Baianas de acarajé: patrimônio, resiliência e economia circular

Responsáveis pela produção de uma das especiarias mais tradicionais no Brasil, as baianas de acarajé movimentam economias locais com seus tabuleiros. Para finalização do seu principal quitute utiliza-se o azeite de dendê no processo de fritura, porém o principal desafio dessas mulheres é no descarte diário do azeite residual sem que impacte de forma negativa o meio ambiente, considerando as normas da vigilância sanitária.

Como solução para o impasse, surge no Instituto de Ciências da Saúde da Ufba o projeto Baianambiental, que propõe a utilização do resíduo na fabricação de sabão artesanal e instruiu um grupo de baianas selecionadas pela associação nacional da categoria a realizar o preparo.

O professor do Instituto de Química da Ufba, José Roque, integrou a iniciativa cedendo o espaço do laboratório para atividade, bem como atuou na orientação das “alunas”. “Sob a minha coordenação as baianas prepararam o sabão artesanal, usando o óleo pós-preparação do acarajé”, explica.

Segundo Roque, o sabão é preparado utilizando o óleo em um vasilhame plástico e adicionando de forma gradual a solução de água com hidróxido de sódio sob agitação constante, ou seja, misturando todos os reagentes. “Seguindo esse protocolo, todas as baianas realizaram a preparação com sucesso”, conta.

As Baianas

As senhoras do azeite são donas de um legado de ancestralidade cultural das escravas de ganho ou ganhadeiras, que ainda no período colonial dominavam a comercialização de produtos perecíveis em Salvador e outras cidades.

“O trabalho de ganho possibilitava certa autonomia no contexto tão opressor da escravidão. Elas sempre foram preocupadas com a própria independência e esse protagonismo feminino no comércio de rua, já era visível na África nos Mercados Nagô do Baixo Daomé”, afirma o produtor cultural Vagner Rocha, que se dedica a pesquisas sobre o tema.

“Era já um hábito das mulheres iorubanas, por exemplo, sair de casa para fazer circuitos dos mercados. E mesmo na situação de escravidão, quando chegaram no Brasil, elas deram continuidade a essa tradição africana”, acrescenta Rocha.

Na próxima segunda, 10, às 19 horas, ocorrerá o debate “Baianas de acarajé: patrimônio, resiliência e economia circular” do projeto Polêmicas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além dos citados, estarão presentes Rita Santos da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, o vereador André Fraga e a professora do Instituto de Ciências da Saúde da Ufba Angela Rocha.

Ofertada desde 2003, Polêmicas Contemporâneas é uma disciplina-evento regular  do Departamento de Educação II, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia e coordenada pelo professor Nelson Pretto.

A transmissão é aberta e livre. Para mais informações acesse: www.polemicas.faced.ufba.br/.

Fabio de Souza, projeto Sê Livre/UFBA, estudante de Comunicação da FACOM/UFBA.

*Este texto faz parte do projeto “Polêmicas contemporâneas”, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A Agência Sertão atua como veículo parceiro na divulgação dos conteúdos.

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