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Comunidades quilombolas terão bibliotecas nas escolas no estado do Rio

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O presidente da Academia Brasileira de Letras, professor Marco Lucchesi, assina na terça-feira (9) convênio com o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (Iterj) para a formação de bibliotecas nas comunidades quilombolas e nas escolas que atendem essa população. Lucchesi informou à Agência Brasil,que o acordo com o Iterj, responsável pela titulação das terras quilombolas, resultou da viagem que fez em junho passado a quatro quilombos situados entre os municípios de Araruama e Cabo Frio, na Região dos Lagos: Maria Joaquina, Preto Forro, Fazenda Espírito Santo e Quilombo de Sobara.

“Foi um momento inesquecível em que fizemos como sempre doação de livros mas, principalmente, pela proximidade com essa importante parcela da população brasileira”, externou. De acordo com levantamento da Fundação Cultural Palmares, o Brasil tem 2.197 comunidades quilombolas reconhecidas, das quais 29 estão no estado do Rio de Janeiro. Marco Lucchesi disse ter ficado empolgado com a preservação de tradições quilombolas e decidiu manter com os quilombos uma maior aproximação do ponto de vista institucional e solidário. O acordo com o Iterj terá duração de um ano, prorrogável por igual período.

A ABL continuará fazendo uma escolha de livros adequada à realidade dos quilombos e o Iterj responderá pela capilaridade, identificando as carências existentes. Na aproximação com os qiuilombolas, o presidente da ABL contou com o auxílio do desembargador Marco Aurélio Bezerra de Melo, estudioso do tema do direito à terra na cidade e no campo e na relação do Estado na promoção desse direito.

Indígenas

Lucchesi pretende dar continuidade também à aproximação com os povos indígenas, iniciada este ano com a doação de uma estante com livros, CDs e DVDs para a biblioteca da Aldeia Guarani da Mata Verde Bonita, em Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro.

A ação faz parte do Projeto Ivy Marey (que significa Terra sem Males), criado em parceria com a cacique Jurema Nunes de Oliveira e outros membros da aldeia. O projeto prevê maior aproximação cultural da academia com as oito aldeias Guaranis do estado do Rio.

Ainda neste semestre, o presidente da ABL fará viagem ao sul fluminense para conhecer os índios pataxós, “sempre com a mesma ideia de doar livros”.

Prisões

Os presidiários continuam também na meta do presidente da ABL, que visitará este mês duas penitenciárias em Campos dos Goytacazes, no Norte do estado. A ideia principal é ter contato com as escolas prisionais, embora mantendo a vocação da ABL que é trabalhar no campo da cultura. “Isso exige hoje no Brasil uma escuta muito profunda de uma população à margem, muitas vezes, do que se espera minimamente dos brasileiros que estejam em situação de conflito com a lei, mas resgatando esse conflito, em uma situação que a gente espera que melhore”.

A ABL oferece livros às escolas prisionais e também a escolas de periferia, mais vulneráveis, estas em acordo com a Marinha, sempre visando a formação de bibliotecas e leitores. “Sempre começa com uma palestra. Eu digo alguma coisa e acabo ouvindo. Essa escuta é fundamental nessas zonas de abandono e esquecimento”. O mesmo ocorre em relação a hospitais e asilos. “Muitos hospitais já começam a entender que é preciso humanizar o próprio espaço. E essa humanização é composta de várias especificidades, entre as quais o fato que o doente pode ler, o acompanhante e os médicos também podem ler”.

A Academia Brasileira de Letras mantém programas nesse sentido com os hospitais que “compreendam e estejam nessa mesma vibração e intensidade”, disse Marco Lucchesi. Para escolas e centros que atendem deficientes visuais, a academia envia mais CDs e DVDs que o próprio presidente faz questão de escolher, um a um.

Preocupação

A maior preocupação de Marco Lucchesi hoje, em relação à população privada de liberdade, é com os mais jovens. “O que me interessa mais hoje, sobretudo, é visitar os menores privados de liberdade”. Para ele, o Estado não pode ser movido pela raiva contra um menor que cometeu um delito, “e nem atender os instintos mais imediatistas e um pouco mais vingadores de quem não compreende o funcionamento do sistema”. O professor revelou que, muitas vezes, durante visita a instituições onde ficam apreendidos menores infratores, ele tem visto jovens de distintas facções se reunirem para montar, com Lego, uma cidade com acessibilidade, democrática para todos. “Me interessa muito o trabalho com menores em conflito com a lei, é a minha menina dos olhos”.

Lucchesi tem ido reiteradamente ao Centro Dom Bosco, ex-Padre Severino, onde se encanta com o trabalho dos professores e diretores, apesar de todas as carências que, nas prisões, se tornam mais agudas. “O que falta aqui fora, lá falta duas vezes mais”. O presidente da ABL defendeu o aumento do número de vagas tanto para presos adultos, como para menores porque, na sua avaliação, os detentos querem estudar e trabalhar. Isso não é possível na estrutura das prisões que foram criadas no país, de castigo e punição absoluta, e não de um resgate mais profundo e humano, comentou.

A questão não é se os presos vão ficar melhores ou piores, disse. A questão é interior, ressaltou Marco Lucchesi. “Eles têm direito ao estudo, como seres humanos? Eles são brasileiros e têm garantia de que podem ir à escola? Essa é a pergunta essencial. E muitos mudam porque veem nova perspectiva”. Para Lucchesi, trata-se de uma dívida social que precisa ser resgatada onde for possível.

Universidades

A ABL fará ainda em julho uma grande doação de livros para o Instituto Federal Fluminense, localizado em Campos dos Goytacazes, dentro da meta de fortalecer, “quando possível”, as bibliotecas das universidades.

No campo social, a academia avança no sentido de tornar o site acessível para os deficientes visuais, transformando as informações escritas disponíveis em voz. “Estamos navegando para isso”, disse.

Fonte: Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil

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