Caetité recebeu entre os dias 27 e 29 de setembro, a exposição “Do Rio que era doce às águas do semiárido: Destruição e mortes do Modelo Mineral”. Na oportunidade foram apresentadas as maquetes que representam o desastre ambiental de Mariana ocorrido em novembro de 2015. Alunos de escolas públicas do município e da região estiveram no Campus da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) para visitas à exposição. Em entrevista à Agência Sertão, um dos coordenadores deste projeto, o geógrafo Lucas Eña, do grupo de pesquisas Geografar/UFBA, falou sobre questões agrárias e de mineração.
Enã explica que a exposição em Caetité tem o objetivo de promover “a conscientização da população como um todo e incentivar os jovens e escolas e se conscientizarem do que foi a tragédia crime de Mariana e a a partir disso trazer o modelo mineral brasileiro para essa discussão e pautar o que acontece hoje na Bahia, o que temos de extração na Bahia, o que nós temos de conflito e como esses conflitos se dão.”
Além dos conflitos que já ocorrem em alguns pontos da Bahia, onde há 24 barragens de rejeito, Eña enfatiza que existe alguns problemas surgindo devido ao aumento da mineração. “Dentro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), várias pesquisas já apontam casos de conflitos em mais de 50 municípios do Estado, esses conflitos são das mais variadas ordens e magnitudes e o que está previsto para a mineração futura, falando ai de 5, 10, 15 anos em breve é um momento exponencial dessa mineração.”
“Muita informação foi gerada a partir dessa tragédia que acabou sensibilizado e mobilizando a população, as maquetes mostraram como eram as três barragens. Uma tela foi pintada pela artista argentina radicalizada brasileira, Leila Monségur, que utilizou parte da lama da tragédia como tinta e fez uma tela de 14×2,20. É uma tela que mistura ser-humano, natureza, lama, animais, os índios Krenak ali representados e no qual a lama faz o percurso de devastação e morte”, disse Enã.
A vinda da exposição para Caetité não é só por causa da tragédia em Mariana que completará dois anos no próximo mês de novembro. Está no centro a discussão sobre a construção de uma barragem de rejeitos da Bahia Mineração (Bamin) que estará localizada entre os municípios de Caetité, Pindaí e Guanambi, onde a população já sinalizou negativamente. “a gente não deseja isso para Caetité que atualmente está em discussão com a Bamin, uma barragem de rejeitos muito grande que está sendo instalada aqui e um processo logístico com a Fiol (Ferrovia Oeste-Leste) e o porto de Ilhéus e é todo um complexo minerador desenvolvimentista mas que é voltado para o capital externo,” ressalta Enã.
Outra informação passada pelo geógrafo à Agência Sertão é a questão de que a China e os Estados Unidos, compram ferro brasileiro não só por conta da indústria de consumo, mas para construção de armas de guerra. “O Brasil envia muito minério de ferro principalmente para China e EUA. Para além de todo desenvolvimento tecnológico, a gente destaca um dado intrigante que grande parte do ferro é para produção bélica, produção de armas e geração de guerra. Qual é a finalidade desse minério extraído no Brasil? Nós temos que fazer essa discussão também. Nós estamos pautando a indústria bélica mundial, para que, e como é feito também, nós temos que fazer esse debate com a população, os alunos e principalmente com essa nova geração, pois os conflitos são grandes” pontua Lucas.
Perguntado se a Samarco havia aprendido a lição com a tragédia que fez dezenas de vítimas, Eña diz que houve sim um impacto na empresa. “A tragédia de mariana teve sim um impacto na imagem da empresa. Eles se preocupam com o retorno financeiro por parte dos acionistas e podem repensar em algumas práticas sim, não duvido disso. O acidente crime de Mariana está envolto em altas e baixas no preço dos commodities. As empresas, na hora que o valor da commoditie cai, qual é a saída que eles fazem para garantir os lucros dos acionistas e a perpetuação da empresa? É diminuir valores de segurança inclusive de barragem, de funcionários que monitoram esse tipo de serviço, sempre na dependência dos valores das commodities internacionais e a gente sempre fica nessa berlinda da questão global local. Espero que as empresas tenham ações melhores, mas também é difícil pensar que as empresas vão agir de maneira correta como deveriam. Gostaria de acreditar mesmo que as empresas tivessem, após esse crime melhorar as atitudes, mas dentro deste contexto global acho meio difícil” finaliza.