O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apresentou a edição de agosto de 2025 do seu Boletim Agroclimatológico Mensal, um recurso com informações importantes para as atividades do campo.
O boletim visa fornecer informações meteorológicas direcionadas ao setor agropecuário, com análises climáticas históricas, um panorama de fenômenos de grande escala e prognósticos climáticos exclusivos.
A publicação está disponível em formato eletrônico e é resultado de uma reavaliação técnica interna do Instituto e de sugestões de usuários técnicos do meio rural.
Prognóstico Agroclimático para Agosto, Setembro e Outubro de 2025 (ASO)
O prognóstico para o trimestre ASO de 2025, elaborado a partir de um modelo objetivo multi-modelo em cooperação com o CPTEC/INPE e a FUNCEME, indica tendências específicas para cada região do Brasil.
Região Norte
- Precipitação: Volumes de chuva abaixo da média histórica são esperados, especialmente em Roraima, Rondônia, leste do Amazonas, sul e noroeste do Pará, Amapá e oeste de Tocantins, com reduções de até 30 mm. No extremo noroeste do Amazonas, contudo, são previstos volumes acima de 10 mm em relação à média.
- Temperatura: As temperaturas médias do ar devem prevalecer acima da média histórica em quase toda a região, com desvios de até 1,0°C em áreas como Amapá, Pará, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Elevações de até 2,0°C são previstas na região central do Pará e na divisa com Tocantins.
- Armazenamento Hídrico e Seca: Níveis elevados de umidade no solo são esperados no noroeste do Amazonas e norte de Roraima (superiores a 60%). No entanto, um declínio progressivo dos estoques de água no solo é previsto para o sul e sudeste do Pará, Rondônia, leste do Acre, Tocantins e sul do Amazonas, onde os percentuais podem ficar abaixo de 30%. A intensificação das condições de seca é projetada para o sul e centro do Pará, Rondônia e Tocantins, estendendo-se para o norte do Pará e Amapá em setembro e outubro, o que demanda atenção especial ao manejo hídrico para cultivos.
Região Nordeste
- Precipitação: Volumes de chuva abaixo da média são esperados em partes do Maranhão, oeste do Piauí, norte do Ceará e extremo sul da Bahia. Em contraste, o litoral leste de Alagoas, Sergipe e Pernambuco deve registrar volumes acima da média (superiores a 10 mm). As demais áreas do Nordeste devem ter chuvas dentro da média histórica.
- Temperatura: As temperaturas do ar deverão permanecer acima da média histórica em todo o Nordeste, com valores entre 0,5°C e 1,0°C acima, sendo as maiores elevações esperadas para Ceará, Piauí, Maranhão e oeste da Bahia.
- Armazenamento Hídrico e Seca: Estoques de água no solo permanecem satisfatórios nas áreas costeiras do Rio Grande do Norte até a Bahia (acima de 60% até setembro). No interior, os níveis continuarão reduzidos, abaixo de 30%, especialmente no norte do Ceará e centro-leste de Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. O déficit hídrico se intensificará em setembro e outubro no Maranhão, Piauí, Ceará, oeste do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e semiárido da Bahia.
Região Centro-Oeste
- Precipitação: O prognóstico indica volumes de chuva abaixo da média em todos os estados da região, com redução de até 30 mm. A região está em seu período seco, o que favorece o aumento da incidência de queimadas e incêndios florestais.
- Temperatura: As temperaturas devem permanecer acima da média em toda a região, com valores entre 1,0°C e 2,0°C acima da média histórica, especialmente no Mato Grosso do Sul e no sul de Mato Grosso e Goiás, devido à atuação de massas de ar seco e quente.
- Armazenamento Hídrico e Seca: Uma redução progressiva dos níveis de umidade do solo é prevista de agosto a outubro. Em Goiás e no sul do Mato Grosso, os estoques hídricos deverão permanecer abaixo de 30%. Contudo, no sul do Mato Grosso do Sul, são previstos níveis superiores a 60%. O déficit hídrico se intensifica continuamente, podendo ultrapassar 100 mm em áreas do leste de Mato Grosso e oeste de Goiás, afetando cultivos e favorecendo queimadas.
Região Sudeste
- Precipitação: A previsão climática indica chuvas abaixo da média histórica em todo o Sudeste, com decréscimo de até 30 mm. As maiores reduções (até 50 mm) são esperadas nas áreas de divisa entre Minas Gerais e São Paulo.
- Temperatura: As temperaturas médias do ar tendem a permanecer acima da média histórica em toda a região, principalmente no oeste de São Paulo e Triângulo Mineiro (MG), onde podem ficar até 2,0°C acima.
- Armazenamento Hídrico e Seca: Há previsão de baixa disponibilidade hídrica no centro-sul de Minas Gerais, parte do Triângulo Mineiro, Rio de Janeiro, Espírito Santo e norte paulista (abaixo de 30%). Áreas no sul e leste de São Paulo, no entanto, devem ter condições mais favoráveis (entre 50% e 90%). A deficiência hídrica deve predominar, especialmente em setembro e outubro, com valores entre -60 mm e -130 mm no norte de Minas Gerais.
