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Empoderamento Feminino: Tecendo caminhos rumo à (auto)libertação da Mulher

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Empoderamento Feminino: Tecendo caminhos rumo à (auto)libertação da Mulher
Dalcy Souza é montealtense, pedagoga e servidora pública - Ela escreve periodicamente para o blog sobre assuntos diversos.

Dalcy Souza

Compreender as relações de gênero requer um passeio por várias conceituações e estudos, que perpassam pela (re)construção de papeis masculinos e femininos, pelo entendimento de todos os aspectos que formam a identidade dos sujeitos; da sexualidade; da faceta que envolve a violência contra a mulher; das discussões sobre masculinidades, enfim, uma gama de questões envolvidas, evidenciando que a subordinação feminina não é algo natural, estático ou imutável. Ao contrário, com o tramitar da história, viu-se que as identidades, além de serem plurais e diversificadas, não são fixas ou imutáveis e, com isso, vai se construindo uma concepção de gênero como algo relacional, situada na esfera das relações sociais entre sujeitos históricos e envolve um modo de significar as relações de poder. Que, no caso especifico das sociedades humanas patriarcais e machistas, significa dizer o poder do gênero masculino sobre o feminino.

O verbo empoderar, que indica uma ação em prol do poder, nunca antes foi tão conjugado quanto agora. E se hoje podemos conjugar esse verbo, foi porque muitas guerreiras de outros tempos empreenderam essa luta pelo direito de estudar, votar, trabalhar fora de casa, etc., direitos historicamente negados ao gênero feminino. O movimento pelo empoderamento da mulher é uma luta antiga que busca a igualdade de gêneros, sem perder de vista a alteridade do feminino. No início do século passado, as mulheres não podiam dirigir, sair sozinhas, praticar esportes, votar, trabalhar, dentre tantas outras atividades e direitos usurpados. A mulher era criada sob a tutela do pai, que mais tarde era repassada ao marido, cabendo-lhe o papel de filha e esposa obediente e submissa. Um comportamento fora desses padrões era fortemente repudiado.

O cotidiano das mulheres ainda é marcado por esse patriarcalismo, herança histórica e cultural que, em uma parte significativa das experiências e relações humanas, influenciou tendenciosamente – e continuam influenciando – a construção de uma imagem do gênero feminino de forma hierarquizada, inferiorizada e subjugada. Essas representações deturpadas em que se tem a imagem da mulher como: “santa e prostituta, frágil e incapaz, rainha do lar e a única responsável pela criação dos filhos, corpo padrão e prazer do outro”, estão presentes nas mentes das pessoas e acabam norteando as interações. Paulatinamente, vamos incorporando essas representações e traduzindo-as desde a tenra idade, nas brincadeiras estereotipadas, nas canções, nas propagandas, e assim reproduzindo e definindo os papeis sociais. Refletir sobre isso, nos leva a perceber que o ato de ser mulher não é um ato apenas biológico e natural, antes, é uma construção social.

Daí, temos na sociedade, a naturalização da violência contra a mulher, a objetificação do corpo feminino, a mulher vista como ser inferior, o que tem gerado profundas feridas na alma feminina, difíceis de curar. Durante muitos séculos, a mulher foi reprimida em nome das conveniências de uma sociedade machista e patriarcal. Hoje continua sendo, visto que, ainda é discriminada, encarada como ser inferior. Contudo, não podemos deixar de perceber que galgamos alguns espaços, avançando na luta pela igualdade de gênero. Mas as estatísticas não mentem – os altíssimos índices de violência contra a mulher, especialmente nas classes mais baixas, revelam que a sociedade não superou o machismo e não conseguiu construir o conceito de alteridade feminina.

Nesse percurso trilhado, é fato que houve significativos avanços, lembrando que cada conquista foi a custo de muito sofrimento e lágrimas de mulheres e homens que ousaram pensar e agir em defesa do direito a igualdade de gêneros, denunciando a gravidade do preconceito e da discriminação feminina. Muito já foi feito, mas ainda há muito por fazer. São inúmeras iniciativas em prol da igualdade de gêneros espalhadas pelo país. Aqui, em nossa região, temos vários empreendimentos que trilham esse caminho, a exemplo do IF Baiano Campus Guanambi, que desenvolve o projeto ‘As vozes do Rancho: um salto para as Margaridas’ cuja pretensão é, além de promover eventos formativos voltados para saúde e prevenção de riscos, por em relevo o protagonismo das “mulheres-margaridas” residentes no distrito de Rancho das Mães em Palmas de Monte Alto, que representam um salto frente à inserção no cenário das referências de igualdade de gênero, do usufruto do direito sexual e reprodutivo e do fortalecimento da visibilidade do protagonismo da mulher, ou seja, promover por meio de ações de formação o empoderamento da mulher com vistas à (auto) libertação feminina.

Vale ressaltar, que a busca por equivalência social entre homens e mulheres, no sentido de terem os mesmos direitos, deveres e oportunidades, significa garantir os direitos iguais para ambos, mas sem perder de vista as singularidades que diferenciam a mulher do homem, fazendo valer a célebre afirmação de Boaventura Sousa Santos de que “temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”.

Assim, a luta pelo empoderamento feminino se revela muito mais necessária, pois não se limita a lutar por direitos usurpados, nem tomar o poder para si. Muito além desses sentidos, empoderar-se é a ação de reconhecer-se protagonista de sua própria história, e esse reconhecimento implica no poder, não no sentido de comandar outros seres humanos, mas no poder de saber-se senhora de seu destino, de suas escolhas e de sua vida, exercendo autoridade sobre si mesma. A luta se torna muito mais profícua, na medida em que nos conscientizamos de que a luta não é travada com outros seres humanos apenas, mas especialmente dentro de cada uma de nós, a fim de que possamos nos redescobrir enquanto mulheres, cidadãs de direito, e acima de tudo, mulheres dotadas de força própria, que sabem o(s) seu(s) lugar(es) no mundo. Somente trilhando esses caminhos, iremos tecendo nossa história rumo a (auto) libertação, construindo assim, a nossa liberdade, em todas as acepções do termo.

Dalcy Souza é candibense, pedagoga, licenciada em Letras, e servidora pública, atualmente trabalha em um projeto de empoderamento de mulheres no Rancho das Mães em Palmas de Monte Alto – A partir de hoje ela escreverá periodicamente para este Blog.

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