O Brasil registrou mais de 34 mil casos de hepatite viral em 2024, com cerca de 1,1 mil mortes diretas relacionadas à doença. Os dados preocupam e reforçam a importância do Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, celebrado neste 28 de julho, data estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para mobilizar ações de prevenção, diagnóstico e tratamento.
A hepatite viral é uma inflamação do fígado causada por cinco tipos de vírus: A, B, C, D e E. No Brasil, os tipos B e C são os mais prevalentes. Em grande parte dos casos, a infecção é crônica, evoluindo de forma silenciosa ao longo dos anos até provocar complicações graves como fibrose hepática, cirrose ou câncer de fígado.
A OMS tem como meta, até 2030, reduzir em 90% a incidência das hepatites B e C e em 65% a mortalidade causada por essas infecções.
Formas de transmissão e prevenção
Segundo o infectologista Pedro Martins, professor da Afya Educação Médica, os vírus da hepatite são divididos por formas de transmissão:
A e E são transmitidos por via fecal-oral, ou seja, pelo consumo de água ou alimentos contaminados.
Já os tipos B, C e D são transmitidos por contato com sangue contaminado, principalmente ao compartilhar objetos como alicates, lâminas de barbear e escovas de dentes, ou ainda durante o sexo sem proteção.
“A hepatite A pode ser transmitida durante o sexo oral com contato entre boca e ânus, e as hepatites B, C e D, durante a penetração”, explica o especialista.
Uma das principais estratégias de prevenção é a vacinação. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente vacinas contra as hepatites A e B. A vacina contra hepatite B também protege contra o vírus tipo D, que só infecta quem já possui o tipo B.
Vacinação e impacto na redução de casos
A vacinação tem sido determinante na queda de casos. Em 2013, a taxa de detecção da hepatite B era de 8,3 casos por 100 mil habitantes; em 2024, esse número caiu para 5,3. Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, é possível erradicar a doença por meio da cobertura vacinal ampla.
“Não há reservatório do vírus da hepatite B fora do ser humano. Se vacinarmos 100% da população, eliminamos novos portadores crônicos e, com isso, a cadeia de transmissão. Estamos acumulando gerações vacinadas desde a década de 1990 e caminhamos para uma geração sem hepatite B”, afirma Kfouri.
A vacina contra hepatite A também demonstrou alta eficácia. Antes de sua inclusão no calendário infantil, em 2013, o país registrava 903 casos anuais entre crianças menores de 5 anos. Em 2024, esse número caiu para apenas 16 casos, uma redução de mais de 98%.
No entanto, a faixa etária entre 20 e 39 anos tem apresentado aumento nos casos, principalmente entre homens. Em resposta a surtos identificados em homens que fazem sexo com homens, o Ministério da Saúde passou a recomendar a vacinação para usuários de PrEP (profilaxia pré-exposição).
Hepatite C: sem vacina, mas com tratamento eficaz
Embora não exista vacina para a hepatite C, tipo mais comum e mais letal entre as hepatites virais, há tratamento eficaz. Em 2024, o Brasil notificou 19.343 novos casos e 752 mortes causadas pela doença.
O diagnóstico pode ser feito por exames laboratoriais e o tratamento com antivirais pode curar mais de 95% dos infectados.
“Se o tratamento é iniciado de forma oportuna, as consequências são mínimas. Mas quando o vírus permanece no organismo por anos, mesmo sem sintomas, pode evoluir para cirrose hepática e câncer, mesmo em quem não consome bebidas alcoólicas”, alerta Pedro Martins.
Calendário vacinal e grupos prioritários
A vacina contra a hepatite B deve ser aplicada já nas primeiras horas de vida, seguida por doses aos 2, 4 e 6 meses de idade. Gestantes que não comprovarem vacinação também devem ser imunizadas, pois a transmissão pode ocorrer durante a gestação, parto ou amamentação.
O avanço na cobertura vacinal e o diagnóstico precoce são fundamentais para o controle e erradicação das hepatites virais, que seguem sendo uma ameaça silenciosa à saúde pública no Brasil e no mundo.