Após ter sua história contada através das linguagens do audiovisual e da literatura, chegou o momento da manifestação cultural e de fé do Reisado do Alto Sertão da Bahia ser transportada para um espaço expositivo em uma proposta multilinguagem. No próximo dia 05 de setembro, às 18h, será lançada “Reiseiros, vida de sorte e saúde – A Exposição” no Museu do Alto Sertão da Bahia (Masb), em Caetité.
A iniciativa também traz a assinatura da produtora baiana Olho de Peixe Filmes, com parceria institucional do Masb e patrocínio da Neoenergia, do Governo do Estado da Bahia, por meio do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda. A visitação, aberta ao público, se estenderá até o dia 6 de dezembro.
O visitante poderá conferir cerca de 40 imagens de autoria do fotógrafo pesquisador das expressões artísticas e religiosas da Bahia, Ricardo Prado, sendo mais da metade inéditas. As fotografias compõem o caminho narrativo da exposição que também apresentará obras e intervenções audiovisuais, além de textos e objetos que integram a pesquisa do projeto, iniciada em 2010.
Todo o acervo fotográfico e audiovisual foi produzido em 2017, durante a documentação do projeto Trilha de Reis, que, naquela época, contemplou três produtos da obra “Reiseiros, vida de sorte e saúde” – uma websérie com dez episódios, um livro com 128 páginas, homônimos, e o documentário “Tudo tem um Tempo”, com cerca de 90 minutos – lançados em 2018, pela produtora.
“Tínhamos um acervo fotográfico bruto com mais de 800 fotografias e cerca de 50 horas de material audiovisual ainda inédito. Imagens belíssimas dos reisados do Alto Sertão Baiano que ainda não foram apresentadas ao público. Decidimos, desta vez, trazer a experiência imersiva das artes visuais para despertar uma fruição ainda mais subjetiva e direta do visitante com a manifestação de cultura e fé dos reiseiros”, explica Sabrina Alves, realizadora do Projeto Reiseiros e sócia da Olho de Peixe Filmes.
Objetos que contam histórias – Além das fotos, “Reiseiros, vida de sorte e saúde – A Exposição” traz uma curadoria de objetos impregnados de memória que fazem parte das famílias dos reiseiros e das casas que compõem o chamado “giro dos reisados” – uma peregrinação de seis dias, de casa em casa, onde o Terno de Reis visita as famílias da região levando mensagens de fé, devoção e votos de saúde por onde passam.
Também serão apresentados ao público a lapinha, que reverencia a visita dos Reis Momos ao Menino Jesus, a Bandeira do Terno de Reis, os instrumentos utilizados na manifestação cultural e objetos pessoais de integrantes da folia de Reis.
A montagem da exposição segue o mesmo ritual dos reisados. O visitante iniciará a incursão no Masb contemplando a Bandeira de Reis, objeto imantado de fé que representa a identidade de cada grupo. Na sala seguinte, intitulada “O Senhor Dono da Casa”, é retratada a “fisionomia singular” dos moradores residentes nas zonas rurais mais remotas do Alto Sertão, que, ano após ano, preservam a tradição de receber os Ternos de Reis nas suas casas.
Na sequência, ele tem a oportunidade de conhecer uma “lapinha”, espaço que mostra a devoção religiosa de origem católica dos reisados; segue pela Sala de Contradança, onde há registro fotográfico e um vídeo-instalação das danças que dão vida à celebração profana da festa; até chegar à Sala dos Instrumentos, que traz objetos musicais como o bumba, o pandeiro, a flauta, chamada por gaita pelos reiseiros, o reco-reco ou rec, e a caixa, instrumentos obrigatórios da manifestação cultural.
De acordo com Cristiano Britto, co-realizador e produtor executivo do Projeto Reiseiros, apesar de a exposição ser abrigada num dos casarões mais antigos de Caetité, que data do Século XIX, conhecido como Casarão da Chácara, sede do MASB, o projeto expográfico é contemporâneo e foi pensado para dar continuidade à itinerância da exposição.
