Tatiane dos Santos da Silva, 21, vendedora e jogadora de futebol do time local, é uma das personagens da série que discute em oito minidocumentários e reportagens especiais, diferentes aspectos da violência contra a mulher no Brasil. O conteúdo é produzido por jornalistas da Folha.
A história de Tatiane é mais um caso de violência sexual contra crianças e adolescentes na Região de Vitória da Conquista, onde estão 9 dos 27 pontos críticos vulneráveis à exploração sexual de menores do trecho baiano da BR-116, embora as violências foram sofridas dentro de casa, pelo próprio pai.
A reportagem da Folha conta que a então adolescente bateu às portas do Conselho Tutelar Rural em maio de 2017, quando fugiu do jugo paterno no povoado de Inhobim. “Ela chegou com várias lesões no corpo, uma cartela de anticoncepcional e provas de que vivia como mulher do pai desde os sete anos”, relata Joyce Fonseca, conselheira que acompanhou a adolescente nos serviços de acolhimento do município.
Após cinco anos, Tatiane começa a viver com as próprias pernas. É atacante do time de futebol local, acaba de concluir o ensino médio, está terminando o curso técnico de Segurança do Trabalho. Ela sonha em ganhar fama nos campos e ser advogada para ajudar outras vítimas de violência sexual.
“Usei o esporte a meu favor. Cada chute que eu dava na bola, menor era a dor eu sentia. Foi um jeito de lidar com essa mágoa, esse sentimento ruim”, diz ela, que viu o pai ser condenado a 26 anos de prisão.
Despois de denunciar o pai ao Conselho Tutelar, Tatiane foi encaminhada para o centro de acolhimento do município, onde ficou por dois anos. Ele permaneceu por mais dois anos e meio em outro abrigo público até completar 21 anos e ganhar autonomia. “Antes de eu chegar no abrigo, a Tatiane de antes, era uma Tatiane sem chão, que não sabia onde andar, que se sentia perdida no meio do mundo”, disse.
No documentário, a atleta da detalhes de como foram os dez anos de abusos. “Chegou um momento que eu pensei que eu nasci para viver aqui, eu pensei que era normal, que era a vida, que a vida era assim. Quando eu completei meus catorze anos e meio, ele virou para mim e falou que eu não era para ter namorado nenhum, que não era para eu ter amigos nem do sexo masculino e nem feminino. Ele falou que a partir daquele momento eu seria a esposa dele, que eu seria a mulher dele”, diz.
Tatiane disse que tomou conhecimento que sofria abuso sexual aos dez anos, após uma palestra na escola, no então passou anos com medo com dificuldades para denunciar o pai agressor, devido à falta de apoio das pessoas próximas que não acreditavam no que ela dizia.
A reportagem especial também falou do Complexo de Escuta Protegida, inaugurado em agosto em Vitória da Conquista. Usando nomes fictícios, foi mostrado como funciona o fluxo de atendimento do órgão, criado para proporcionar uma experiência menos traumática para as vítimas e mais efetiva para punir os agressores.
O telefone 180 é usado para receber denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. O serviço funciona em todo o país e faz orientações sobre como proceder em caso possíveis crimes.
Veja mais na reportagem da Folha
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