A Academia Brasileira de Ciências (ABC) lançou o relatório Microplásticos: um problema complexo e urgente, que analisa os efeitos do descarte inadequado de microplásticos e propõe estratégias de combate à contaminação ambiental, especialmente em rios e oceanos.
De acordo com a Academia Brasileira de Ciências, o Brasil contribui anualmente com até 190 mil toneladas de lixo no ambiente marinho. A produção global de plástico é estimada em 400 milhões de toneladas por ano, com menos de 10% sendo reciclado.
Cerca de 80% dos resíduos plásticos que chegam ao mar têm origem em atividades terrestres, como turismo, indústria, ocupação urbana desordenada e má gestão de resíduos sólidos. Os 20% restantes são provenientes de atividades marítimas, como transporte e pesca.
“Enfrentar a poluição por microplásticos exige uma ação coordenada entre governo, setor produtivo, comunidade científica e sociedade. Precisamos rever estratégias nacionais e investir em educação, inovação e regulação para proteger a saúde humana e os ecossistemas”, afirmou Helena Nader, presidente da ABC.
Impactos e estratégias de combate
Os resíduos plásticos, ao chegarem ao oceano, são dispersos por marés, correntes e ventos, causando impactos ambientais, sociais e econômicos. Eles podem ser ingeridos por animais marinhos e outros seres vivos da cadeia alimentar. Microplásticos também foram encontrados em órgãos humanos, como placentas e cordões umbilicais, representando riscos à saúde.
Adalberto Luis Val, vice-presidente da ABC para a Região Norte, destacou a necessidade de ações coordenadas: “O relatório propõe um conjunto robusto de ações concretas, que exigem a atuação coordenada entre governo, setor produtivo e sociedade. Não podemos mais tratar os plásticos como descartáveis. É hora de assumir a responsabilidade pelo ciclo completo desses materiais, desde a produção até o descarte e a reciclagem”.
Para mitigar o impacto da poluição por microplásticos, os pesquisadores propõem seis estratégias principais:
- Governança: Revisar o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar de 2019, reforçando o combate aos microplásticos e fortalecendo a discussão sobre o Tratado sobre a Poluição Ambiental por Plásticos.
- Ciência, tecnologia e inovação: Aumentar investimentos em reciclagem, reutilizar produtos plásticos e substituir polímeros sintéticos por biodegradáveis.
- Fomento e financiamento: Criar mecanismos de avaliação de riscos à saúde e usar nanotecnologia para reaproveitamento de materiais.
- Capacitação: Qualificar catadores e capacitar professores em escolas de nível fundamental e médio.
- Circularidade dos plásticos: Promover mudanças na legislação para descarte e recolhimento apropriado de materiais plásticos.
- Educação ambiental e comunicação: Criar políticas governamentais para estimular a educação ambiental e campanhas sobre descarte e reciclagem de plásticos.