O Instituto Cigano do Brasil (ICB), entidade que reúne lideranças das etnias ciganas no país, emitiu nota demonstrando preocupação e pedindo intervenção das autoridades contra a repressão que comunidades da região de Vitória da Conquista estão passando após a morte de dois policiais no distrito de José Gonçalves.
O ICB afirma que não compactua e repudia todo ato de violência, de qualquer ordem ou origem, mas que não irá aceitar que os ciganos inocentes sejam vítimas de ação truculência absurda e desnecessária. “Os criminosos devem responder na justiça pelos seus atos”, diz a nota.
Além das mortes já confirmadas de ciganos suspeitos de envolvimento com o crime, a entidade alega que vários carros de famílias ciganas foram queimados e casas foram invadidas sem autorização judicial. “Uma comunidade inteira não pode pagar por crimes de alguns de seus membros. Assim, exigimos que todos os órgãos públicos e de direitos humanos interfiram imediatamente nesta situação, garantindo o direito à vida de todos os ciganos que moram em Vitória da Conquista e cidades do Estado da Bahia”, reforça o ICB.
A Polícia Militar afirma que a corporação age dentro dos limites da lei e que há informações que foram os próprios autores do crime os responsáveis por incendiar carros e casas antes de fugirem. O objetivo destruir documentos ou provas que podoriam identificá-los ou ajudar a descobrir eventuais esconderijos.
A tensão foi iniciada na terça-feira (13), após dois policiais serem mortos enquanto faziam trabalho de inteligência no referido distrito. Eles foram surpreendidos por homens que chegaram atirando e logo em seguida fugiram em carros, levando as armas e os celulares dos policiais.
Desde então, a polícia tem desprendido esforços para encontrar os suspeitos, todos pertencentes a uma família de ciganos. Um dos envolvidos foi preso no mesmo dia após dar entrada na emergência do Hospital Geral de Vitória da Conquista (HGG).
Outros três morreram em confronto com a polícia. A primeira morte aconteceu no mesmo dia, no povoado de Lagoa de Flores. Já manhã desta quarta-feira (14), policiais da Companha Independente de Policiamento Especializado (CIPE/Central) entraram em confronto com uma dupla de criminosos, após terem fugido de um bloqueio montado na região. Eles atiraram contra os policiais que revidaram, foram feridos e não resistiram.
Durante a noite, um adolescente de 14 anos, pertencente a mesma família dos suspeitos, foi baleado dentro de uma farmácia no Centro de Vitória da Conquista. Ele chegou a ser socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas acabou morrendo no hospital. Ele foi atingido por homens que chegaram ao local a bordo de uma motocicleta.
Segundo o delegado Cléber Rocha Andrade, titular da Delegacia de Homicídios (DH) de Vitória da Conquista, um dos filhos do cigano recebeu informações através do Whatsapp que dois homens procuravam o local e alertou o pai. “Depois que o pai soube da presença dos PMs na região, ele saiu com outros filhos, identificaram e cercaram o carro dos PMs”, contou.
Buscas
As operações para encontrar os autores do duplo homicídio seguem em andamento. A Polícia Militar informou que os pontos de bloqueio e cerco policial continuam na Zona Rural de Vitória da Conquista e em toda Região Sudoeste do Estado para encontrar os criminosos que vitimaram os policiais.
A operação conta com tropas especializadas da PMBA, cães farejadores, helicópteros do Graer, drones, e de outras forças de segurança.
A polícia pede para que a população denuncie caso saibam do paradeiros dos foragidos.
Veja trecho da nota do ICB
O Instituto Cigano do Brasil-ICB, não compactua com nenhum tipo de violência e repudiamos todo ato de violência, de qualquer ordem ou origem. Sempre vamos defender o amplo diálogo, não iremos aceita que os Ciganos inocentes sejam vítimas de ação truculência absurda e desnecessária. Os “criminosos” devem responder na justiça pelos seus atos.
O presidente do ICB e membro consultivo da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB/CE, o Cigano Rogério Ribeiro, deixa claro que a instituição repudia toda e qualquer ação de violência por policiais motivadas por operações de vingança com mortes deixando rastro de impunidade. Já estamos em contato para auxiliar no que for necessário e, com certeza não iremos medir esforços, juntamente com as autoridades competentes.
Uma boa polícia é uma polícia que atua com o máximo de inteligência e com o mínimo de violência, que previne danos, ao invés de causá-los, que é respeitada, não temida, que atua conforme a lei, não contra a lei.