As balsas e lanchas, principais formas de ligação entre várias localidades do Norte de Minas Gerais nas travessias pelo rio São Francisco, podem perder a importância nos próximos anos.
Além de serem mais lentas, elas dependem das condições meteorológicas em sua operação, seja por períodos de seca ou por conta das cheias.
Isso porque existem projetos em andamento para construção de três pontes sobre o rio conhecido como da integração nacional, mas que ainda divide cidades irmãs sem ligação rodoviária.
O Jornal O Norte publicou a matéria “Norte sem Pontes“, detalhando a situação dos projetos, frutos de um acordo com a mineradora Vale por reparação pelo rompimento da barragem de rejeitos da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Central de Minas Gerais, ocorrido em 2015.
Eles estão inclusos no programa Provias, anunciado pelo governo mineiro, prevendo intervenções em 100 rodovias estaduais, com investimento total de R$ 2 bilhões.
Em uma distância de quase 500 quilômetros de leito, entre as cidades de Pirapora, em Minas, e Carinhanha, na Bahia, o Velho Chico é cortado por apenas uma ponte, entre os municípios de Januária e Pedra de Maria da Cruz, inaugurada em 1996.
É neste trecho do rio que estão previstas as novas pontes. Elas ligarão São Romão a Ubaí, na MG-202, além de São Francisco a Pintópolis, na MG-402, e os municípios de Matias Cardoso, na MG-401, e Manga, na BR-135, já na divisa com a Bahia.
Apenas a ponte da MG-402 teve as obras iniciadas em maio de 2022, as outras duas ainda estão em fase de projetos. Além de facilitar a ligação entre o Norte e o Noroeste de Minas, ela também servirá como mais um canal de escoamento de cargas entre as regiões Centro-Oeste e Nordeste do país, e de acesso à Brasília, no Distrito Federal.
Com 1.120 quilômetros de extensão e cerca de 13,8 metros de largura, a estrutura tem vão de navegação de 240 metros, outros vãos menores, de 40 metros, e pilares centrais de 15 metros de altura. O investimento é de R$ 113 milhões e o prazo para execução é de 24 meses.
O Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) informou em nota que também está prevista a construção de um acesso ao rio de aproximadamente 3 quilômetros, aumentando o investimento para R$ 170 milhões.
Manga a Matias Cardoso
O DER-MG também atualizou a situação da ponte entre Manga e Matias Cardoso, com projeto técnico previsto para ser finalizado em fevereiro. Com a finalização, as obras ficarão aptas a serem orçadas e licitadas e para que a contratação de empresa de execução dos serviços seja realizada.
Nesta fase, o investimento é de R$ 2.469.189,00. O projeto de engenharia objetiva implantação, melhoramentos, pavimentação e obras de artes nos entroncamento MGC-135 (Manga) ao porto de Matias Cardoso e variante na rodovia MG-401
São Romão e Ubaí
A obra da ponte ligando São Romão a Ubaí é a que deve demorar mais tempo para ser iniciada.
Um edital no valor de R$ 3.480.873,77 foi lançado para a contratação de empresa de engenharia para a elaboração dos projetos dos acessos e da ponte lingado a MG-292, no entroncamento com a MG-161, em São Romão, com o entroncamento com a MG-161, no Porto da cidade. A ponte e o acesso terão aproximadamente 5,5 km.
Fator histórico
O Norte ouviu o historiador Rodrigo Teles, com graduação na Unimontes e especialização em Gestão de Projetos. Ele é o Atual secretário de Desenvolvimento Social de São Francisco e acredita que “a ponte significa esperança no imaginário da população ribeirinha norte-mineira, sinônimo de desenvolvimento socioeconômico, pois a ligação entre o Norte e Noroeste com a capital brasileira vai favorecer melhor escoamento da produção local e regional”.
O historiador explica tratar-se de realização de um sonho antigo, “porque quando da transferência da capital da República para o Planalto Central, em 1960, a cidade do Norte de Minas que até então se chamava Brasília, vizinha de São Francisco, cedeu o nome para a capital brasileira, tendo na época acrescido o Minas em seu nome”.
Relata que o entendimento, “conhecido como Acordo das Cidades Irmãs, foi endossado na época por personalidades ilustres, como o arquiteto Oscar Niemeyer, através do qual, em troca do nome, seria construída uma estrada para ligar Brasília de Minas a Brasília (DF), que necessitaria de uma ponte em São Francisco”.
Na opinião de Rodrigo Teles, na medida em que São Francisco foi se desenvolvendo, a ponte passou a ser mais importante ainda, “porque estabeleceu-se uma extensão territorial rural muito grande, de modo que para atravessarem o rio as pessoas utilizam apenas lanchas e barcos, deslocamento fluvial rudimentar”, que implica tempo de espera grande e que, com freqüência, quebra e precisa de reparos.
Para o secretário de Desenvolvimento Social de São Francisco, a ponte e a pavimentação de trecho de 73 km entre Pintópolis e Urucuia vão mudar a economia regional.
Mas ele acredita que o uso dos barcos permanecerá, porque São Francisco tem extenso território às margens do rio. E a população ribeirinha prosseguirá com os deslocamentos entre uma margem e outra, como meio de subsistência.
“Somos um dos municípios com maior concentração de pescadores na região, sem contar que a cidade atrai muitos turistas que buscam a experiência de fazer a travessia a barco”.