Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) está transformando o que antes era descartado em um novo recurso sustentável para a indústria.
No Laboratório de Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal (LTPOV), no campus de Itapetinga, cientistas estudam o uso da casca do mangostão na produção de corantes naturais para alimentos, medicamentos e cosméticos.
O mangostão é um fruto originário do Sudeste Asiático, cultivado em regiões tropicais, e no Brasil tem forte presença no sul da Bahia, além de estados como Pará, São Paulo e Espírito Santo.
Apesar de 75% do peso do fruto estar concentrado na casca, o consumo se restringe à polpa, o que gera grande descarte. A pesquisa busca reverter esse quadro, agregando valor econômico e ambiental ao aproveitamento integral do fruto.
Segundo a professora Andréa Gomes, coordenadora do estudo, a cor roxa da casca é resultado da presença de flavonoides antociânicos, compostos naturais também encontrados em uva, açaí, jabuticaba e hibisco. “Além da função de corar os alimentos, os pigmentos naturais apresentam atividade antioxidante, anti-inflamatória e antitumoral, contribuindo para a proteção das células contra os radicais livres”, explica.
Alternativa aos corantes artificiais
Apesar de os corantes sintéticos ainda serem mais estáveis e baratos, pesquisas vêm apontando riscos relacionados ao seu consumo, como alergias e outros efeitos negativos à saúde. A tendência mundial, reforçada por recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), é de substituição gradual por opções naturais, movimento que já mobiliza a indústria e a comunidade científica.
“Há uma preocupação crescente em reduzir o uso de aditivos artificiais, e os corantes extraídos de frutas, folhas e flores surgem como alternativas promissoras”, afirma Andréa.
Caminho da pesquisa
Para desenvolver o corante, os pesquisadores coletaram cascas de mangostão nos municípios de Una e Ipiaú, no sul da Bahia. A partir daí, foram realizadas etapas de extração, análise de estabilidade, formulação e aplicação do produto.
O corante foi testado em balas de gelatina e em embalagens inteligentes — biofilmes que funcionam como indicadores da qualidade dos alimentos por meio de mudanças de cor.
O trabalho contou com a colaboração da professora Cristiane Patrícia de Oliveira e com a parceria de instituições como a Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os resultados já foram apresentados em revistas científicas e eventos da área, abrindo caminho para futuras aplicações industriais.