O pacamã (Lophiosilurus alexandri), uma espécie nativa da bacia hidrográfica do rio São Francisco e ameaçada de extinção no Médio São Francisco, está reaparecendo na região a partir de um trabalho de pesquisa, produção e repovoamento por meio de peixamentos da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Na última quinta-feira (26), a Companhia introduziu cerca de 57 mil alevinos de pacamã em trechos do rio nos municípios baianos de Bom Jesus da Lapa (BA) e de Xique-Xique (BA). A reintrodução da espécie é fruto do trabalho do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Xique-Xique da Codevasf.
Em Bom Jesus da Lapa, o peixamento introduziu 20 mil alevinos de pacamã no trecho do São Francisco localizado na comunidade Barrinha. “O que nós estamos fazendo é trazer sustentabilidade para o rio. Esse repovoamento, principalmente do pacamã, traz mais vida não só para o rio, mas também para os ribeirinhos que aqui habitam. No sentido social e financeiro”, diz o artista regional e morador do município, Paulão Araújo.
Já em Xique-Xique, a soltura dos 37 mil espécimes aconteceu em um trecho do rio São Francisco tradicionalmente utilizado como local de pesca pelas comunidades de Nova Iguira, Marreca Velha, Alto Grande e Mendonça, que juntas reúnem mais de 350 pescadores.
“É uma coisa muito boa para a comunidade, pois ajuda a manter nossas pescarias. O que nós temos visto é que o pacamã está cada vez mais difícil de encontrar e, se Deus quiser, daqui a dois anos, vamos poder pegar esses pacamãs que foram soltos”, disse o pescador Carlos Antônio Cruz, morador do povoado de Nova Iguira.
De acordo com o técnico da Codevasf Rodrigo Bernardes, lotado no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Xique-Xique, a unidade iniciou o trabalho de repovoamento com o pacamã devido a ameaça de extinção da espécie, que já consta na lista do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de peixes ameaçados.
“O pacamã está sendo considerada como uma espécie vulnerável. Normalmente, nós trabalhamos com as espécies migradoras, como surubim, dourado, curimba e piau. No entanto, iniciamos o trabalho também com o pacamã por causa desse risco de extinção”, revelou o técnico da Codevasf.
Já o chefe do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Xique-Xique, Antônio Nascimento, detalhou as ações da unidade para domínio da tecnologia de reprodução da espécie. “Estamos realizando vários estudos com o objetivo de desenvolver a reprodução, larvicultura e alevinagem do pacamã. Com isso, pretendemos ampliar os programas de repovoamento. E os resultados têm sido bastante positivos. Até o momento, já foram soltos mais de 120 mil alevinos da espécie no Médio São Francisco através do trabalho do Centro”, afirmou.
Ainda segundo o chefe do Centro de Aquicultura da Codevasf, a tecnologia reprodutiva do pacamã também é desenvolvida por outros centros integrados da Codevasf, como o de Três Marias (MG), Bebedouro, em Petrolina (PE), Itiúba, em Porto Real do Colégio (AL) e Betume, em Neópolis (SE).
“O pacamã é uma das espécies nativas do rio São Francisco e faz parte da cadeia alimentar do rio e fonte de alimento e renda para o ribeirinho. Essa espécie tem um grande interesse comercial na região. Esses peixamentos de pacamã foram realizados no início da piracema, que é justamente agora em novembro” comenta Isabel Denis, técnica da Unidade de Desenvolvimento Territorial da Codevasf em Bom Jesus da Lapa.