Em pesquisa realizada pelo Data Folha e Itaú Cultural, no período de isolamento social, em virtude da pandemia, as pessoas recorreram ao ambiente online para acesso à cultura; 73% dos entrevistados viram filmes e séries no meio digital, enquanto 21% assistiram espetáculos de teatro, dança e circo.
Os números demostram a relevância das manifestações culturais e como estão sempre a serviço da humanidade, principalmente nos contextos mais críticos da história. André Uzêda, jornalista, afirma que a cultura é símbolo do pilar de sustentação social “O que expressa nossa individualidade e, ao mesmo tempo, nossa coletividade enquanto um povo brasileiro, o que nos forma, então quando esse cenário de terra arrasada avança, são exatamente nossas formas culturais que nos segura”, afirma.
Para Uzêda, acabar com os bens culturais de determinado grupo, é extingui-lo em sua essência. “Aniquilar a cultura de um povo é aniquilar a sua forma de existência e, posteriormente, aniquilar a própria existência desse povo, argumenta”.
Para Juca Ferreira, ex-ministro da cultura e sociólogo, a ascensão de um governo de extrema direita, incapaz de enfrentar a pandemia, colocando o Brasil como país com maior índice de morte e de contaminação do mundo, não é um acidente de percurso, tampouco apenas incompetência. “Na verdade, é um projeto, uma maneira de abordar a vida, coletiva e culturalmente. Eles querem retroceder o país, querem que o país volte, que a roda da história volte para trás”, declara.
Segundo o sociólogo, “eles têm um horror à contribuição africana para a formação do Brasil, não gostam da contribuição dos povos indígenas e, menos ainda, das modernidades e liberdades que a humanidade foi conquistando a partir da década de 60”, defende Ferreira.
O regime militar no brasil, foi um período onde toda manifestação de cunho artístico sofria censura. A professora aposentada da UFBA, Dulce Aquino, conta que as produções culturais tinham sutilidade, a fim de despistar os militares. “Os filmes, os movimentos de rua, espetáculos de dança… essa (a dança) então era ótima, porque eles nunca entendiam o que nós estávamos dizendo, porque a dança não tinha de se explicar muito,eram expressões do momento, quando eles chegavam, já tinha acontecido”.
Na próxima segunda (29/03), às 19 horas, Polêmicas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) realiza o debate “Cultura como enfrentamento da barbárie”. Além de Juca Ferreira, André Uzêda e Dulce Aquino, estará presente a atriz e vereadora Maria Marighella, e a abertura será com o ator Jackson Costa.
Ofertada desde 2003, Polêmicas Contemporâneas é uma disciplina-evento regular do Departamento de Educação II, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia e coordenada pelo professor Nelson Pretto.
A transmissão é aberta e livre. Para mais informações acesse: www.polemicas.faced.ufba.br/.
Fabio de Souza, projeto Sê Livre/UFBA, estudante de Comunicação da FACOM/UFBA.
*Este texto faz parte do projeto “Polêmicas contemporâneas em casa”, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A Agência Sertão atua como veículo parceiro na divulgação dos conteúdos.