Um estudo conduzido por pesquisadoras brasileiras revelou que as Terras Indígenas, especialmente as legalizadas, têm um impacto significativo na redução de doenças causadas por queimadas e doenças infecciosas tropicais em cidades localizadas até 500 quilômetros de distância. A pesquisa analisou dados dos primeiros 20 anos deste século, abrangendo os nove países da região amazônica.
De acordo com a Agência Brasil, o estudo, publicado na revista científica Nature, destaca a importância do reconhecimento legal das Terras Indígenas (TIs) não apenas para conter o desmatamento, mas também para melhorar a saúde humana local. O equilíbrio entre modos de vida tradicionais e a sustentabilidade dos recursos naturais pode ser comprometido por mudanças socioeconômicas e ambientais, ameaçando a dinâmica ecológica essencial para prevenir o surgimento de doenças.
A pesquisa, liderada por Julia Barreto, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), e Paula Prist, do Forests and Grassland Program, analisou o impacto do material particulado de queimadas, que pode viajar até 500 quilômetros, afetando a saúde respiratória e cardiovascular. Paula Prist explicou que esse poluente irrita mucosas, afeta a respiração e se acumula no sistema sanguíneo.
Julia Barreto destacou que a análise de grandes extensões de dados no tempo e no espaço enriquece o modelo de pesquisa, permitindo uma resposta mais robusta. A colaboração com cientistas de outros países da Amazônia permitiu comparar dados sobre doenças causadas por poluição e agentes infecciosos, como malária e leishmaniose.
As conclusões indicam que as TIs legalmente protegidas reduzem o impacto das queimadas e a disseminação de doenças infecciosas. Paula Prist explicou que é necessário mais floresta para proteger municípios degradados, e as TIs desempenham um papel crucial nesse equilíbrio. O estudo confirmou que territórios indígenas legalmente reconhecidos oferecem maiores benefícios à saúde humana.
A associação entre essas terras e os benefícios à saúde é complexa e varia conforme as doenças estudadas. Para doenças respiratórias, a relação é direta: maior integridade florestal resulta em menor impacto na saúde dos moradores. Municípios com menor preservação fora das TIs dependem mais dessas reservas para mitigar os efeitos das queimadas.
O estudo sugere que proteger mais áreas florestais sob manejo indígena poderia reduzir significativamente os poluentes atmosféricos e melhorar a saúde humana. Outros fatores, como a estrutura da paisagem e a perda de biodiversidade, também influenciam essa dinâmica e requerem estudos locais para embasar políticas públicas de saúde.
Julia Barreto ressaltou que os benefícios para a saúde vão além dos indígenas, beneficiando moradores de cidades próximas. As TIs desempenham um papel ambiental importante, tornando paisagens mais saudáveis para toda a região. A rede de colaboração formada no levantamento foi destacada como um aspecto enriquecedor do trabalho, com dados disponíveis para outros grupos interessados no tema.