A economia brasileira continua aquecida, mantendo o mercado de trabalho resiliente frente à política monetária de juros altos. Economistas consultados pela Agência Brasil, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apontam que o Brasil segue criando empregos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação no trimestre encerrado em junho atingiu 5,8%, a menor já registrada desde o início da série histórica em 2012.
O levantamento também revelou um recorde no número de pessoas ocupadas, totalizando 102,3 milhões, um aumento de 1,8 milhão em relação ao primeiro trimestre. O número de trabalhadores com carteira assinada chegou a 39 milhões, e o rendimento médio mensal alcançou R$ 3.477.
O economista Gilberto Braga, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), destacou a surpresa com a taxa de desocupação abaixo de 6%, especialmente em um período de alta dos juros, com a Selic atualmente em 15% ao ano. Braga ressaltou o aumento da contratação formal, a redução da informalidade e o crescimento da remuneração média.
Impacto dos juros
A taxa básica de juros, a Selic, é definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e é a principal ferramenta para controlar a inflação, que está acima do limite máximo da meta desde setembro de 2024.
Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou 5,35% em 12 meses. A Selic foi elevada para 15% em junho, o maior patamar desde julho de 2006.
O economista Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), descreveu o cenário econômico como “contraditório”, com o mercado de trabalho acompanhando o ritmo da atividade econômica, apesar dos juros elevados.
Segundo Sandro Sacchet, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o mercado de trabalho demora a responder às variações na Selic. Ele aponta que a manutenção dos valores do Bolsa Família em R$ 600 e a maior inserção de trabalhadores por conta própria são fatores que sustentam o emprego. A Pnad indica que 25,7 milhões de pessoas trabalham por conta própria, a maioria sem CNPJ.
Adriana Beringuy, do IBGE, observa que entre 75% e 80% desses trabalhadores são informais, o que torna o mercado de trabalho mais dependente do consumo das famílias. Sacchet alerta que, com o tempo, a Selic alta afetará a taxa de desemprego.
Perspectivas
Para Rodolpho Tobler, nos próximos seis meses e em 2026, o ritmo de crescimento do mercado de trabalho pode desacelerar, acompanhando uma possível desaceleração econômica. Ele não espera um aumento significativo na taxa de emprego ou demissões em massa, mas uma desaceleração no ritmo de crescimento observado desde 2023.
Sandro Sacchet prevê uma “pequena elevação” na taxa de desemprego, que deve cair no final do ano com as contratações de Natal. Ele estima que a taxa de desemprego permanecerá abaixo dos níveis do ano passado até o final de 2025.