Arqueólogos descobriram as primeiras ossadas no cemitério de escravizados localizado no estacionamento do Complexo da Pupileira, no bairro de Nazaré, em Salvador. A informação foi divulgada em uma coletiva de imprensa na sede do Ministério Público da Bahia.
De acordo com informações do g1, a descoberta pode contribuir para a reconstrução histórica e cultural de um local que permaneceu apagado por 180 anos.
Jeanne Dias, arqueóloga e coordenadora do projeto Levantamento Arqueológico na Área do Antigo Cemitério do Campo da Pólvora, destacou que as ossadas encontradas são ossos largos e dentes.
O material estava enterrado a cerca de 2,5 metros de profundidade em um terreno ácido e úmido, o que deixou as ossadas frágeis. Elas passarão por um tratamento de conservação.
Descoberta histórica e cultural
Os pesquisadores confirmaram a existência do que pode ser o maior cemitério de escravizados da América Latina, onde possivelmente estão enterrados mártires das Revoltas do Malês e da Revolta dos Búzios.
As escavações começaram em 14 de maio, data que marcou os 190 anos da Revolta dos Malês, o maior levante de escravizados da Bahia, ocorrido em 1835.
A localização do cemitério foi descoberta durante a pesquisa de doutorado da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Ela utilizou mapas e plantas de Salvador do século 18, além de artigos de historiadores e um livro de 1862, para identificar o local. O cemitério foi inicialmente administrado pela Câmara Municipal e depois pela Santa Casa, até 1844, quando o Cemitério Campo Santo começou a operar.
Em setembro de 2024, a descoberta foi apresentada à Santa Casa, mas não houve retorno. Em dezembro, a pesquisadora e o advogado Samuel Vida recorreram ao Ministério Público da Bahia, que intermediou a liberação da escavação em março deste ano.