O aumento de quase um real no preço da gasolina ocorrido neste sábado (5) não afeta consumidores de todo o país. Ao contrário da Acelen, empresa pertencente ao fundo árabe Mubadala, a Petrobras ainda não promoveu reajustes recentes no valor dos combustíveis.
A empresa administra a antiga Refinaria Landulpho Alves Mataripe (RLAM) desde novembro, quando a Petrobras concluiu a privatização. Esta é a primeira refinaria nacional de petróleo do país, e a primeira privatizada pela Petrobras. Com a venda, a unidade passou a se chamar apenas Refinaria de Mataripe.
Os combustíveis produzidos por esta refinaria são distribuídos aos postos da Bahia e Sergipe. Nestes estados, o valor médio da gasolina estava abaixo de R$ 7. Com o reajuste, vários postos já estão comercializando o produto com preço superior a R$ 8, como no caso da cidade de Guanambi, onde o produto está sendo encontrado por até R$ 8,17.
Desde novembro, os preços dos combustíveis comercializados na Bahia não seguem mais os valores estipulados pela Petrobras. De janeiro até o início de março, foram cinco reajustes no preço da gasolina, contra apenas um da estatal, que também deve promover reajustes em breve devido à pressão de importadores e acionistas.
O valor pago pelo fundo Mubadala foi de US$ 1,65 bilhão, o que na época correspondeu a quase R$ 10 bilhões. Com a privatização, o monopólio do refino que era estatal passou a ser privado para os consumidores baianos e sergipanos.
Sindicombustíveis se posiciona*
Segundo o Sindicato do Comércio de Combustíveis, Energias Alternativas e Lojas de Conveniência do Estado da Bahia (Sindicombustíveis Bahia), a gasolina A — produzida pelas refinarias de petróleo e entregue diretamente às companhias distribuidoras — teve aumento de R$ 0,6226 e o ICMS aumentou R$ 0,2921.
Já o diesel S10 teve alteração de R$ 0,8720 e o aumento do ICMS do biodiesel S10 vai ter acréscimo de R$ 0,2366. Enquanto o aumento do diesel S500 é de R$ 0,9186 e do ICMS do biodiesel S500 é de R$ 0,2454.
“A Acelen não vem praticando o congelamento do ICMS, determinado pelo Governo do Estado da Bahia, e o imposto representa hoje um custo de R$ 2,2442 por litro da gasolina C”; de R$ 1,3462 no litro do biodiesel S10, e de R$ 1,3196 no litro do biodiesel S500”, diz o presidente do Sindicombustíveis Bahia, Walter Tannus Freitas.
Ainda de acordo com a Sindicombustíveis Bahia, foi apresentado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE, uma representação por possível abuso de poder econômico por parte da Acelen.
De acordo com os documentos apresentados ao CADE, a Acelen vem praticando, na Bahia, preços substancialmente maiores do que os que ela própria pratica para venda a outros Estados, como Alagoas, Maranhão e até mesmo Amazonas.
Segundo Walter Tannus Freitas, as diferenças em relação à gasolina A, que em fevereiro era de R$ 0,30 o litro em relação às demais refinaria, com este novo aumento passa a ser acima de R$ 0,95. No caso do diesel S10, que era de R$ 0,28, hoje, está em R$ 1,14 o litro.
Posicionamento da Acelen
Em nota, a Acelen afirmou que os preços dos produtos produzidos pela Refinaria de Mataripe seguem critérios de mercado que levam em consideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete.
Segundo a Acelen, nos últimos dez dias, com o agravamento da crise gerada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, o preço internacional do barril de petróleo disparou, superando os US$115 por barril, o que gerou impacto direto nos custos de produção.
Além disso, afirma que há uma defasagem no preço dos combustíveis do país, e que portanto existirão diferenças nos preços regionais.
Quando a denúncia ao CADE, indicada pelo Sindicombustíveis Bahia, a empresa diz que ainda não foi notificada e que era se manifestar caso venha a acontecer.
Leia a nota na íntegra:
“A Acelen informa que os preços que pratica são resultado da aplicação dos contratos firmados com seus clientes, os quais trazem uma fórmula de preços objetiva e transparente, que foi longamente discutida com os próprios clientes, aprovada pela agência reguladora, e reconhecida por todos como uma importante evolução em comparação com a prática que havia até então de preços fixados subjetivamente pelo fornecedor dominante.
Tais preços seguem critérios de mercado que levam em consideração diversas variáveis, sendo a principal delas, é claro, o custo do petróleo, que é adquirido pela Acelen considerando suas cotações internacionais. Como é sabido, nos últimos dez dias, com o agravamento da crise gerada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, o preço internacional do barril de petróleo disparou, superando os US$115 por barril, o que gerou impacto direto nos nossos custos de produção.
É sabido, de outro lado, que existe uma defasagem importante de preços dos combustíveis em todo o país, conforme vem sendo amplamente noticiado pela imprensa nos últimos dias. Isso significa que existirão diferenças de preço regionais, como se verifica agora.
A Acelen acredita que o país precisa ter um setor de combustíveis saudável e competitivo, com preços ajustados à realidade, sob pena de haver risco de desabastecimento e desincentivo a novos investimentos no setor. Momentos como o atual refletem o amadurecimento geral do setor, que vai passar cada vez mais por discussões pioneiras, resultantes da reconfiguração que se dá a partir da entrada de novos agentes como a Acelen.
Quanto a suposta denúncia ao CADE, a empresa não foi notificada. Quando/se o for, iremos nos manifestar.”
Sobre o ICMS
Ainda em nota, a Acelen afirmou que aguarda uma resposta da Secretaria de Fazenda da Bahia (Sefaz-BA) quanto a aplicação do congelamento de ICMS.
“A Acelen informa que ainda aguarda resposta ao ofício enviado para a Secretaria de Fazenda da Bahia (Sefaz-BA) pedindo esclarecimento sobre a aplicação do congelamento de ICMS cobrado por substituição tributária. A empresa aguarda um posicionamento definitivo da Sefaz sobre a metodologia de apuração do ICMS a ser aplicado aos combustíveis.
Para evitar recolhimento a menor e também, mitigar impactos sobre os preços aplicados, a Acelen está em contato com seus clientes oferecendo apoio para decisão do modelo de aplicação excepcional até resultado final da Sefaz”.
PPI
Desde 2016, a Petrobras deixou de levar em consideração seus custos de produção para implementar a política de Preço de Paridade de Importação (PPI). A composição do valor dos combustíveis desde então é baseada no preço internacional do barril de petróleo e os combustíveis passam por reajustes sempre que ocorre oscilações na cotação do dólar e da commodity.
Mesmo com os custos de produção sendo majoritariamente nacionais, o brasileiro sofre com as oscilações de preços no mercado internacional.
Em fevereiro, a Petrobras pagou aos acionistas a quantia de R$ 37,3 bi em dividendos. O lucro da Petrobras subiu 1.400% no ano passado e chegou a R$ 106,6 bilhões.
*Com informações do IBahia