Embora esteja longe das primeiras posições do ranking formado pelos estados onde a covid-19 avançou quase sem freios, a Bahia é hoje campeã absoluta em outra doença que corre de modo descontrolado em grande parte do seu território. Sozinha, concentra praticamente metade dos casos de chikungunya no país com 49,6% dos registros, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde.
Em todo o país, registrou-se um total de 66.788 casos de chikungunya, sendo que 33.115 foram na Bahia. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, 296 municípios notificaram suspeita da doença até o dia 15 de setembro de 2020, data referente à 37ª Semana Epidemiológica levantada pela pasta. Destes municípios, 110 apresentaram incidência maior ou igual 100 casos para cada 100 mil habitantes.
Até o momento, 4 pessoas tiveram morte confirmada para chikungunya: três em Salvador e uma em João Dourado, centro-norte da Bahia. Na capital, a Secretaria Municipal da Saúde registrou 243% de aumento nos casos da doença até a sua 38ª semana epidemiológica. No mesmo período do ano passado, foram registrados 2.788 casos da doença em Salvador. Em 2020, o número é de 9.572.
Segundo o site Correio*, os números da dengue e da zika também estão registrando aumento. Quando comparados, os mesmos períodos de 2019 e 2020 apresentam um aumento de 16% nos casos de dengue (7.171 contra 8.382) e de 46% nos casos de zika, que saltaram de 644 no ano passado para 941 neste ano. Ou seja, a Bahia também concentra quase metade dos infectados por zika no país.
Mudança de hábito
A infectologista Clarissa Ramos aponta que esse aumento está ligado à mudança de hábito das pessoas, que ficam mais em casa durante o dia por causa das medidas de isolamento social. Das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, a chikungunya é que apresenta um percentual mais elevado de pacientes sintomáticos. “O mosquito tem hábitos diurnos. Com o isolamento social, agora tem mais gente em casa no horário que antes era de trabalho”, avalia.
Os conselhos regionais e federal de fisioterapia fizeram mudanças em suas resoluções por conta da pandemia permitindo atendimentos virtuais – algo que não era liberado antes do coronavírus. “É recomendado que o paciente com chikungunya procure um fisioterapeuta após o período agudo da doença, que dura cerca de 10 dias. O ideal é que o tratamento venha durante o período de remissão, de dois a três meses após o início dos sintomas”, explica Davi.
Sequelas graves
As dores provocadas pela chikungunya normalmente vão além da fase aguda. Além disso, pode deixar sequelas que se manifestam por até três meses e evoluir para a fase crônica, que chega a durar até três anos. As dores são o que diferenciam a chikungunya de outras arboviroses. Conhecida no Brasil desde 2014, o nome da doença vem do idioma maconde, da Tanzânia, que faz referência a esse dizer: “aqueles que se contorcem, que se dobram”, tamanho o incômodo causado pelo vírus.
Médica reumatologista do Hospital das Clínicas, Viviane Machicado afirma que quase metade dos pacientes que têm chikungunya evoluem para casos de artrite crônica. Segundo a reumatologista, o tratamento não medicamentoso como a fisioterapia auxilia bastante na recuperação de movimentos e redução das dores. Por isso, fica o alerta: é importante ter acompanhamento médico mesmo após a fase aguda da doença.
A SMS aponta que é fundamental o cidadão se tornar o ‘agente de endemia’ da própria residência, tampando tonéis, caixas e barris de água, além da lavagem desses equipamentos com água e sabão; encher os pratos de vasos com areia; fechar bem os sacos de lixo; manter garrafas de vidro e latinhas de boca para baixo; acondicionar pneus em locais cobertos; tampar os ralos. De acordo com a SMS, as equipes do Centro de Controle de Zoonoses realizam trabalho de campo diário nos bairros que compõem o Distrito Sanitário Cabula/Beiru com a identificação e eliminação de focos.
A intensificação dos trabalhos de combate ao mosquito resultou em redução em 56% nas notificações para dengue, zika e chikungunya em Salvador. No mês de junho foram 2.322 ocorrências e em julho foram 1.002.