Nesta terça-feira, 8 de outubro, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) publicou o Boletim Agroclimatológico de outubro de 2024. O documento contém o prognóstico climático para todo o país no próximo trimestre.
As previsões para os próximos meses indicam padrões climáticos preocupantes em várias regiões do Brasil, com chuvas abaixo da média e temperaturas acima do normal. O período de outubro a dezembro será fortemente influenciado por condições oceânicas, com destaque para a possibilidade de formação do fenômeno La Niña e variações no Atlântico.
Região Nordeste
A previsão para o Nordeste é de chuvas abaixo da média climatológica em grande parte da região. Apenas o sul da Bahia poderá ter alguma recuperação no volume de precipitação. No entanto, no interior nordestino, a seca se manterá, o que deve agravar a situação hídrica já crítica em algumas áreas.
As temperaturas devem permanecer acima da média histórica, especialmente no interior da região, onde a redução das chuvas intensificará o calor. A umidade no solo também será baixa, com exceção do sul da Bahia, que poderá ter um aumento gradual dos níveis de umidade devido ao retorno moderado das chuvas.
Região Norte
A Região Norte enfrentará chuvas abaixo da média, com exceção de áreas de Roraima e Acre, onde os volumes poderão superar as médias históricas. As temperaturas devem continuar acima do normal em toda a região, mas haverá uma leve queda nas máximas à medida que as chuvas retornem gradualmente.
Os níveis de umidade do solo estarão baixos em grande parte da região durante o mês de outubro, mas devem melhorar em novembro e dezembro, com o aumento das precipitações.
Região Centro-Oeste
No Centro-Oeste, as previsões indicam que as chuvas ficarão próximas ou abaixo da média. As temperaturas seguirão elevadas, acima da climatologia, com picos de calor intenso em algumas áreas devido à permanência de massas de ar seco e quente.
Em outubro, os níveis de umidade do solo estarão críticos, prejudicando o desenvolvimento das lavouras. Entretanto, a partir de novembro, o retorno gradual das chuvas poderá melhorar a disponibilidade hídrica no solo, especialmente no sul do Mato Grosso do Sul.
Região Sudeste
O Sudeste terá chuvas próximas ou abaixo da média, com possibilidade de precipitações um pouco acima da média apenas no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, devido à passagem de frentes frias. As temperaturas também ficarão acima da média, com destaque para o oeste de Minas Gerais e o norte de São Paulo, que enfrentarão um calor mais intenso em outubro.
A umidade do solo será baixa no início do trimestre, mas deve aumentar gradativamente a partir de novembro, com exceção do noroeste de São Paulo, onde a recuperação será mais lenta.
Região Sul
A Região Sul poderá experimentar chuvas acima da média no Rio Grande do Sul, enquanto no Paraná e Santa Catarina, as precipitações ficarão abaixo da média. As temperaturas seguirão elevadas, principalmente no Paraná e oeste de Santa Catarina.
Os níveis de umidade do solo permanecerão elevados devido às chuvas anteriores, beneficiando o desenvolvimento das culturas de inverno. No entanto, no centro-sul do Rio Grande do Sul, a umidade pode cair em dezembro.
Condições oceânicas e suas influências
A interação entre a superfície dos oceanos e a atmosfera desempenha um papel crucial nas condições do tempo e do clima em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil. Fenômenos como o El Niño-Oscilação Sul (ENOS), no Oceano Pacífico Equatorial, e o gradiente térmico do Oceano Atlântico Tropical, conhecido como Dipolo do Atlântico, são exemplos claros dessa interação.
Atualmente, o Atlântico Tropical Norte apresenta temperaturas mais quentes que o normal, com uma anomalia de 0,6°C acima da média em setembro de 2024. Em contraste, o Atlântico Tropical Sul está com temperaturas ligeiramente acima da média, com um aumento de 0,1°C.
Esse cenário influencia diretamente as chuvas no Brasil: quando o Atlântico Tropical Sul está mais quente e o Atlântico Tropical Norte mais frio, a ocorrência de chuvas no norte do país é favorecida (Dipolo Negativo). No entanto, o padrão observado em setembro, com águas mais quentes no Atlântico Tropical Norte (Dipolo Positivo), tende a reduzir as chuvas na região.
No Oceano Pacífico Equatorial, as anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) na área denominada Niño 3.4 indicam a presença de condições de El Niño desde o início de 2024, com valores superiores a 0,5°C. No entanto, entre fevereiro e abril, essas anomalias começaram a diminuir, e em maio, os valores caíram para menos de 0,5°C, sinalizando o fim do El Niño e o início de condições de neutralidade, com anomalia de 0,3°C acima da média.
Nos meses mais recentes, as anomalias de temperatura se mantiveram entre 0 e -0,5°C, indicando que o Pacífico está em fase de Neutralidade. No entanto, os modelos de previsão do APEC Climate Center (APCC) indicam uma transição para o início de La Niña no trimestre de outubro a dezembro de 2024, com uma probabilidade de 80%.
Esse fenômeno pode continuar durante o trimestre de novembro a janeiro de 2025, com uma probabilidade de 70%. La Niña, tradicionalmente, provoca padrões de chuvas abaixo da média em partes do Nordeste e Norte do Brasil, além de temperaturas mais baixas em algumas regiões do Sul.
Essa dinâmica oceano-atmosfera deve ser acompanhada de perto, pois influencia diretamente as condições climáticas no Brasil, afetando desde a agricultura até o abastecimento hídrico em várias regiões do país.