Região Sul
- Precipitação: Volumes de chuva acima da média histórica são previstos para Santa Catarina e Rio Grande do Sul (até 50 mm acima da média neste último), bem como no sul do Paraná. Partes do centro e norte do Paraná podem ter chuvas dentro ou abaixo da média.
- Temperatura: As temperaturas do ar permanecerão acima da média em toda a região, principalmente no noroeste de Santa Catarina, onde os aumentos podem chegar a 2°C.
- Armazenamento Hídrico e Excedente: Níveis elevados de umidade no solo devem se manter, com valores entre 70% e 90% em praticamente toda a região, próximos à capacidade de campo. O excedente hídrico deverá predominar, com destaque para o centro do Paraná e parte do Rio Grande do Sul (até 150 mm positivos), o que é favorável ao desenvolvimento de culturas de inverno.
Condições Oceânicas Observadas e Tendências
A interação entre oceanos e atmosfera exerce um impacto significativo no clima brasileiro, sendo o El Niño-Oscilação Sul (ENOS) no Pacífico Equatorial e o Dipolo do Atlântico os principais fenômenos.
- Dipolo do Atlântico: Em julho de 2025, o Dipolo do Atlântico caracterizou-se por uma condição de neutralidade, com anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) de 0,17 °C no Atlântico Tropical Norte e -0,06 °C no Atlântico Tropical Sul. O leve aquecimento no Atlântico Norte e o leve resfriamento no Atlântico Sul, em relação ao mês anterior, contribuíram para o deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) em direção ao norte, o que desfavoreceu a formação de chuvas na costa norte da Região Nordeste.
- ENOS (El Niño-Oscilação Sul): As anomalias médias mensais de TSM na região Niño 3.4 do Pacífico Equatorial apresentaram valores próximos de zero nos últimos meses, reforçando a persistência das condições de neutralidade (desvios entre -0,5 °C e 0,5 °C). O modelo de previsão do IRI aponta para uma permanência das condições de neutralidade durante o trimestre ASO de 2025, com 62% de probabilidade.
Resumo das Condições Climáticas Observadas em Julho de 2025
Durante julho de 2025, as condições climáticas no Brasil apresentaram contrastes regionais significativos.
Precipitação:
- Maiores acumulados (superiores a 150 mm) foram registrados no extremo norte da Região Norte e no litoral da Região Nordeste, mantendo a umidade do solo nessas áreas.
- Destaques no Norte incluem Caracaraí (RR) com 412,0 mm e Soure (PA) com 364,2 mm. No Nordeste, João Pessoa (PB) registrou 323,2 mm e Natal (RN) 202,4 mm.
- A Região Sul teve distribuição satisfatória, com volumes acima de 40 mm em Santa Catarina e centro-oeste do Paraná, e acima de 90 mm no sul do Rio Grande do Sul, garantindo elevados níveis de armazenamento hídrico (superiores a 70%).
- Em contrapartida, o interior do Nordeste, partes do Centro-Oeste e Sudeste registraram volumes inferiores a 40 mm, resultando em redução do armazenamento hídrico no solo (abaixo de 30%).
- No Centro-Oeste, quase toda a região teve registros inferiores a 20 mm, com armazenamento hídrico abaixo de 20%, impactando cultivos de feijão de terceira safra.
- No Sudeste, chuvas foram predominantemente inferiores a 20 mm, com exceção do sudeste do Espírito Santo, extremo sul de São Paulo e maior parte do Rio de Janeiro.
Temperaturas:
- As médias das temperaturas máximas superaram 30 °C no centro-norte do país, ultrapassando 34 °C em Tocantins e Pará, e 28 °C em grande parte do Nordeste. Destaques incluem São Félix do Xingu (PA) com 36,8 °C e Oeiras (PI) com 36,6 °C.
- No Sudeste e Sul, as máximas variaram entre 24 °C e 26 °C, com exceção do noroeste do Paraná, que atingiu 25,9 °C.
- As temperaturas mínimas médias foram superiores a 16 °C na maior parte do Norte e meio-norte do Nordeste. Já em grandes partes do Sudeste e Centro-Oeste, as mínimas variaram entre 12 °C e 16 °C.
- Áreas mais elevadas de Minas Gerais e São Paulo registraram valores entre 10 °C e 12 °C, e na Região Sul, as mínimas ficaram entre 2 °C e 10 °C, com destaques como Monte Verde (MG) com 4,2 °C e Vacaria (RS) com 4,6 °C.
De acordo com o Inmet, as informações do boletim são vitais para auxiliar o planejamento e as ações do setor agrícola, permitindo uma gestão mais eficiente diante dos desafios e oportunidades climáticas.