As últimas comportas ainda abertas da Usina Hidroelétrica de Três Marias foram fechadas nesta quarta-feira (9), após 54 dias do início da abertura para controle das cheias do rio São Francisco e de seus afluentes.
Toda vazão deflunete está passando pelas turbinas de geração de energia elétrica, totalizado 760 metros cúbicos por segundo (m³/s) no leito do rio São Francisco. Já a afluência está pouco superior a 1.000 m³/s.
O volume útil do reservatório superou novamente a marca de 92% e deve fechar o período chuvoso próximo de 100% com a confirmação das chuvas previstas até meados de abril, assim como ocorreu em abril de 2020, última vez que a marca quase foi alcançada.
A trajetória de queda no volume começou no início de novembro, quando o reservatório chegou a 33,89% de sua capacidade. Com as chuvas intensas no Alto São Francisco no fim de dezembro e início de janeiro, o percentual subiu rapidamente, chegando a 80% em 14 de janeiro, quando as comportas começaram a ser abertas, e a 93,9% no dia 20, quando as chuvas diminuíram e foi iniciado o primeiro processo de esvaziamento.
Entre as chuvas do início de janeiro e de meados de fevereiro, houve diminuição na defluência, que chegou a 3.000 m³/s, no entanto, as comportas não ficaram totalmente fechadas em nenhum momento. Em 20 de fevereiro, o volume superou novamente os 93%.
Recordes registrados em 2022
Dois recordes foram registrados em 2022 no reservatório de Três Marias. De acordo com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a vazão afluente registrada no dia 13 de janeiro foi a maior em quase 60 anos de operação da hidroelétrica.
Foram quase 9.000 m³/s de média de água chegando no lago, superando a marca anterior, 1983, 1997, 1992 e 1979 (anos das maiores cheias verificadas na região).
Outra marca quebrada com a cheia de 2022 foi o volume último alcançado em janeiro, o maior para o mês também em toda a história da usina. Com muitas secas neste período, o número de peixes na bacia diminuiu de forma drástica e aparentemente houve recuperação com as cheias de 2020 e 2022.
A abertura das comportas de Três Marias mudou as paisagens à jusante no rio São Francisco. Em Pirapora, o fenômeno que da nome à cidade foi novamente registrado depois de mais de 15 anos.
A diminuição da vazão já reflete no trecho do rio na cidade e revela a fartura de peixes. Um vídeo divulgado esta semana nas redes sociais mostra cardumes encalhando nas margens do rio, gerando grande expectativa de fartura de pescados no decorrer do ano.
O controle da cheia do rio São Francisco a partir da hidroelétrica também foi importante na preservação do Vapor Benjamin Guimarães, ancorado às margens do rio em Pirapora para ser restaurado. A Cemig controlou a abertura das comportas de forma assíncrona às cheias do rio Abaeté, que deságua no rio São Francisco pouco abaixo da barragem.
Cheia
A cheia do rio São Francisco registrada em fevereiro a partir de Três Marias atingiu níveis muito próximos dos registrados em janeiro em todo o Norte de Minas e nas primeiras cidades da Bahia, como Carinhanha e Malhada. Nesta localidades, o nível do rio atingiu 8,16 metros (m) na última sexta-feira (4), apenas quatro centímetros a menos do que a marca anterior.
Em Bom Jesus da Lapa, a segunda cheia superou o nível da primeira em 10 centímetros, chegando à cota de 9,30 metros. De acordo com dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), o Velho Chico continuará cheio pelos próximos dias em seu trajeto até o reservatório da barragem de Sobradinho.
Enquanto o rio segue em elevação na Bahia, em Minas Gerais ele vem reduzindo consideravelmente com o fechamento das comportas em Três Marias. Até o município de São Francisco, o rebaixamento foi de aproximadamente quatro metros.
Sobradinho
A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) anunciou, hoje (7), a redução da vazão a partir das Usinas Hidrelétricas de Sobradinho (BA) e Xingó (SE) dos atuais patamares de 4 mil metros cúbicos por segundo (m³/s) para 3.500 m³/s, na próxima quinta-feira (10), chegando a 3.000 m³/s no sábado, dia 12.
O reservatório de Sobradinho encontra-se atualmente com mais de 83% de seu volume útil e tem previsão de atingir 100% até final de abril, quando encerra o período úmido na Bacia.
Programação da vazão
10/03 – 3.500 m³/s
12/03 – 3.000 m³/s
A redução se dá por conta da diminuição na incidência de chuvas no alto São Francisco e da necessidade de manutenção dos níveis dos reservatórios na Bacia do São Francisco, diante da aproximação do final do período úmido, entre final de abril e início de maio. A vazão de 3.000 m³/s deve permanecer neste patamar até nova avaliação.
A Chesf ressalta que a situação hidrológica da Bacia do São Francisco (e demais bacias onde possui Usinas e reservatórios) é permanentemente monitorada, podendo haver alterações das vazões praticadas, conforme sejam as necessidades de geração de energia apresentadas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) ou a alteração dos volumes pluviométricos nas regiões.
A Companhia chama atenção, ainda, para a importância da não ocupação das áreas no leito do Velho Chico, haja vista eventual aumento no nível do Rio, durante o período úmido.