FOTO: REPRODUÇÃO | FERNANDO FRAZÃO - AGÊNCIA BRASIL
Projeto busca tratar doença de Chagas perto da casa dos pacientes

Projeto busca tratar doença de Chagas perto da casa dos pacientes

Um novo protocolo para o controle da doença de Chagas está em fase de testes no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, uma das regiões com maior prevalência da enfermidade. A estratégia principal é descentralizar o tratamento, permitindo que ele seja realizado na cidade onde o paciente reside. Atualmente, os pacientes precisam se deslocar para unidades especializadas, como a Casa de Chagas, no Recife, que concentra a maioria dos atendimentos no estado.

De acordo com o Ministério da Saúde, um dos grandes desafios é o diagnóstico, pois a doença de Chagas não apresenta sintomas específicos logo após a infecção. A infecção geralmente se torna crônica de forma silenciosa, desenvolvendo complicações, principalmente no coração, o que resulta na morte de cerca de 4,5 mil pessoas no Brasil por ano. Quando a doença é descoberta precocemente, o tratamento com medicamentos pode evitar complicações.

Segundo a Organização Panamericana da Saúde (Opas), menos de 10% das pessoas com doença de Chagas nas Américas são diagnosticadas, e menos de 1% das que têm a doença recebem tratamento antiparasitário. Como consequência, a maioria dos pacientes só descobre a doença em estágios avançados. Por isso, o projeto-piloto em Pernambuco foi nomeado “Quem tem Chagas, tem pressa”.

Testes rápidos

Na primeira etapa do projeto, profissionais de saúde, estudantes da área e moradores das cidades de Triunfo e Serra Talhada participaram de atividades de formação sobre a doença. Na segunda fase, cerca de mil pessoas nos dois municípios foram submetidas a testes rápidos, que revelaram que 9% dos moradores testaram positivo para a doença. O médico da Casa de Chagas, Wilson Oliveira, responsável pelo projeto, afirmou que a média de positividade dos testes no país varia de 2% a 5%.

A gerente de Vigilância das Arboviroses e Zoonoses da Secretaria de Saúde de Pernambuco, Ana Márcia Drechsler, destacou que o teste rápido é um dos principais ativos do projeto, já que atualmente todos os casos suspeitos precisam fazer um exame de sorologia no centro de referência, localizado a oito horas de distância de carro. O teste sorológico leva até 45 dias para ficar pronto, enquanto o teste rápido fornece resultados em minutos.

Os testes utilizados no projeto são produzidos pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Biomanguinhos/Fiocruz). Em setembro, começa a fase de tratamento dos pacientes que tiverem a infecção confirmada, e o projeto prevê que eles possam realizar o tratamento próximo de casa. Wilson Oliveira enfatiza a importância dessa abordagem para que todos possam concluir o tratamento, que dura 60 dias.

Doença negligenciada

Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a doença de Chagas é transmitida principalmente pela picada do inseto barbeiro contaminado, mas também pode ser adquirida pela ingestão de alimentos infectados, por transmissão sanguínea ou de mãe para filho durante a gravidez e o parto. Historicamente, a prevalência está associada a regiões rurais com habitação precária, onde o barbeiro é mais encontrado.

O agricultor Roberto Barbosa dos Santos, de Triunfo, compartilha sua experiência de diagnóstico tardio da doença. Ele suspeita que tenha herdado a doença da mãe, que morreu de infarto, e outros oito irmãos também têm a doença. Roberto foi diagnosticado na idade adulta e não teve acesso a tratamento precoce. Hoje, ele usa um marcapasso e participa do projeto como presidente da filial de Triunfo da Associação dos Pacientes Portadores de Doença de Chagas.

A Diretora de Saúde Global e Responsabilidade Corporativa da Novartis Brasil, Michelle Ehlke, acredita que o projeto em Pernambuco pode se tornar referência para políticas públicas em todo o Brasil. A empresa é parceira institucional do projeto e planeja expandi-lo, fortalecendo a atenção primária como porta de entrada qualificada em regiões com acesso limitado.

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