Entenda o que está por trás das brigas entre torcidas organizadas | Agência Brasil

Torcidas organizadas são ambientes que intensificam as emoções. Em alguns casos, celebram o amor pelo time; em outros, como presenciado entre torcedores do Sport e Santa Cruz no Recife, tornam-se palco de hostilidades. Essa violência é reflexo de questões sociais mais abrangentes, conforme especialistas apontam, revelando uma sociedade onde a violência já está inserida no cotidiano.

O sociólogo Edergênio Vieira sugere que é necessário manter o futebol como uma fonte de lazer e diversão, sem ser motivo para disseminação de violência. Ele destaca que o futebol vai além do esporte, simbolizando o que é ser brasileiro, com suas paixões e impulsos. Porém, também expõe a violência do dia a dia.

Outros pesquisadores abordaram como a relação histórica do futebol foi transformada. Inicialmente elitizado, o esporte se popularizou, tornando-se acessível a jovens de baixa renda que encontram nas torcidas um grupo de pertencimento. Essa coletividade lembra momentos de catarse, semelhantes ao que ocorre em celebrações religiosas. No entanto, surge também um espaço que pode amplificar comportamentos problemáticos.

Conflitos têm, entre seus motivadores, o efeito manada citado por especialistas. Indivíduos sentem-se fortalecidos no grupo, realizando ações que não fariam de forma isolada. O psicólogo Pedro Henrique Borges, com sua experiência em torcidas organizadas, ressalta que algumas dessas torcidas acolhem pessoas rejeitadas em outros espaços, proporcionando pertencimento, mas também sendo aproveitadas por pessoas com perfis extremamente violentos.

Ainda segundo Borges, portadores de perfis psicopáticos podem se inserir nesses grupos para expressar suas tendências agressivas. Além disso, essas torcidas assumem, muitas vezes, uma função emocional significativa, especialmente para homens, permitindo que expressem afeto e emoções que a sociedade frequentemente inibe em outros contextos.

A violência no futebol é reflexo de valores impregnados na sociedade brasileira. Vieira destaca que essa cultura é evidenciada pelo desprezo ao adversário, intensificando rivalidades desnecessárias. É fundamental valorizar a vitória e a derrota, promovendo outro sentido ao esporte. Assim como Borges, Vieira acredita que a solução passa por educação e políticas que desenvolvam o senso crítico dos torcedores.

Os especialistas indicam medidas funcionais para lidar com a violência. A criação de cadastros nacionais de torcedores e tecnologias de reconhecimento facial nos estádios ajudariam a excluir os indivíduos violentos. Já a exclusão geral de torcidas organizadas é vista como ineficaz. As autoridades também têm papel crucial, pois trabalhos de inteligência mais eficientes poderiam antever conflitos e evitar confrontos combinados via redes sociais.

Por fim, Vieira reforça a necessidade de diferenciar instituições e torcidas, mesmo com laços evidente em algumas situações. Ressalta que a impunidade às ações violentas é um dos maiores problemas, incentivando a repetição de comportamentos abusivos. Sem punições severas e ações preventivas, atitudes criminosas podem continuar a se manifestar nos estádios e fora deles.

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