“A montagem contempla peças geométricas que conferem maior versatilidade ao projeto e permitem sua itinerância”, revela Britto. Além dos painéis fixos, alguns com mais de 2 metros de comprimento, “Reiseiros, vida de sorte e saúde – A Exposição” também terá totens e cubos expográficos. Depois de Caetité, a expectativa é que as cidades de Salvador, Vitória da Conquista, Ilhéus e Itabuna também recebam a exposição multilinguagem.
Programação Paralela
Atividades gratuitas e socioeducativas, com oficinas e rodas de conversa, também são contempladas na programação paralela de Reiseiros. A oficina “Viva o Santo Reis”: O Reisado como manifestação cultural do Alto Sertão da Bahia” será realizada no MASB, de 14 a 28 de setembro, e tem como público-alvo a comunidade reiseira. Também estão previstas oficinas de patrimônio imaterial, TBC – Turismo de Base Comunitária, rodas de conversa e apresentações de grupos de Terno de Reis, dentre outras. Para conferir mais informações, basta acessar o perfil no Instagram www.instagram.com/reiseiros.
O Projeto “Reiseiros, vida de sorte e saúde” conta com o patrocínio da Neoenergia e do Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda. Os interessados em assistir a websérie e acessar outras informações do projeto podem visitar o site www.reiseiros.com.br
Histórico do projeto Reiseiros
A história do projeto “Reiseiros, vida de sorte e saúde” teve início em 2010, quando os sócios Cristiano Britto e Sabrina Alves da Olho de Peixe Filmes foram apresentados a uma nova representação da Folia de Reis, no alto sertão baiano, a convite do músico e parceiro Anderson Cunha. Eles conheceram uma tradição que já perdurava mais de 150 anos na região, notadamente na zona rural dos municípios de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí e, tão logo, tiveram o desejo de contribuir com a valorização da memória e desta cultura sertaneja através de um projeto multilinguagem.
Sete anos depois, voltam a Caetité – onde atualmente mantêm residência fixa – e fazem a captação de material audiovisual no ano de 2017. Assim, em 2018, lançam o projeto “Reiseiros, vida de sorte e saúde” que narra os simbolismos da tradição religiosa e cultural dos reisados sertanejos, através das vivências e visões de mundo dos seus membros mais antigos e apaixonados.
O livro homônimo tem textos assinados pela jornalista Luciana Accioly, com imagens de Ricardo Prado. O longa “Tudo tem um Tempo” traz a jornada de seis dias de peregrinação dos Reiseiros do Riacho da Vaca, comunidade que abriga um dos Ternos mais antigos da região. E a websérie, também homônima, apresenta testemunhos dos integrantes dos reisados da região, através de episódios curtos e linguagem subjetiva.
Durante as filmagens, a equipe da Olho de Peixe Filmes ficou alocada na zona rural nos sete dias de percurso do Terno, do dia 31 de dezembro de 2016 a 06 de janeiro de 2017, acompanhando de perto as experiências e situações vividas pelos reiseiros. Esta vivência culminou na efetiva realização do projeto que cumpre o papel de apresentar e preservar a identidade dos Ternos de Reis da zona rural do Alto Sertão da Bahia.
Ficha Técnica da exposição
Realização: Olho de Peixe
Idealização e organização: Cristiano Britto, Sabrina Alves
Planejamento, gestão e produção executiva: Cristiano Britto, Sabrina Alves
Pesquisa: Cristiano Britto, Sabrina Alves, Anderson Cunha, Luciana Accioly, Daniel Dourado
Fotografia: Ricardo Prado
Audiovisual: Olho de Peixe Filmes
Projeto Expográfico: Brazz
Identidade Visual: Um Pra Um
Coordenação: Poliana Gomes e Waldisney Matinga
Redes Sociais: Rec Makers
MASB – Gestão programação socioeducativa e oficinas: Hilda Bárbara e Poliana Gomes