A Bahia é o estado brasileiro com a maior população quilombola, com cerca de 400 mil pessoas distribuídas por mais de 1.800 comunidades, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Vitória da Conquista, município localizado no sudoeste baiano, 33 comunidades quilombolas estão registradas na Fundação Cultural Palmares, com a maioria delas situada em áreas rurais. Essas localidades enfrentam desafios no acesso a serviços de saúde, motivando a implementação de ações voltadas à promoção da saúde e prevenção de doenças.
Uma dessas iniciativas é o projeto de extensão “Atenção à saúde aos moradores de comunidades quilombolas de Vitória da Conquista: da prevenção ao diagnóstico de doenças crônicas”, conhecido nas redes sociais como “Saúde nos Quilombos”. O projeto, coordenado pelo professor Raphael Queiroz, do Departamento de Ciências da Saúde (DCS) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), foi iniciado em 2016 e retomado em 2024 com ampliação de suas atividades. As comunidades de Maria Clemência e Oiteiro, que juntas somam aproximadamente 3.500 habitantes, são as primeiras a serem atendidas.
O “Saúde nos Quilombos” desenvolve atividades educativas, preventivas e diagnósticas, além de realizar exames laboratoriais e fornecer encaminhamentos para tratamento gratuito, sempre com o apoio do Sistema Único de Saúde (SUS). O foco inicial do projeto é a detecção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), especialmente diabetes mellitus e hipertensão, doenças que afetam com maior frequência a população negra, devido a fatores genéticos. O rastreamento de outras enfermidades, como cânceres, também faz parte das ações, realizadas por meio de questionários aplicados nas primeiras visitas às comunidades.
Além das doenças crônicas, outro foco do projeto é a anemia falciforme, condição hereditária mais prevalente entre pessoas de ascendência africana. A doença causa sérios problemas de saúde, como infecções recorrentes, dores intensas e fadiga, em decorrência da alteração nas hemácias, que passam de forma arredondada para o formato de foice. O projeto também identifica indivíduos com o traço falciforme, que carregam a característica genética sem desenvolver a doença, mas que podem transmiti-la a seus filhos caso ambos os pais possuam o traço. O rastreamento é importante para alertar a população sobre os riscos da doença, especialmente em casos de casamentos consanguíneos.
A equipe do projeto é composta por professores e alunos do curso de Medicina da Uesb e do Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Bioquímica e Biologia Molecular, com o apoio de outras instituições de saúde, como o Laboratório Central de Vitória da Conquista e a Secretaria Municipal de Saúde. As atividades de acompanhamento e cuidados com as comunidades quilombolas ocorrerão quinzenalmente até o final de 2025, oferecendo um atendimento contínuo à população local e contribuindo para a melhoria das condições de saúde dessa parte da sociedade.
Mais informações sobre o projeto e suas atividades podem ser acessadas por meio do Instagram oficial da iniciativa.