O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), campus Salvador, tem primeira professora surda a lecionar na instituição. A docente Dominique Juliete Rodrigues assumiu o cargo de professora, após passar no processo seletivo de professores/as substitutos/as e ser convocada para atuar.
De acordo informações do Ifba, Dominique Juliete, que é professora de matemática, oferece também atendimento aos estudantes surdos.
Ela leciona em Língua Brasileira de Sinais (Libras), com o apoio de intérpretes. A docente afirma que “para que as aulas ocorram de maneira inclusiva, é fundamental contar com ferramentas específicas”.
Para Dominique, “o intérprete facilita a comunicação entre os alunos ouvintes e surdos, garantindo que todos compreendam o que está sendo ensinado. O objetivo é sempre promover um ambiente em que todos os alunos se sintam valorizados e tenham as mesmas oportunidades de aprendizado”, explica.
A estudante do curso de mecânica Karine Maria Cardoso diz que sua principal experiência com o mundo de Libras começou com sua colega de turma que é surda.
“Quando chegou a nova professora eu fiquei encantada como ‘Maria’ reagiu. Foi como se a gente tivesse trocado de lado. Ela tinha que se adaptar ao professor ouvinte e agora a gente teve que se adaptar a professora que não escuta. Foi muito interessante!”
Sobre a professora a aluna diz: “Dominique é uma ótima professora. Ela explica muito bem e eu fiquei feliz pelo Ifba não ter limitado ela porque ela explica como qualquer outro professor e a gente se adaptou bem a ela e eu estou feliz por isso”, admite.
A docente conta que desde a infância tinha afinidade com a matemática. “No ensino fundamental I, descobri que conseguia responder às questões com facilidade, o que me motivou ainda mais a aprofundar meus conhecimentos nessa área”.
Experiência no Instituto
O Ifba não é novo na vida de Dominique, já que ela foi aluna da licenciatura em matemática no Instituto, tendo sido a primeira estudante surda a defender o Trabalho de Conclusão de Curso, lá no ano de 2022.
Passar de aluna a docente em um instituto como o Ifba pode ser “uma experiência transformadora e gratificante”, segundo ela. “Essa transição muitas vezes traz uma série de reflexões sobre o próprio percurso acadêmico e profissional, além de novas responsabilidades e desafios”.
Dominique fala com carinho de sua docente: “minha ex-professora Anete [Cruz], em especial, teve um papel crucial na minha trajetória. Ela sempre me forneceu informações valiosas sobre pós-graduações, mestrados e concursos, além de me motivar a buscar novas oportunidades. Sou eternamente grata a ela por todo o incentivo e orientação que me ofereceu. Quando contei à Anete que eu tinha sido aprovada no Ifba, ela ficou feliz e emocionada, pois ela sempre foi uma grande apoiadora da minha trajetória”. A agora docente do Ifba afirma que compartilhou a notícia com a família que ficou feliz e contente.
“A alegria deles foi contagiante e tornou aquele momento ainda mais especial para mim. Também informei minhas ex-intérpretes de Libras, e elas ficaram muito orgulhosas e felizes”.
No início do mês de agosto, o grupo de intérpretes da Coordenação de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Capne) que acompanharam a trajetória de Dominique como aluna fizeram uma recepção de boas-vindas para celebrar a conquista da profissional.
Edilene David que é diretora Adjunta Pedagógica Adjunta e de Atenção ao Estudante (Depae) afirma que a novidade tem mobilizado muitos setores como a Capne, a Depae, a Diretoria de Ensino e o Departamento Acadêmico de Matemática.
Para ela, o principal destaque dessa contratação “é a representatividade junto à comunidade surda do campus, que recebeu a notícia com muita alegria e emoção”.
Representatividade e Inclusão
Dominique também argumenta sobre a representatividade: “é fundamental que pessoas com necessidades específicas, como eu, possam ser exemplos e fontes de inspiração para outras.
A presença de professores surdos em instituições de ensino, como o Ifba, é crucial para promover a inclusão e a diversidade no ambiente educacional. Sua experiência pode ajudar a mostrar que, com as adaptações certas e apoio adequado, é possível superar desafios e contribuir significativamente para a educação.
Além disso, ao se tornar um exemplo, você pode incentivar a criação de políticas e práticas mais inclusivas nas instituições, ajudando a garantir que outras pessoas com necessidades específicas sejam reconhecidas e valorizadas em suas capacidades.
A visibilidade e a representação são importantes para que mais instituições se sintam motivadas a entrar em contato e oferecer oportunidades a profissionais e estudantes com diferentes habilidades e experiências”, afirma a docente.
Para finalizar, a professora que ministra aulas em outras duas instituições de ensino acredita que “é comum enfrentar desafios como docente, especialmente em um ambiente que ainda está se adaptando para ser mais inclusivo. Esses desafios podem incluir a necessidade de sensibilizar colegas e alunos sobre a surdez e as diferentes formas de comunicação”, conclui Dominique.
*Jamile Teixeira é jornalista do Campus Salvador