Nesta segunda-feira, 11 de agosto, a TV Brasil apresenta, às 23h, um novo episódio do programa Caminhos da Reportagem, com o tema Adolescência conectada ao perigo. O episódio analisa a relação entre grupos na internet e o aumento de casos de crianças e adolescentes envolvidos em crimes.
De acordo com a TV Brasil, no Brasil, 95% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos estão conectados, totalizando cerca de 25 milhões de jovens. Apesar das plataformas digitais como Discord, TikTok, Instagram, Facebook e X/Twitter terem faixas etárias indicadas, o acesso é livre e sem fiscalização.
Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil, destaca que os problemas vão desde desafios virtuais até comportamentos de risco. “Por meio de um celular, eles podem acessar conteúdos de extrema violência, se conectar com criminosos e até serem recrutados para o cometimento de crimes bárbaros”, alerta.
Atenção aos sinais
O programa traz casos reais que ilustram essa situação. Em 2022, um jovem de 18 anos, ex-aluno de uma escola de Vitória (ES), planejou um ataque articulado em grupos online. “Começou a se vestir de preto, se trancava no quarto conectado à internet e ficou mais irritado”, lembra a mãe.
Timpa, jovem negro de origem humilde, foi cooptado por grupos extremistas. “Me pegaram no discurso de ‘homem beta’. Culpavam as mulheres por tudo. Só depois percebi que havia racismo, neonazismo e ameaças. Quando tentei sair, recebi ameaças graves e tive problemas de saúde”, relata.
O procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Fábio Costa Pereira, defende que os pais precisam observar os sinais. “Acham que o filho é quieto, que só joga no quarto, mas não estranham ele passar seis ou sete horas seguidas isolado”, diz.
No Ministério da Justiça, o Ciberlab, um hub de segurança cibernética, monitora crimes virtuais 24 horas por dia. “Já vimos meninos obrigarem meninas a se mutilarem com estiletes e marcarem o nome deles nas partes íntimas. É perverso”, afirma Alessandro Barreto, coordenador do laboratório.
Em São Paulo, a delegada Lisandrea Colabuono ressalta que “o cyberbullying, que muitos minimizam, é o gatilho para automutilações”. Nos últimos seis meses, o núcleo paulista monitorou 300 alvos e salvou mais de 120 vítimas. Luiza Teixeira, especialista da Unicef, evidencia que existem ferramentas eficazes para detectar e remover conteúdos de abuso, “mas falta uma legislação que obrigue o uso”. Para ela, “as big techs têm responsabilidade nisso”.
Capacitação e diálogo
Após ataques a escolas no Rio Grande do Sul, o Ministério Público passou a capacitar educadores para identificar sinais de risco. “Houve um caso em que a diretora agiu após uma capacitação. O aluno, que sofria bullying e apresentava comportamento estranho, foi atendido a tempo”, relata Fábio Costa.
Isolamento repentino e interesse por violência são sinais que merecem atenção. “Mudanças de comportamento, transtornos do sono, da alimentação, vida sedentária, problemas de saúde mental, irritabilidade e agressividade. Isso tudo acende uma luz de alerta”, enfatiza a pediatra Evelyn Eisenstein.