A Prefeitura de Vitória da Conquista informou por meio de nota em seu portal oficial que está realizando a aquisição da Casa Glauber Rocha. A aquisição será possível após a sansão da Lei nº 2.454, que regulamenta a permuta de imóveis com esse fim, realizada pela prefeita em exercício Sheila Lemos, nesta quarta-feira (6).
Segundo a nota, desde o início de sua gestão, em 2017, o prefeito Herzem Gusmão vem dialogando com familiares do cineasta conquistense, com intuito de concretizar a aquisição da casa. Agora, deve ser concluído o processo de tombamento do imóvel, situado à Rua Dois de Julho, no centro da cidade, onde Glauber Rocha viveu do seu nascimento até os nove anos de idade.
“Vamos preparar um projeto que não só mantenha viva a memória de Glauber e de toda a sua arte, mas que também possa ser um atrativo turístico para Vitória da Conquista”, revela o secretário municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Adriano Gama. E completa: “Isso mostra a importância e o valor que essa gestão tem dado a memória cultural da nossa cidade.”
Segundo a lei recém sancionada, a aquisição foi possibilitada através de uma permuta na qual o Município cede uma área pública avaliada em cerca de R$ 1,34 milhão, em troca da casa, cujo valor de mercado é de aproximadamente R$ 1,95 milhão. A intenção de tornar o imóvel público vem sendo discutida a mais de duas décadas.
A ideia é que a Casa Glauber Rocha, enquanto centro de memória, agregue atividades de formação em cinema, encontros acadêmicos, apresentações artísticas e espaço para exposições de arte e de pesquisas de memória. A aquisição do também irá possibilitar o tombamento do imóvel como patrimônio histórico do município. Por se tratar de uma personalidade conhecida não só no município, mas em todo o país e no exterior, a casa onde viveu Glauber Rocha pode se tornar até patrimônio histórico a nível federal.
Glauber Rocha
Glauber Rocha foi um diretor, roteirista, ator e escritor brasileiro. Ele foi uma figura importante do chamado Cinema Novo e um dos cineastas brasileiros mais premiados internacionalmente. Seus filmes de vanguarda retratam conflitos sociais e políticos do Brasil. Glauber Rocha é conhecido pela frase “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, que resume a maneira como ele fazia cinema.
Ele nasceu em 14 de março de 1938 em Vitória da Conquista, na Bahia. Viveu em sua cidade natal até 1948, quando se mudou com a família para Salvador. Em 1957, ele ingressou na faculdade de direito da Universidade da Bahia. Em 1959, realizou seu primeiro filme, o curta-metragem Pátio, que chamou a atenção dos críticos. Por volta de 1960, abandonou o curso de direito e passou a trabalhar como jornalista e crítico de cinema. Em 1961, filmou seu primeiro longa-metragem.
Após o golpe de 1964 e o início da ditadura no Brasil, Glauber Rocha entrou em conflito com as autoridades brasileiras e chegou a ser preso por um breve período por protestar contra o regime militar. Ele acabou optando pelo exílio e saiu do país em 1970. Nesse período, viajou por várias partes do mundo e continuou fazendo filmes. O cineasta retornou ao Brasil em 1976.
Glauber Rocha morreu em 22 de agosto de 1981, no Rio de Janeiro, aos 43 anos, em consequência de complicações pulmonares. Ele foi casado três vezes e teve cinco filhos.
Cinema Novo
Na década de 1960, um novo cinema socialmente consciente surgiu na América Latina, na África e na Ásia. Cineastas ativistas procuravam criar um cinema que mostrasse os conflitos sociais e políticos que afetavam os países daquelas regiões. O movimento se opunha ao cinema comercial dos Estados Unidos e da Europa e foi chamado de Terceiro Cinema. No Brasil, um movimento parecido tinha se iniciado alguns anos antes, por volta de 1955. Esse movimento ganhou força na década de 1960 e ficou conhecido como Cinema Novo.
Glauber Rocha foi um dos principais representantes do Cinema Novo, ao lado de Nelson Pereira dos Santos e outros cineastas. Eles produziram filmes que tratavam de problemas sociais e políticos do Brasil e exploravam a história complexa do país. Os filmes do Cinema Novo se caracterizavam também por ser alegóricos (isto é, por expressar ideias indiretamente, através de símbolos), pelo destaque para os diálogos e pelos cenários simples e naturais.
Obra
O primeiro longa-metragem de Glauber Rocha foi Barravento, de 1961. Em seguida, vieram Deus e o diabo na terra do sol (1964), indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França, e Terra em transe (1967). Em 1969, Rocha filmou Antônio das Mortes, também conhecido como O dragão da maldade contra o santo guerreiro, pelo qual ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes.
Na Europa, Rocha filmou na Itália, na Espanha e na França. Em 1970, dirigiu no Zaire (atual República Democrática do Congo) o filme Der Leone have sept cabeças. O tema central dessa obra é o colonialismo na África, e o título, que foi traduzido para o português como O leão de sete cabeças, mistura palavras em vários idiomas.
Outros títulos importantes da filmografia de Glauber Rocha incluem Cabeças cortadas (1970), História do Brasil (1973) e Jorge Amado no cinema (1979). Seu último filme foi A idade da Terra, de 1980.
Fonte: Britânnica Escola