um grupo de turistas estrangeiros visitou bonito. “Pelas manchas e pelos vestígios de troca de pele consegui identificar que a cobra em questão é a Vovozona. Eu tenho milhares de registros desta sucuri, por isto que eu identifiquei”, afirmou.
O canal mantido por Vilmar no Youtube tem como foco os registros desta e de outras sucuris-verde que vivem em Bonito. Em um dos vídeos ele aparece mergulhando ao lado da mesma cobra que aparece no vídeo do apresentador holandês.
É!!!. Por onde anda essa nova espécie,o povo mentiroso.